Fei-Fei Li, uma das pesquisadoras mais influentes da inteligência artificial contemporânea, defendeu que diplomas universitários estão perdendo relevância nos processos de contratação em tecnologia, enquanto a capacidade de aprender rapidamente e dominar novas ferramentas, especialmente de IA, se torna cada vez mais decisivo. A declaração foi feita pela cientista em entrevista recente ao podcast The Tim Ferriss Show e repercute um debate crescente no Vale do Silício sobre o futuro do trabalho.
Conhecida como a "madrinha da IA", Li é professora da Universidade Stanford e CEO da startup World Labs. Ela ganhou projeção internacional ao liderar, em 2009, a criação do ImageNet, um gigantesco banco de dados de imagens rotuladas que revolucionou a visão computacional e abriu caminho para oavanço do aprendizado profundo em áreas como reconhecimento facial, diagnóstico médico por imagem e análise de vídeos.
Ao comentar como seleciona profissionais para sua empresa, Li afirmou que a formação acadêmica deixou de ser o principal critério. "Quando entrevistamos um engenheiro de software, eu pessoalmente sinto que o diploma que a pessoa tem importa menos agora", disse. Para ela, o foco mudou para o que o candidato aprendeu recentemente, quais ferramentas utiliza e quão rápido consegue potencializar suas habilidades com o apoio de tecnologias emergentes.
Segundo a pesquisadora, essa mudança reflete o fato de que sistemas de IA avançados estão cada vez mais acessíveis, o que altera a forma de avaliar competências. "Agora, trata-se mais de o que você aprendeu, que ferramentas você usa, quão rápido você consegue se 'superpotencializar' usando essas ferramentas — e muitas delas são ferramentas de IA", afirmou. "A mentalidade em relação ao uso dessas ferramentas importa mais para mim."
Li acrescentou que, em sua própria estratégia de contratação, não considera profissionais que rejeitam o uso de softwares colaborativos baseados em IA. Ela ressaltou que essa exigência não parte da crença de que essas ferramentas sejam perfeitas, mas do entendimento de que elas revelam a capacidade de alguém evoluir junto com tecnologias que mudam rapidamente e de usá-las a seu favor.
A visão da cientista se alinha à de outros líderes do setor. Executivos como Mark Zuckerberg e Alex Karp, da Palantir, também têm questionado publicamente o peso excessivo atribuído a diplomas tradicionais, defendendo modelos de formação mais práticos e orientados à experiência, ainda que grandes empresas continuem exigindo graduação para cargos iniciais.
'Arquiteta da IA'
Nascida em Pequim, em 1976, Fei-Fei Li imigrou para os Estados Unidos aos 16 anos, enfrentando dificuldades financeiras e a barreira do idioma. Formou-se em física pela Universidade de Princeton e concluiu o doutorado em engenharia elétrica no Caltech. Além da carreira acadêmica, ela é uma das principais vozes na defesa de diversidade e inclusão na IA, tendo cofundado a organização AI4ALL, voltada à formação de estudantes de grupos sub-representados.
Em 2024, Li fundou a World Labs, startup que busca desenvolver sistemas capazes de compreender e reproduzir o mundo tridimensional por meio de raciocínio espacial. A proposta é criar uma IA mais próxima da cognição humana, capaz de interpretar o ambiente de forma contextualizada. Segundo o Financial Times, a empresa atingiu uma avaliação superior a US$ 1 bilhão em apenas quatro meses de operação.
A importância de Fei-Fei Li no campo da inteligência artificial foi reforçada neste ano com sua inclusão no grupo eleito pela revista TIME como os "Arquitetos da IA", honraria concedida coletivamente a líderes que moldam os rumos da tecnologia no mundo. Ao lado de nomes como Sam Altman (OpenAI), Jensen Huang (Nvidia), Mark Zuckerberg (Meta) e Elon Musk (Tesla e X), ela aparece em uma das capas da publicação, que simboliza o impacto econômico, político e social da IA.