Nessa semana o congresso nacional mostrou pela milésima vez sua importância e sua força dentro do cenário político do Brasil. Blindagem e Anistia foram as bombas que os parlamentares, brancos, ricos e de direita, jogaram no colo da população. A da blindagem que é como se um bandido faccinado só pudesse ser investigado se seus pares aprovassem a investigação e a busca desenfreada da extrema direita em anistiar as pessoas que invadiram e atacaram a democracia no dia oito de janeiro, essa votada em caráter de urgência. Importante salientar que essas duas PECs visam tirar o peso da tentativa de golpe e proteger aqueles que, dentro ou fora da câmara, flertaram com o movimento.
Estamos contemplando in loco como a política se bem direcionado agiria de maneira rápida nos grandes problemas do nosso país, também podemos observar como muitas vezes o problema não é o texto, e sim a aplicabilidade dada ele. Nas eleições de 2022 quase 42% dos deputados estaduais e distritais eleitos eram milionários, dos 27 senadores eleitos, 19 se autodeclararam brancos, seis negros (pretos e pardos) e apenas 2 indígenas, o patrimônio médio de deputado federal é 62 vezes maior que o dos brasileiros, ou seja, não é que o trabalho dos politicos esteja sendo mal feito, é que esse trabalho não esta sendo pensado como as minorias.
Já ouviram falar que a gente não vive em uma democracia e sim em uma ditadura burguesa? É mais ou menos por aí. Os poderes não representam o povo. Cadê os negros, cadê os perifericos, cadê o grosso da população brasileira? Para se eleger tem que ter dinheiro. É tempo de tela na televisão, é rodar os interiores, é fazer comitiva, comício, santinho, entre outras dezenas de estratégias que só é possível com dinheiro e tempo. Quem na escala 6x1 terá condições de sair em busca de voto? Fora os investimentos e caixa dois que dizem que acontecem, aquele lobby empresarial por debaixo dos panos, sabe? O político que se elege com essa suposta ajuda vai legislar pelo trabalhador ou pelo corporação que injetou dinheiro nele?
Já pensou se os poderes tivessem que refletir o cenário da população de cada país? No caso do Brasil 56,1% de negros, 51,5% de mulheres, 10% de lgbtqiap+ e todos eles em sua esmagadora maioria trabalhadores? Haveria a reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer (2016-2019) ou haveria investimento no que a população brasileiro acessa cotidianamente como transporte público, educação, saúde. Será que os desmandos policiais sobre a população negra seriam tão relevados? Será que a lei Maria da Penha não teria mais investimento? Será que pessoas trans não teriam maior suporte? Tudo isso é 1% de todas as mudanças que poderiam acontecer se os representantes do povo tivessem a cara da população.
Não adianta supor que haverá mudanças reais no Brasil se seguirmos votando em parlamentares que estão mais preocupados em benefício próprio do que em melhorar a vida de quem vota neles. Imagina a quantos passos largos andaria o combate ao racismo se 50% dos parlamentares fossem negros? Ampliação de cotas, projeto visando destribuir renda, criar um imposto específico para quem construiu fortuna durante a escravização africana e ampliar tudo que o pobre é dependente, já que, infelizmente, a grande maioria dos pobres são negros. Eu sei que parece um sonho distante, mas toda essa elucubração é para levar a reflexão que, tão importante quanto o voto para o presidente, são os votos para deputados e senadores, e enquanto esses forem mais parecidos com europeus do que com africanos, a engrenagem do racismo seguirá rodando sem maiores desgastes.