O declarado desgosto de Taís Araújo ao saber que Raquel voltaria a ser vendedora de sanduíches na praia após perder a empresa de alimentação Paladar — algo que não ocorreu na ‘Vale Tudo’ original — pode ser compreendido com o histórico da atriz em novelas das 21h da Globo.
Em 2009, ela viveu o pior momento de sua carreira com a Helena em ‘Viver a Vida’, de Manoel Carlos. A personagem já começava a trama rica e famosa. O público estranhou uma mulher preta tão bem-sucedida sem trajetória de sofrimento, humilhação e superação.
Para piorar, Helena confessou ter feito um aborto porque um filho não planejado iria atrapalhar sua carreira. O que era antipatia do público virou rejeição nacional, com a atriz sendo hostilizada nas ruas.
A protagonista perdeu espaço e virou apenas a mulher do ciumento Marcos (José Mayer) e a madrasta odiada de Luciana (Alinne Moraes). O brilho se apagou e Taís desenvolveu uma depressão.
Onze anos depois, a artista enfrentou novo revés. Em ‘Amor de Mãe’, de Manuela Dias, mesma autora-adaptadora do remake de ‘Vale Tudo’, a poderosa advogada Vitória decide parar de defender um criminoso. Ok, uma atitude ética digna dos aplausos dos telespectadores. Mas é processada pelo ex-cliente, perde a carteira da OAB e empobrece de repente. Toma um rumo inesperado e pouco crível: se torna costureira.
Três protagonistas, três retrocessos no roteiro. Compreende-se a decepção de Taís Araújo, que gostaria de viver uma mulher em curva ascendente, sem retrocesso, para representar as brasileiras negras que conseguiram tal façanha e estimular tantas outras a seguir o mesmo caminho.
As redes sociais estão ao lado da atriz: questionam por que uma preta em novela tem sempre de sofrer tanto. A explícita insatisfação de Taís Araújo caiu como bomba nos bastidores da Globo e aumentou a onda virtual de ódio direcionada a Manuela Dias.