Estudantes em todo o País que participarão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre nos próximos domingos, 9 e 16 de novembro, recorrem à tecnologia para otimizar o tempo, revisar conteúdos e aprimorar a redação. O uso da inteligência artificial (IA) se tornou uma estratégia comum entre candidatos que buscam apoio personalizado nos estudos. Educadores, no entanto, alertam: a IA pode ser uma grande aliada, desde que não substitua o pensamento crítico e o esforço individual.
De acordo com Patricia da Costa Madeira Lara, professora de Língua Portuguesa e Literatura do Mackenzie, o uso da IA nesta reta final pode ser decisivo, principalmente para organizar os estudos e aprimorar a redação. A professora reforça que ferramentas como ChatGPT, Gemini e Grok, por exemplo, podem ajudar os estudantes a organizar elementos de estudo, elencar possíveis temas de redação e avaliar os próprios erros cometidos na produção textual.
"A IA é uma grande aliada na organização do pensamento. Os alunos que sabem usar as ferramentas conseguem auxílio para correções. Uma dica é utilizar um bom prompt, bem estruturado, para que a IA forneça sugestões de melhoria na própria redação. A inteligência artificial pode ajudar a levantar os principais conteúdos de prova, os tópicos mais importantes a serem estudados, e o aluno pode ver o que é possível revisar na última semana e compilar o que é primordial estudar dentro desse curto período", explica.
O prompt citado pela professora é o comando dado a um sistema, como os chatbots. Ele pode ser em texto, áudio ou até com documentos. Quanto mais claro e completo, melhor será a resposta da IA. Dessa forma, é possível pedir que as ferramentas utilizem os métodos de correção aplicados no Enem para identificar erros cometidos na redação, além de avaliar o desempenho em provas-teste.
"A inteligência artificial é uma aliada e pode mostrar os caminhos, mas não pode escrever por você, principalmente no dia do Enem. Escrever e raciocinar é um processo constante, que exige resiliência e prática. A tecnologia é uma aliada que pode contribuir positivamente para a maratona de cinco horas e meia que é o Enem", afirma Patricia.
Outras possibilidades oferecidas pelas ferramentas são a criação de cronogramas personalizados de estudo, mapas mentais para memorização e explicações detalhadas de determinados conteúdos. Entretanto, é preciso saber questionar as respostas recebidas das ferramentas.
Segundo Rosa Maria Viccari, professora do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apesar de benéfica para a organização dos estudos, existe o risco de que os estudantes deleguem parte do raciocínio à inteligência artificial.
"A IA é uma tecnologia cognitiva e podemos acabar delegando parte do nosso raciocínio a ela. Existe o risco de dependência dessas ferramentas: muitos estudantes, antes de pensarem em como resolver um problema, perguntam diretamente à IA formas de resolvê-lo. Delegam seu raciocínio à IA e, se por um lado a inteligência artificial aumenta algumas de nossas habilidades, por outro, ela pode utilizar nossos dados para aprender, raciocinar, tomar decisões e influenciar nossas escolhas. Precisamos ser educados para usar a IA de forma consciente, crítica, com propósito e ética", pontua.
Além disso, habilidades humanas como análise, raciocínio e argumentação são avaliadas em provas como o Enem. Por esse motivo, segundo a professora, a IA pode contribuir para a forma de estudar, mas o olhar humano continua sendo um diferencial. Dessa forma, o trabalho conjunto entre professores e alunos pode garantir que as ferramentas sejam utilizadas no desenvolvimento do aprendizado e na preparação para as avaliações.
"A IA gera redações, como as do Enem, padronizadas e razoáveis. Ou seja, essas redações podem garantir uma boa nota, não a melhor, nem a pior. Mas há uma forma de utilizar a IA no ensino: os estudantes podem se desafiar a criar textos melhores do que os da IA. Podem usar textos gerados pela IA para identificar falhas na composição, como verificar se a ideia central está bem argumentada ou se o contexto está muito genérico", avalia.
Como usar a IA a favor dos estudos na reta final do Enem
? Peça à IA para montar um cronograma de revisão com base nas matérias em que você tem maior dificuldade;
? Utilize a IA para fornecer possíveis temas de redação;
? Escreva redações-teste e peça para a IA simular a correção com base nos critérios do Enem;
? Solicite resumos ou mapas mentais sobre temas já estudados, para reforçar conteúdos em que você tem maior familiaridade;
? Evite pedir respostas prontas; prefira prompts que estimulem o raciocínio e o desenvolvimento próprios;
? Crie simulados personalizados com a IA para treinar tempo de prova e identificar pontos fracos;
? Use a IA para gerar perguntas de revisão rápidas (flashcards ou quizzes) e testar seu conhecimento de forma interativa;
? Peça explicações detalhadas sobre erros cometidos em exercícios, ajudando a entender a lógica e evitar repeti-los.