Como o aquecimento global pode deixar ciclones mais intensos

12 dez 2025 - 11h16

Ciclone extratropical causou estragos em São Paulo. Para especialistas, mudanças climáticas estão aumentando a intensidade deste fenômeno.Um ciclone extratropical causou estragos em São Paulo e região metropolitana nesta quarta-feira (09/12). O fenômeno, associado a uma frente fria, derrubou mais de 330 árvores, sendo que muitas caíram sobre a rede elétrica, deixando maus de 2,2 milhões de pessoas sem energia.

Os ventos acima de 90 km/h fizeram com que cerca de 200 voos fossem afetados em São Paulo, consequentemente causando transtornos também em outros aeroportos do país. A falta de eletricidade também prejudicou o funcionamento de semáforos e o abastecimento de água.

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Em novembro, o nascimento de um ciclone extratropical no Rio Grande do Sul causou um tornado no Paraná que destruiu 80% da cidade de Rio Bonito do Iguaçu, matando seis pessoas e ferindo 750, segundo a Defesa Civil do Estado.

Em julho de 2023, um outro ciclone no Rio Grande do Sul provocou estragos em 52 cidades e uma morte na cidade de Rio Grande. O fenômeno provocou ventos de mais de 140 km/h e também atingiu o estado de São Paulo, onde duas mortes foram associadas ao ciclone.

O que são ciclones extratropicais?

O ciclone extratropical é uma área de menor pressão atmosférica do que o ambiente do entorno, em que os ventos giram ao redor de um centro, no sentido horário. Esses sistemas afetam o tempo das regiões onde atuam provocando nuvens, chuva, redução da temperatura do ar e ventos fortes.

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Embora seja um fenômeno meteorológico comum na região Sul, o aumento da temperatura do ar e do oceano em consequência das mudanças climáticas pode deixar os ciclones extratropicais mais intensos, afirmam especialistas ouvidos pela DW.

Os ciclones extratropicais são sistemas de baixa pressão atmosférica, em geral vinculados a frentes frias. Eles provocam um contraste muito grande de temperatura, umidade, chuva em seu entorno. Além disso, ventos muito intensos são gerados na direção dele, explica Tércio Ambrizzi, professor de Ciências Atmosféricas na Universidade de São Paulo.

Onde os ciclones extratropicais ocorrem?

Na América do Sul, um mapeamento das áreas mais ciclogenéticas - como os especialistas definem as áreas mais propensas ao fenômeno - aponta duas regiões principais. Uma fica no extremo sul, na costa da Patagônia. A outra é a região da bacia do Prata, ou seja, o sul do Brasil, Uruguai e nordeste da Argentina, explica Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

A área sobre a Patagônia registra uma frequência maior de formação de ciclones extratropicais durante o verão. Já na região ao sul do Brasil, o fenômeno ocorre durante os meses de inverno e primavera.

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"Existe também uma terceira região de formação de ciclone, que é perto da costa de São Paulo e Rio de Janeiro, mas é muito raro a formação sobre o continente", diz Seluchi.

Os ciclones extratropicais estão se tornando mais frequentes no Brasil?

Um estudo feito por Tércio Ambrizzi há alguns anos mostrou que os ciclones não sofreram aumento em termos numéricos, mas em intensidade.

"Em princípio, há relação com as mudanças climáticas. Com a atmosfera acumulando muito mais energia em função do aquecimento que o planeta está sofrendo por conta da emissão de gases de efeito estufa, os sistemas se tornam mais intensos", diz.

O impacto sobre a vida das pessoas depende da região onde o fenômeno se desenvolve. "Em junho de 2022, houve um ciclone extratropical muito intenso que se desenvolveu no oceano. O fenômeno se desenvolveu em função de um outro sistema, que foram vórtices ciclônicos de altos níveis. Naquele junho, ele se propagou na região do Atlântico. Em julho de 2023, ele se desenvolveu exatamente em cima do Rio Grande do Sul, por isso causou tanta chuva. A intensidade das chuvas e dos ventos causam muitos danos e colocam vidas em risco", afirma Ambrizzi.

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Marcelo Seluchi destaca que, antigamente, detectar ciclones sobre os oceanos era muito difícil. "Não existiam dados observados, não havia boas imagens de satélite, então muito provavelmente houve muitos ciclones que não foram detectados no passado, que não fazem parte da série histórica", detalha o meteorologista, pontuando que a série histórica mais confiável que registra o fenômeno reúne informações dos últimos 25 anos.

Seluchi afirma que ainda não existem estudos muito claros sobre como as mudanças climáticas podem afetar a frequência e a intensidade dos ciclones extratropicais. As projeções feitas com base em modelos indicam que alguns ciclones tenderiam a se formar um pouco mais para o sul num cenário de aquecimento global.

"Há um fato que pode influenciar a intensidade dos ciclones, que é justamente o aquecimento da atmosfera e do oceano. Um oceano mais quente consegue evaporar mais água. Uma atmosfera mais quente, por conta do aumento da temperatura, retém mais umidade, que é um elemento muito importante para determinar a intensidade dos ciclones", explica Seluchi.

Isso ajuda a explicar o fato de a costa leste da América do Sul, a bacia do Prata e o sul do Brasil serem regiões de maior frequência de ciclones extratropicais, argumenta o meteorologista. A costa do lado do oceano Pacífico, na área do Chile, não registra muito o fenômeno, pois é uma área que tem baixa umidade, diz Seluchi.

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