Em ‘A Força do Querer’, Maria Clara Spinelli interpreta Mira. A personagem é cisgênero. Ou seja, uma pessoa designada com um gênero ao nascer e que se identifica com ele ao longo da vida. Na prática, uma mulher que se sente mulher.
É a primeira vez nos 67 anos da teledramaturgia brasileira que uma atriz transexual interpreta um cis. Um avanço monumental em uma época de crescimento da transfobia no Brasil.
Maria Clara festeja o ineditismo e vai além: apoia uma campanha lançada nas redes sociais para convencer a autora Gloria Perez a escrever uma cena de beijo para sua personagem.
A campanha recebeu o título ‘Um beijo pode durar apenas uma cena, mas a sua conquista pode ser uma eternidade”. Fãs de Spinelli estão usando a hashtag #QueremosMIRABeijandoMuito.
Na ficção, seria um beijo hétero como qualquer outro. Na vida real, uma atriz trans, no papel de uma mulher cisgênero, beijando um ator cisgênero – algo nunca visto na TV brasileira.
Esse beijo teria, certamente, ampla repercussão midiática. Seus defensores acreditam que ajudaria a combater o preconceito contra pessoas não-cis, famosas ou anônimas.
Resta saber se Gloria Perez vai atender à solicitação. A novelista é defensora de minorias, da diversidade de gênero e da liberdade sexual.
Em tramas anteriores, ela inseriu algumas ousadias. Quem não se lembra do coreógrafo gay Lulu (Eri Johnson) em ‘Barriga de Aluguel’ e da travesti-transformista Sarita Vitti (Floriano Peixoto) de ‘Explode Coração’?
Mas Gloria Perez tem uma frustração no currículo: em 2005, a Globo censurou aquele que teria sido o primeiro beijo entre dois homens em novelas do canal.
A cena de Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) foi ao ar sem o desfecho romântico escrito pela autora.
O tão aguardado primeiro beijo gay só aconteceu em janeiro de 2014, no último capítulo de ‘Amor à Vida’, escrita por Walcyr Carrasco, quando Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) se beijaram na boca.
Agora, Maria Claria Spinelli quer fazer história na teledramaturgia com um inédito beijo trans-cis.
