A brasileira Ana Paula Gomes de Oliveira, mãe de um jovem morto pela polícia do Rio de Janeiro, foi reconhecida nesta quarta-feira, 26, como uma das principais vozes dos direitos humanos no mundo. Ela venceu o Prêmio Martin Ennals, considerado o "Nobel dos direitos humanos", e se tornou a primeira pessoa do Brasil a recebê-lo.´
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A cerimônia ocorreu em Genebra, na Suíça, e reuniu políticos, embaixadores e integrantes da alta cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) e sociedade civil.
Em um discurso emocionado, Ana Paula fez um apelo direto à comunidade internacional. "Hoje, eu faço um apelo à comunidade internacional. Especialimente, à ONU para se juntar a nós. Nesses 11 anos, eu tenho dito que essa luta não pode ser somente das mães que perdem seus filhos, das mães que já estão adoecidas por conta dessa violência que nos atinge. Essa luta precisa ser de toda a sociedade. Precisamos que o Estado brasileiro seja pressionado a tomar medidas urgentes para reduzir o alto índice da letalidade policial", afirmou, sob aplausos.
Moradora da Zona Norte do Rio, Ana Paula é uma das fundadoras do grupo Mães de Manguinhos, criado para reunir familiares de vítimas da violência de Estado e denunciar abusos cometidos por agentes de segurança. O Prêmio Martin Ennals é concedido por um júri composto por dez organizações de referência no movimento global pelos direitos humanos.
A trajetória de Ana Paula como ativista começou de forma trágica. Em 14 de maio de 2014, seu filho, Johnatha de Oliveira, de 19 anos, foi morto com um tiro nas costas por um policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos. O jovem caminhava em direção à casa da namorada, na favela da região, quando foi atingido.
A responsabilização do agente envolvido no crime ainda é motivo de disputa judicial. Em março do ano passado, o policial militar Alessandro Marcelino de Souza foi condenado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, pelo 3º Tribunal do Júri da capital. Logo depois, a Defensoria Pública do Rio recorreu para que ele responda por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Souza, que atirou sete vezes contra Johnatha, aguarda o desfecho do processo em liberdade.