MP pede que Castro cumpra diretrizes do STF sobre operações em favelas

Governador criticou medida de combate à letalidade policial; técnicos farão perícia independente

29 out 2025 - 10h08
(atualizado às 11h48)
Resumo
O governo do Rio anunciou o aumento de mais de 40% no efetivo policial realocando agentes administrativos para as ruas, após a operação mais letal da história do estado, que deixou 64 mortos e 81 presos.
Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levam ao menos 50 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no início da manhã desta quarta-feira, 29, após a megaoperação mais letal da história do Estado. O ativista Raull Santiago, do Instituto Papo Reto, afirmou que os corpos foram encontrados em uma área de mata na Serra da Misericórdia
Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levam ao menos 50 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no início da manhã desta quarta-feira, 29, após a megaoperação mais letal da história do Estado. O ativista Raull Santiago, do Instituto Papo Reto, afirmou que os corpos foram encontrados em uma área de mata na Serra da Misericórdia
Foto: JOSE LUCENA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

Após a megaoperação para combater a expansão territorial do Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu que o Governo do Estado cumpra as diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que disciplina operações policiais em comunidades.

O Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do MPRJ disse acompanhar os desdobramentos da operação nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense, e anunciou que uma perícia independente à realizada pelo estado também será feita nos mortos durante a ação policial.

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"A Instituição atua para assegurar o cumprimento das diretrizes fixadas pelo STF na ADPF 635 (...) e informa ainda que técnicos periciais foram enviados ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de perícia independente, em conformidade com suas atribuições legais", diz o órgão. Os números mais recentes confirmados pelo Terra com a Secretaria de Segurança Pública do Rio apontam que 64 pessoas morreram.

Na manhã desta quarta-feira, 29, cerca de 50 corpos foram localizados em áreas de mata e levados por moradores a uma praça na Penha. Com isso, a operação se tornou a mais letal da história do Rio

Megaoperação visa conter expansão do Comando Vermelho
Foto: Reprodução/TV Globo

O procurador-geral de Justiça do MPRJ, Antonio José Campos Moreira, irá monitorar continuamente a situação e prometeu manter contato permanente com as equipes em atuação.

A ADPF 635, ou ADPF das Favelas, alvo de críticas pelo governador Cláudio Castro, foi protocolada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e define medidas para diminuir a letalidade policial durante operações contra o crime organizado nas comunidades do Rio de Janeiro.

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O andamento do processo será temporariamente conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, após a aposentadoria do relator, o ex-ministro Luís Roberto Barroso.

Megaoperação tenta prender traficantes do Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha
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Para o governador Claudio Castro, o aumento da criminalidade na capital fluminense ocorreu após as decisões da Corte envolvendo a segurança pública do Rio. Em entrevista coletiva nesta terça, a reação dos criminosos alvo da operação — que incluiu barricadas e uso de drones para bombardear policiais — "são o que nós chamamos de filhotes dessa ADPF maldita".

"Não pode o policial bem treinado atirar da plataforma, mas pode o criminoso usar um drone com bomba", reclamou. "A tentativa de politização da segurança pública arrebenta sempre no lado do policial que está lá arriscando a sua vida", disse. Quatro policiais foram mortos na etapa desta terça da Operação Contenção.

Polícia aumenta efetivo no Rio após operação mais letal da história
Foto: Divulgação/PMERJ

Reação do governo

O Governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou um reforço de policiamento nas ruas da capital fluminense, para "garantir a tranquilidade e o direito de ir e vir da população".

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Como parte das medidas anunciadas na manhã desta quarta-feira, 29, o governo disse que os agentes do serviço administrativo da Polícia Militar foram realocados para as ruas. "Um aumento de mais de 40% no efetivo", afirma o comunicado.

A ação da Polícia Militar em toda a região metropolitana tem "atenção especial às principais vias expressas, zonas norte, sudoeste e modais de transporte público", informou a PM.

Depois da operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que terminou com a morte de 64 pessoas --incluindo quatro policiais-- e 81 prisões, moradores dos complexos do Alemão e da Penha retiraram corpos de áreas de mata na divisa das duas regiões e os levaram até uma praça. 

Praça da Penha amanhece com fila de corpos cobertos por lona após megaoperação no Rio de Janeiro
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A ação de ontem ainda prendeu 81 suspeitos e apreendeu 90 fuzis. A Policia Civil esperava que 100 traficantes fossem detidos.

De acordo com levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), a operação é a mais letal da história do Rio e superou a chacina policial no Jacarezinho (Zona Norte) em maio de 2021, quando 28 pessoas foram mortas em conflito com as forças do Estado – contando o óbito de um policial.

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De acordo com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), a quarta-feira na capital fluminense começou com todas as vias desobstruídas e com operações de transportes funcionando normalmente. Nas primeiras horas da manhã, Paes anunciou também que a cidade retornou ao Estágio 1 --o primeiro numa escala de cinco, que aponta não haver ocorrências de grande impacto na rotina dos cidadãos

Cerca de 2.500 agentes se concentraram nos dois complexos, que abrigam, juntos, 26 comunidades. 

Operação Contenção: Fuzis foram apreendidos durante ação policial no Rio
Foto: Governo do Rio
Fonte: Portal Terra
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