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Bradesco vira o jogo em crédito e inadimplência, mas enfrenta entraves para recuperar rentabilidade

Para analistas, resultado do banco, que registrou queda de 1,6% em um ano no lucro do primeiro trimestre, foi o primeiro capítulo da reestruturação anunciada em fevereiro

2 mai 2024 - 17h41

Após um 2023 de queda na carteira de crédito e aumento das despesas com provisões contra a inadimplência, o Bradesco mostrou uma inflexão em ambos os indicadores no primeiro trimestre deste ano. Entretanto, a busca por uma carteira menos arriscada no último ano e meio cobrou seu preço nas margens com crédito, criando o principal entrave para a recuperação da rentabilidade do banco.

O lucro líquido recorrente do Bradesco foi de R$ 4,211 bilhões, queda de 1,6% em um ano, mas uma alta de 46,3% em relação ao quarto trimestre de 2023. A diferença entre as variações ajuda a explicar onde está o banco: a inadimplência teve uma queda de 0,3 ponto porcentual no comparativo anual, para 4,8%, e as despesas com provisões contra a inadimplência caíram 17,9%, para R$ 7,811 bilhões.

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O trimestre foi o primeiro completo sob a gestão de Marcelo Noronha, que assumiu o banco em novembro do ano passado. "Ao longo do tempo, os nossos índices de inadimplência vão convergir para os de mercado", afirmou ele em entrevista à imprensa.

O outro lado da moeda apareceu na margem com clientes, que caiu 14,4% em um ano, para R$ 14,522 bilhões, e levou a margem financeira bruta do banco a cair 9%, para R$ 15,152 bilhões. O desempenho ficou bem distante das projeções do Bradesco para o ano, que apontam para um crescimento de 3% a 7%.

Bradesco busca rentabilidade na casa dos 20%
Bradesco busca rentabilidade na casa dos 20%
Foto: Hélvio Romero / Estadão / Estadão

Desde o segundo semestre de 2022, o Bradesco reduziu as concessões em linhas como o cartão de crédito e também entre as pequenas e médias empresas, mais arriscados, mas também mais rentáveis. O movimento ainda pressiona a rentabilidade: o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do banco foi de 10,2%, 0,4 ponto porcentual abaixo do primeiro trimestre de 2023, e muito distante dos 18% vistos até 2022.

"Todos os itens caminham para dentro do guidance. O crédito cresce primeiro, e as margens vêm depois", disse Noronha. O CFO do banco, Cassiano Scarpelli, disse que as margens provavelmente ficarão próximas ao piso do guidance, o que também deve acontecer com as provisões.

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Primeiro sinal

Na visão do analista Rafael Reis, do BB Investimentos, o resultado do Bradesco foi o primeiro capítulo da reestruturação que Noronha anunciou em fevereiro. "Devido ao curto espaço de tempo, poucos indícios de melhoras mais contundentes são notados, e os principais detratores do resultado fraco ainda são nítidos: a margem financeira e a carteira de crédito", escreveu ele, em relatório.

A carteira do Bradesco encerrou o trimestre em R$ 889,9 bilhões, um crescimento de 1,2% em base anual. O número também ficou abaixo do guidance, que aponta para um avanço de 7% a 11% neste ano, mas Noronha disse que a reversão da queda é um marco importante. "Não foi simplesmente um crescimento de 1,2%. Nós estávamos com um crescimento negativo nos dois últimos trimestres."

Nos primeiros três meses do ano, a concessão de crédito pelo banco no varejo de pessoa física foi 23% maior que no mesmo período do ano passado. "A carteira expandida aumentou 1,2% em um ano e 1,4% em um trimestre, mostrando sinais de recuperação em relação aos trimestres anteriores", afirmou o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual.

Para os analistas de bancos de investimento, o trimestre mostrou que o banco pode enfim voltar a crescer. "Vemos esse como um trimestre mais fraco em termos de margem, mas mostrando uma tendência de limpeza de balanço e controle de custos", disse Daniel Vaz, do Safra. Ainda assim, os investidores reagiram mal, e os papéis preferenciais chegaram a cair 1,86%.

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Próximos passos

Além de marcar a primeira divulgação de um trimestre completo da atual gestão, o balanço foi o primeiro desde o anúncio do plano de reestruturação que ambiciona tornar o banco mais ágil, reduzir custos e fazer com que volte a ganhar mercado em crédito. Foi nesta frente que fintechs avançaram sobre o público de baixa renda, que é o coração do Bradesco.

Há dois meses e meio, o conglomerado montou um escritório com 800 pessoas que está dedicado a colocar as mudanças em prática, com mais de 2.600 iniciativas sobre a mesa. Por enquanto, os efeitos sobre os resultados financeiros são limitados, mas Noronha afirmou que as despesas, que caíram 10,5% em um trimestre, foram um primeiro reflexo das alterações.

Nos próximos meses, o banco deve intensificar a redução da estrutura física de atendimento a indivíduos, que passará a ser apoiada por agências mais enxutas e um maior uso dos correspondentes credenciados ao Bradesco Expresso. Também deve aprofundar a redução de níveis hierárquicos, que já aconteceu na alta administração.

Este segundo movimento deve contar com o apoio de Silvana Machado, vinda do fundo de investimentos Advent e que vai liderar a área de Recursos Humanos do banco. O Bradesco também anunciou a chegada de Julio Guedes, ex-Serasa, para a Gestão de Crédito, e anunciará neste mês o nome do contratado para Negócios Digitais.

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As três contratações simbolizam outra mudança: o fim das carreiras fechadas, que determinavam que apenas indivíduos com dez anos ou mais de casa poderiam chegar à diretoria do Bradesco. A regra foi extinta em março para cumprir mais um objetivo do banco, que é oxigenar a operação.

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