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Estreito de Ormuz: bloqueio pelo Irã pode afetar preços dos combustíveis e alimentos no Brasil

O bloqueio total do corredor marítimo interromperia cerca de 20% do comércio global de petróleo

23 jun 2025 - 04h59
(atualizado às 08h20)
Uma vista geral do Terminal Petrolífero do Porto da Ilha de Kharg, a 25 km da caniana, no Golfo Pérsico, e 483 km a noroeste do Estreito de Ormuz, no Irã
Uma vista geral do Terminal Petrolífero do Porto da Ilha de Kharg, a 25 km da caniana, no Golfo Pérsico, e 483 km a noroeste do Estreito de Ormuz, no Irã
Foto: Getty Images

O preço do petróleo passa a ser uma preocupação mundial com o fechamento do Estreito de Ormuz, um ponto estratégico entre o Golfo Pérsico e Omã para a passagem de quase um terço do petróleo mundial.  O bloqueio total do canal pelo o Irã, caso se confirme, causaria um impacto no médio e longo prazo no preço dos combustíveis e alimentos no Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo Terra.

No domingo, 22, o Parlamento do país persa aprovou o bloqueio do corredor marítimo após os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã.  A decisão final cabe ao Conselho Supremo de Segurança Nacional e ao aiatolá Ali Khamenei para a medida entrar em vigor. O Irã é o sétimo maior produtor de petróleo do mundo.

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“O preço da gasolina e de outros combustíveis no Brasil é diretamente impactado pelo fechamento do Estreito de Ormuz, mesmo que o país seja parcialmente autossuficiente em produção de petróleo”, alerta João Alfredo Nyegray, professor de Negócios Internacionais e Geopolítica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Dois fatores são apontados pelo especialista para que o fechamento do canal impacte no preço do combustível no mercado nacional. O primeiro é que o Brasil integra o mercado global de petróleo, cujos preços são cotados em dólar com base nas referências internacionais do barril Brent e WTI. Com o bloqueio do Estreito, a oferta global de petróleo é restringida, elevando os preços internacionais.

O segundo fator é que a Petrobras deixou, há algum tempo, de adotar uma política de paridade de preços internacionais (PPI), na qual o valor dos combustíveis acompanha as flutuações do barril e do câmbio. Assim, qualquer aumento no preço internacional do petróleo ou desvalorização do real frente ao dólar pode trazer um prejuízo à estatal que pode ver-se obrigada a ajustar os preços no mercado interno.

André Senna Duarte, professor de Economia da PUC-RJ, acredita que dada a fraqueza relativa do Irã frente aos demais países, o país não deve conseguir manter o estreito fechado por muito tempo. Dessa forma, caso permaneça fechado por pouco tempo, não deverá haver impacto relevante no mercado doméstico.

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“O Estreito é fundamental para o fluxo de petróleo no mundo. O seu bloqueio é algo que pode impactar de forma importante a economia global. No entanto, o Irã sozinho, como é o caso, não deverá ter capacidade de manter muito tempo o estreito fechado, dado a enorme oposição dos mais diversos países a um evento como este”, avalia Senna Duarte.

José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec-RJ, diz que o fechamento do Estreito é algo muito grave que  afeta não apenas o preço dos combustíveis, mas também a inflação e a economia brasileira como um todo. “Além de mudar diretamente o preço da gasolina no Brasil no médio prazo, deixará o frete mais caro, com perspectiva de aumento da inflação."

Alimentos, fretes e passagens mais caros

João Alfredo Nyegray afirma que setores industriais que dependem de transporte, logística e fertilizantes derivados do petróleo também podem sofrer pressões inflacionárias, gerando efeitos indiretos sobre os preços de alimentos, fretes e passagens aéreas. “É o que chamamos de efeito cascata”, ressalta.

O Estreito de Ormuz é responsável por aproximadamente 20% do petróleo bruto comercializado globalmente, segundo a U.S. Energy Information Administration (EIA, 2023) e a Agência Internacional de Energia (IEA). Isso corresponde a um volume diário entre 17,8 e 21 milhões de barris de petróleo.

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“O fechamento, portanto, representa um gargalo de proporções colossais na cadeia global de energia, afetando diretamente países importadores da Ásia (China, Japão, Coreia do Sul e Índia), Europa e América Latina. Em termos de comércio marítimo energético, é o ponto de estrangulamento mais estratégico do planeta”, acrescenta João Alfredo.

Os maiores prejudicados com o bloqueio do Estreito de Ormuz 

  • Países altamente dependentes de importação de petróleo do Golfo Pérsico, como Índia, China, Japão, Coreia do Sul e Cingapura.
  • Economias emergentes e em desenvolvimento, como o Brasil, que são vulneráveis à volatilidade cambial e à inflação importada.
  • Empresas de transporte marítimo, aviação e setores industriais com alta dependência energética.
  • Consumidores finais, que enfrentarão aumentos no custo de vida, especialmente em regiões que não possuem estoques estratégicos de petróleo.

Qual a importância do Estreito de Ormuz para o Irã e o mundo?

O Estreito de Ormuz é o mais importante corredor energético do planeta. Localizado entre o Irã e Omã, com apenas 33 km de largura em seu ponto mais estreito e canais de navegação de 3 km em cada sentido, ele conecta o Golfo Pérsico ao Mar da Arábia e ao Oceano Índico. 

Para o Irã, o Estreito tem valor geopolítico e estratégico extraordinário. Embora dependa dele para suas próprias exportações, o Irã controla geograficamente a margem norte do estreito e tem capacidade naval e de mísseis para bloqueá-lo temporariamente, o que lhe confere poder de barganha regional.

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Para o mundo, o Estreito é uma “artéria vital” do sistema energético global, e sua obstrução equivale a uma isquemia no fornecimento de petróleo. A proteção dessa rota é uma das razões centrais da presença militar americana na região desde os anos 1980.

Fonte: Redação Terra
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