Apesar do avanço da IA no combate às ameaças digitais, a maioria das empresas brasileiras, especialmente as pequenas e médias, ainda não está preparada para adotar essas tecnologias plenamente, enfrentando desafios como alto custo, falta de profissionais e barreiras de governança.
O avanço da inteligência artificial (IA) está transformando o cenário da cibersegurança no Brasil, mas a resposta à pergunta central — se as empresas brasileiras estão preparadas para utilizar IA contra ameaças digitais — é, na melhor das hipóteses, ambígua e heterogênea. Enquanto grandes corporações e instituições do setor financeiro lideram a adoção de ferramentas sofisticadas baseadas em IA, uma parcela significativa das organizações nacionais ainda enfrenta sérios desafios de preparo, maturidade tecnológica e governança.
Nos últimos anos, o Brasil tornou-se um dos principais alvos de ataques cibernéticos na América Latina, com mais de 122 mil tentativas de invasão diárias e um crescimento notável nos crimes digitais impulsionados por IA, como ataques de phishing avançado, ransomware e fraudes por deepfake. Nesse contexto, a implementação de sistemas inteligentes capazes de analisar grandes volumes de dados, detectar padrões suspeitos e automatizar respostas rápidas tornou-se uma necessidade estratégica para manter a competitividade e a confiança no ambiente digital.
Dados recentes apontam que apenas cerca de um terço das empresas brasileiras já utilizam IA em suas operações de cibersegurança, especialmente as de maior porte ou ligadas a setores fortemente regulamentados. Embora pesquisas da IBM sugiram que até 41% das empresas brasileiras tenham adotado soluções de IA, esse número apresenta uma variação significativa em levantamentos de outras fontes, que apontam utilização mais restrita — cerca de 13% entre pequenas e médias empresas.
Fatores como alto custo, escassez de profissionais especializados e complexidade na integração com sistemas legados dificultam a adoção ampla, tornando o cenário brasileiro bastante desigual.
Entre os benefícios comprovados da IA na cibersegurança estão a detecção preditiva de ameaças, que permite antecipar ataques com maior eficiência, e a automação de contenção, reduzindo de modo drástico o tempo de resposta mesmo fora do horário comercial. Empresas que já utilizam IA reportam expressiva redução nos custos com incidentes, aumento da resiliência dos sistemas e maior produtividade das equipes.
Além disso, iniciativas pioneiras de empresas nacionais mostram inovação no uso de machine learning, análise comportamental e monitoramento em tempo real de fraudes e ameaças, colocando o Brasil entre os mercados mais inovadores da América Latina.
No entanto, o ambiente corporativo brasileiro ainda sofre com barreiras significativas para escalar a IA em sua cibersegurança: 98% das organizações não estão totalmente preparadas para expandir o uso dessas soluções por questões de governança, maturidade tecnológica e falta de políticas robustas de segurança de dados. O déficit de mais de 400 mil profissionais qualificados no setor, a fragmentação dos dados e os desafios de conformidade com a LGPD também limitam o pleno aproveitamento das tecnologias de IA. Ao mesmo tempo, cresce o uso ofensivo da IA por cibercriminosos, o que pressiona as empresas a se atualizarem sob o risco de sofrerem prejuízos cada vez mais graves e sofisticados.
Diante deste contexto, é possível afirmar que existe um movimento consistente de preparação e amadurecimento, sobretudo nas grandes organizações, mas a ampla maioria das empresas brasileiras — especialmente pequenas e médias — ainda não está pronta para explorar todo o potencial da IA em sua cibersegurança. O país precisa acelerar investimentos em qualificação profissional, modernização tecnológica e fortalecimento da governança para transformar inovação em resiliência digital e responder à altura aos desafios dos novos tempos. A inteligência artificial já é uma aliada inescapável no combate às ameaças digitais, mas o nível de preparo empresarial ainda está longe do ideal.
Assista ao vídeo com Daniel Tieppo, especialista em cibersegurança e diretor executivo da HexaDigital.
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