O que parece é que o combate ao racismo só vale se não for muito disruptivo com a lógica hegemônica. A polêmica envolvendo a novela 'Vale Tudo' segue ganhando holofote nas redes sociais. Dessa vez, segundo um site, a Taís Araúdo teria registrado uma queixa contra a autora da novela, Manuela Dias, sobre o desenvolvimento fajuto que a sua personagem teve.
Após as duas terem um entrevero, Taís procurou o compliance da Globo que, de acordo com a Folha de SP, segue sob investigação interna. Supostamente Manuela fez o mesmo, e entrou com uma queixa contra Taís alegando quebra de ética. A grande questão nisso tudo é como uma empresa que dizem ser esquerdista e uma autora abertamente progressista, não conseguem se posicionar de maneira rápida e assertiva quando o assunto é a questão racial.
Começo logo esse parágrafo deixando estabelecido que eu sei que a Globo não é de esquerda, está longe de ser, mas o questionamento parte de como alguns da direita a enxergam, e também como, por vezes, ela absorvi um discurso progressista, e pessoas também, mas no intuito de gerar audiência e dinheiro. Não há inocência, ou benfeitoria, de nenhum meio de massa no Brasil, eles visam e querem apenas o lucro. Questiono o quão frágil é esse simulacrum a ponto de em uma questão tão simples como essa, está gerando tantos comentários ainda.
Penso que os grandes produtos da indústria cultural não mudam em nada sua estrutura. O que eles fazem é tentar parecer ser e ir no fluxo que renda dinheiro. Eles colocam mais pessoas pretas na tela, porém as cabeças das emissoras seguem sendo brancas e com isso quando as decisões “difíceis” tem que ser tomadas, os pares de raça se abraçam e se protegem ainda que a pessoa em questão seja uma atriz gigantesca como é a Taís Araújo, dentro e fora da Globo.
Essa situação, com as informações que temos até então, me parece de um racismo gigantesco. Até então eu não entendi o porque não está sendo tratado nesse sentido de forma mais veemente. Observe que estamos falando de uma atriz de décadas na Globo. Uma atriz que permeia papéis super importantes dentro da emissora antes da questão racial chegar forte aos veículos midiáticos. Taís é uma das primeiras protagonistas negras como Xica da Silva, lá em 1996 aos 17 anos de idade. Uma das porque não existiria Taís Araújo sem nomes como Iolanda Braga e Ruth de Souza. Fico me questionando o que uma atriz negra precisa fazer para ser mais respeitada dentro de uma emissora, já que, ainda que com esse currículo, a Tais foi amplamente desrespeitada.
Fico refletindo se a falta de respeito com a Taís não tenha sido proposital, sabe? É sabido por todas as pessoas o tamanho dela enquanto mulher negra. Sabem o que ela representa e ainda assim a trataram como menor. Ainda que, talvez, de forma inconsciente, parece que usaram a Taís para dar um recado a todos atores e atrizes negras no sentido de que, o espaço para preto na emissora está demarcado e quem tentar passar será tratado dessa maneira. É apenas uma conjectura.
Devanear nesse sentido é a única coisa que me resta. Não imagino outro motivo para uma persona do tamanho da Taís ser tratada dessa maneira. Ela se encaixa em tudo que a mídia ama. Ela é uma mulher empoderada, com um marido extremamente carismático, uma família de margarina, o que mais precisaria ser feito para ela ter um respeito adequado dentro da empresa que trabalha há muitos anos? Não tem como não atribuir isso à questão racial. As pessoas não querem que pessoas negras pensem, tenham opinião e desejos. Eles deixam a gente ir até onde é confortável para eles. No menor sinal de pensamento próprio e percepção de desacato, tentam nos colocar no “nosso lugar” e para isso não medem esforços e nem consequências.
Infelizmente o que fica para mim, é um extremo desrespeito a uma atriz grandiosa, membro de movimentos negros, ativista da causa de gênero e progressista declarada. A depender de como a Globo aja nesse caso, ficará nítido o que ela realmente pensa sobre minorias. Pois, no fundo é um recado não para Taís, mas para tudo que ela representa e é, dentro e fora das novelas.