O primeiro mês de prisão de Jair Bolsonaro foi marcado por tensão familiar devido a desentendimentos políticos entre seus filhos e Michelle, além de preocupações com sua saúde e pedidos de benefícios, como alimentação especial e prisão domiciliar humanitária.
No dia 22 de novembro de 2025, Jair Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente pela Polícia Federal em Brasília por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A detenção ocorreu após o ex-presidente, que estava em prisão domiciliar desde 4 de agosto, violar sua tornozeleira eletrônica.
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Mas a prisão preventiva se tornou definitiva em 25 de novembro, quando o STF encerrou o julgamento da trama golpista e determinou o cumprimento imediado da pena aplicada a Bolsonaro, que foi fixada em 27 anos e três meses.
Por causa das condições de saúde do ex-presidente, Moraes permitiu o cumprimento da pena em uma sala especial da Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Regras de visitação
As visitas no local obedecem às regras estabelecidas pela Portaria SR/PF/DF nº 1104, de 28 de março de 2024. Conforme esse regulamento, os familiares só podem ver o ex-presidente às terças e quintas-feiras, entre 9h e 11h. Cada encontro tem duração máxima de 30 minutos. Apenas dois parentes podem visitá-lo por dia, mas em momentos separados.
Há apenas uma exceção: a filha mais nova de Bolsonaro, Laura. Por ser menor de idade, ela está autorizada a ingressar acompanhada de Michelle Bolsonaro. Todas as visitas precisam ser aprovadas previamente por Alexandre de Moraes, que agenda cada data individualmente.
Além da família, Bolsonaro também pode receber atendimento de seus médicos. Os profissionais já registrados no processo têm permissão permanente para entrar, desde que sigam os procedimentos exigidos pela Polícia Federal, sem necessidade de novo aval do Supremo.
As regras são as mesmas para a equipe jurídica do ex-presidente: os advogados podem acessar o local livremente, sem autorização prévia, bastando cumprir os protocolos internos da Superintendência.
Visitas apenas de familiares
Desde que foi detido, Bolsonaro já recebeu visitas de Michelle e dos filhos --Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Jair Renan (PL-SC) e a filha caçula, Laura Bolsonaro. A ex-primeira-dama foi quem mais o visitou desde a prisão. Em 4 de dezembro, ela esteve com o marido acompanhada de Laura, que viu o pai pela primeira vez no presídio.
Flávio, com ao menos três visitas, foi o segundo familiar que mais esteve com Bolsonaro. Já Jair Renan e Carlos realizaram uma visita cada.
Após as visitas da família, Carlos Bolsonaro afirmou a jornalistas que Bolsonaro está “devastado psicologicamente”. O filho do ex-presidente também criticou o fato de a visita ao pai ter sido “cronometrada” e durado apenas “30 minutos”. Segundo o vereador, o pai está “extremamente sensível”. Também foi após uma visita ao pai que Flávio disse ter sido escolhido para ser o candidato do PL à Presidência da República, ou seja, o sucessor do pai nas próximas eleições.
Paralelamente, a defesa solicitou ao STF a ampliação das regras de visitação, pedindo que Michelle e os filhos ficassem previamente cadastrados para visitas regulares, sem a necessidade de autorizações semanais. O Supremo, porém, ainda não concedeu esse pedido.
1º mês de prisão quase provoca racha na família Bolsonaro
A disputa por espaço político dentro da família Bolsonaro, intensificada após o ex-presidente começar a cumprir pena, veio a público depois de tensão nos bastidores. Com foco na herança eleitoral do pai, Flávio, Eduardo e Carlos uniram forças para criticar Michelle, acusando-a de interferir na articulação política no Ceará. Para eles, ao reprovar a aliança do deputado André Fernandes (PL-CE) com Ciro Gomes (PSDB), Michelle teria desobedecido uma orientação direta do marido.
A crise começou após a ex-primeira-dama viajar ao Ceará para participar do lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo e, durante o evento, criticar a aproximação entre Fernandes, o PL e Ciro -- que deixou o PDT há quase dois meses para se filiar ao PSDB.
"É sobre essa aliança que vocês precipitaram a fazer. Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita (Jair Bolsonaro), isso não dá. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como", disse Michelle.
Pouco depois, Flávio foi o primeiro a se manifestar abertamente, classificando a atitude da madrasta como autoritária. "A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja a nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora", afirmou ao portal Metrópoles.
Em seguida, Carlos Bolsonaro reforçou a crítica em publicação no X, destacando que o entendimento com Ciro foi discutido e aprovado pelo ex-presidente. “Temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças”.
Eduardo também apoiou a posição dos irmãos. “Meu irmão Flávio está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o André o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo; foi uma posição definida pelo meu pai”, escreveu.
No entanto, após visitar o pai, o senador Flávio Bolsonaro declarou ter pedido desculpas a Michelle por tê-la criticado. Ele afirmou que o desentendimento com a madrasta já foi resolvido e garantiu ter comunicado ao pai sobre o pedido de desculpas. "Falei para meu pai que já me resolvi com a Michelle, pedi desculpas a ela", disse na ocasião.
Movimentos da defesa do ex-presidente
A defesa de Bolsonaro já fez diversos pedidos ao STF enquanto ele está na prisão. Recentemente, os advogados que o representam pediram autorização para que o ex-presidente fosse retirado da prisão e levado a um hospital para realizar procedimentos cirúrgicos, alegando piora em seu quadro de saúde (como hérnia inguinal e soluços persistentes) e reforçando que a prisão em regime fechado poderia colocar sua integridade física em risco.
Em resposta, Moraes determinou que Bolsonaro fosse submetido a uma perícia médica em até 15 dias para avaliar a necessidade real da cirurgia, indicando que o sistema judiciário está analisando as alegações de saúde, mas não concedeu automaticamente a saída da prisão.
Paralelamente, a defesa continuou a pedir prisão domiciliar humanitária, argumentando que o ambiente prisional pode ser prejudicial à sua saúde e que ele teria doenças crônicas que justificariam esse tipo de regime.
'Marmita especial'
Após pedido da defesa do ex-presidente, Moraes autorizou que ele receba 'alimentação especial' durante o tempo que permanecer sob custódia na sede regional da PF. De acordo com decisão do magistrado, a entrega da alimentação é feita por pessoa previamente cadastrada pelos advogados de Bolsonaro e em horário fixado pela Polícia Federal, que fiscaliza e registra tudo o que for entregue.
Após uma das visitas ao pai, Flávio Bolsonaro relatou à imprensa que a saúde do pai "preocupa a família". "Ele teve crise de soluço e fico preocupado por isso", afirmou. De acordo com Flávio, Bolsonaro tem "preocupação com a origem da comida" na PF, por isso pediu que os alimentos fossem levados por familiares.
Articulação política por PL da Dosimetria
Nesse primeiro mês da prisão de Jair Bolsonaro, também ganhou destaque o chamado PL da Dosimetria, projeto que reduz as penas do ex-presidente e de outros condenados por tentativa de golpe de Estado. O projeto de lei foi aprovado pelo plenário do Senado nesta quarta-feira, 17, e, agora, segue para análise da Presidência da República.
O PL da Dosimetria cria um mecanismo que acelera a progressão de regime --quando o condenado deixa um regime mais rigoroso e passa a cumprir a pena em condições mais brandas-- para pessoas condenadas por crimes contra o Estado Democrático de Direito.
No Senado, o relator do projeto, Esperidião Amin (PP-SC), recorreu a uma manobra regimental para alterar o texto, restringindo a mudança na progressão de pena apenas aos crimes contra a democracia. De acordo com o texto, os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro poderão progredir para o regime semiaberto após cumprir apenas 16% da pena no regime fechado. Atualmente, a legislação exige o cumprimento mínimo de 25% da pena na modalidade mais rigorosa para solicitar a progressão.
O PL também estabelece que:
- Em casos de condenações simultâneas por tentativa de golpe de Estado e tentativa de abolição do Estado, prevalecerá a pena mais severa, em vez da soma das penas.
- Nos crimes cometidos em contexto de multidão, como os relacionados a 8 de janeiro, a pena poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, desde que o condenado não seja líder ou financiador das ações.
- O tempo de estudo e trabalho realizado em prisão domiciliar poderá ser contabilizado para reduzir a pena.
Segundo o relator do PL da Dosimetria na Câmara, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), o projeto resultaria em Bolsonaro cumprindo apenas 2 anos e quatro meses em regime fechado, considerando o abatimento do período em que esteve preso em casa e reduções por estudo.
Atualmente, pelas regras vigentes, Jair Bolsonaro teria direito a solicitar a progressão após aproximadamente sete anos no regime fechado. A Vara de Execuções Penais do Distrito Federal estima que ele possa passar para o semiaberto apenas em 23 de abril de 2033.
O PL da Dosimetria surgiu como solução das lideranças da Câmara e do Senado para atender à pressão de aliados de Bolsonaro por um perdão integral das penas, a chamada anistia, sem recorrer diretamente a esse recurso.