É falso que Fux tenha dito que Bolsonaro será solto e se candidatará à Presidência

VÍDEO FEITO COM IA CLONOU VOZ DO MINISTRO DO STF QUE VOTOU CONTRA A CONDENAÇÃO DO EX-PRESIDENTE POR GOLPE DE ESTADO

4 dez 2025 - 16h36

O que estão compartilhando: que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux disse que daria sua palavra de que o ex-presidente Jair Bolsonaro "será solto e irá concorrer à Presidência" da República.

Foto: Reprodução/Facebook / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O conteúdo foi gerado com o uso de inteligência artificial. Apesar de ter dado um voto divergente no julgamento da trama golpista, não há registro de que Fux tenha afirmado que Bolsonaro será solto e que será candidato à Presidência.

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Saiba mais: O ministro do STF Luiz Fux foi o único dos magistrados da Primeira Turma - responsável pelo julgamento da trama golpista - a votar contra a condenação dos réus. Em um voto de 13 horas de duração, ele argumentou que o STF não tinha competência para julgar Bolsonaro e defendeu a nulidade de todas os atos do processo, o que resultaria na absolvição do ex-presidente.

Desde que o voto foi proferido, em 10 de setembro, apoiadores do ex-presidente vêm espalhando desinformação usando o nome do ministro. O vídeo atual, que circula no Facebook, acumula 242,5 mil visualizações na rede social.

Fux não é único ministro 'concursado' no STF; oito dos 11 ocuparam cargos com aprovação em concursos

Vídeo foi feito com inteligência artificial

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O conteúdo que circula entre apoiadores do ex-presidente usa IA para clonar a voz de Fux e sincronizar o movimento dos lábios dele com a fala. A declaração, contudo, é falsa e não foi encontrada em nenhuma fonte confiável.

Segundo o vídeo, Fux teria dito: "O Bolsonaro será solto e vai concorrer à Presidência. Eu dou minha palavra como ministro do STF. Se você apoia o Bolsonaro e quer ver ele solto, comente de onde está assistindo e clique em todos os botões ao lado".

Esta é uma tática que vem sendo usada nas redes sociais em conteúdos com teor político: um vídeo mostra imagens de uma personalidade da política, cultura ou esporte, mas clona a voz da pessoa para simular apoio a um determinado grupo partidário. Em seguida, a mesma voz pede para clicar nos "botões ao lado", ou seja, para curtir, comentar e salvar o post. Isto aumenta o engajamento e o alcance da publicação.

É possível identificar que o vídeo foi feito com IA por conta de diferentes características. Primeiramente, a fala do ministro não tem um tom natural: ele fala sem pausas. Também causa estranheza o fato de Fux pedir para que o espectador faça comentários no vídeo. Outro ponto de atenção é que as roupas do magistrado parecem ser as mesmas do voto dele no julgamento da trama golpista, em 9 de setembro.

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O Verifica submeteu o conteúdo à ferramenta Hiya, do InVID, que detectou clonagem de voz em 98% da fala. Um conteúdo é geralmente considerado criado com IA quando a detecção é superior a 70%.

Bolsonaro recorreu ao STF, mas especialista não vê chance de reverter resultado

No dia 22 de novembro, Bolsonaro foi preso após tentar violar a tornozeleira eletrônica que o monitorava em prisão domiciliar. Três dias depois, o STF concluiu o processo da trama golpista e começou a execução da pena do ex-presidente. Por enquanto, ele segue preso em uma sala especial da Polícia Federal, em Brasília.

No último dia 28 de novembro, a defesa de Bolsonaro apresentou os chamados embargos infringentes ao STF, pedindo a nulidade do processo que o condenou por golpe de Estado e a absolvição. Os advogados citaram o voto de Fux na argumentação.

No entanto, a jurisprudência do STF tem sido no sentido de que os embargos infringentes só são cabíveis quando há pelo menos dois votos contrários à condenação. No caso de Bolsonaro, o único voto divergente foi o de Fux, e o placar foi de 4x1 pela condenação.

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Para o advogado Alberto Rollo, especialista em direito eleitoral, não há qualquer chance jurídica de Bolsonaro ser candidato em 2026.

"Hoje, Bolsonaro tem duas inelegibilidades do TSE, mais uma inelegibilidade junto com suspensão de direitos políticos no STF. A única possibilidade dele ser candidato é ganhar os três recursos", afirma.

Segundo Rollo, os dois recursos do TSE estão no STF para julgamento e o ex-presidente não terá maioria para reverter o resultado. "Mesmo assim, alguém pode pedir vistas e deixar para terminar o julgamento após a eleição", disse, lembrando que esses recursos são julgados pelo plenário.

Sobre o inquérito do golpe, o processo já transitou em julgado no STF. "As novas medidas são muito mais difíceis. E isso também vai demorar e passar a eleição. Não vejo qualquer chance jurídica de ele ser candidato", pontuou.

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