A sequência de ‘Vale Tudo’ em que Consuelo flagra o filho André com a melhor amiga dela, Aldeíde, foi um dos grandes momentos de Belize Pombal no papel da secretária da TCA. Indiscutivelmente, uma das melhores atrizes da teledramaturgia contemporânea.
O ataque de cólera tirou a centrada personagem do eixo. Mas serviu também para reforçar o estereótipo da mulher negra descontrolada e escandalosa.
Nas redes sociais, incontáveis comentários de decepção com a atitude exagerada de Consuelo, que se revelou etarista por não aceitar o filho namorando uma mulher mais velha (“assanhada que tinha que estar na menopausa”), a quem ela direcionou a acusação de “molestar, seviciar” o marmanjo.
Numerosas críticas também à autora Manuela Dias, já pressionada anteriormente por mostrar duas outras mulheres pretas, Eunice (Edvana Carvalho) e Raquel (Taís Araújo), reagindo com violência ao estapear o rosto de Odete Roitman (Debora Bloch), reforçando a imagem de histeria associada ao perfil racial.
“Manuela adora pegar uma personagem negra e destruir em minutos”, comentou um seguidor do perfil Mundo Negro no Instagram.
Estava indo tudo tão bem…
Consuelo conquistou a simpatia dos telespectadores ao se mostrar mãe coruja, esposa dedicada à espera de mais romantismo do marido, nora revoltada com as intromissões da sogra, amiga fiel e profissional nota 10 na empresa.
Discreta e elegante, ela sempre tem um comentário espirituoso, uma observação coerente. Por isso, causou estranhamento a revolta excessiva ao ver André (Breno Ferreira) com Aldeíde (Karine Telles. O público sabia que a reação seria negativa, mas não tão destemperada.
Consuelo mostrou ser não apenas uma mãe com ciúme do filho, também uma mulher reacionária, presa a conceitos antigos sobre o universo feminino. Por acaso, mulher madura não pode sentir tesão, buscar um novo amor, se relacionar com um homem jovem? Só faltou a secretária se dizer contra um relacionamento inter-racial.
A personagem espelha o que milhões de brasileiros pensam, e como agem, porém, essa postura tira parte do brilho de sua trajetória na novela e a coloca no mesmo hall de intolerantes onde está a patroa Odete Roitman.
Logo a redenção virá, e todos terminarão formando uma grande família feliz, mas fica o questionamento: precisava disso? Não seria mais interessante e cômico se Consuelo, por exemplo, se voltasse apenas contra o filho, acusando o rapaz de querer dar o golpe na ‘coroa rica’, e tratasse a amiga Aldeíde como uma inocente seduzida?
O núcleo mais divertido de ‘Vale Tudo’ ganhou um drama copioso e antipático. Era melhor ter ficado na comédia social.