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'Rota do Silício', SC-401 mostra evolução das startups de Florianópolis

Estrada que liga centro da cidade às praias do Norte, SC-401 abriga boa parte das empresas de tecnologia de Floripa

25 jul 2018 - 05h12
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Para os milhões de turistas que Florianópolis recebe todos os anos, a SC-401 Norte é a rodovia que liga o centro da cidade a praias famosas como Canasvieiras e Jurerê. Quem segue a estrada, rumo ao Norte, em busca de sal, sol e céu azul não consegue ver, mas a via - chamada oficialmente de Rodovia José Carlos Daux - também abriga inúmeras empresas de tecnologia, iniciantes ou veteranas do ecossistema. Há até quem a chame de "Rota do Silício", em referência ao Vale do Silício americano.

Segundo os próprios empreendedores, não há uma razão específica para a SC-401 ter virado um polo. A maioria deles aponta a falta de espaço na região central de Florianópolis para a necessidade de expansão, ao mesmo tempo em que a estrada permite uma ligação rápida com o centro da cidade.

A via foi inaugurada em 1972, mas só começou a ser ocupada pelas empresas do setor no início dos anos 1990, graças a parcerias entre o Estado e a iniciativa privada para povoar a região - a primeira delas foi o Parque Tec Alfa, cujos terrenos foram vendidos por licitação exclusivamente para empresas de tecnologia. Hoje, o local é sede de várias startups - como Exact Sales e Hórus Aeronaves - e para a Celta, pioneira incubadora da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi).

Foi na Celta, por exemplo, que a Resultados Digitais teve uma de suas primeiras sedes - hoje, a empresa ocupa um prédio na mesma estrada, perto do Floripa Shopping. Já a Softplan, por sua vez, ocupou um edifício no Parque Tec Alfa, antes de se mudar para o Sapiens Parque, novo parque tecnológico localizado já no Norte da cidade, cujo acesso fica logo após o fim da SC-401.

Em 2015, o Estado esteve em Floripa para contar a história do ecossistema da cidade. De lá para cá, a evolução da SC-401 é notável: além da instalação das primeiras empresas no Sapiens Parque, a região também recebeu novos moradores, como a carioca Peixe Urbano, e novos hubs de inovação.

Das raquetes aos bits. É o caso da nova sede da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), que ocupa um galpão de 6 mil m², antes ocupado por quadras de tênis. O espaço impressiona pelas instalações, não fazendo feio perto de outros centros de inovação de São Paulo, como o Google Campus e o Cubo.

Hoje, o local é a casa do espaço de trabalho compartilhado (coworking) Impact Hub, que diz não querer gerar os mágicos unicórnios, mas sim zebras - animais que existem e são brancos e pretos ao mesmo tempo. É uma metáfora para valorizar a diversidade no empreendedorismo, muitas vezes dominado por "homens brancos barbudos e de classe média". Também é a sede da Darwin Starter, aceleradora montada pela C Ventures, fundo de investimentos da Fundação Certi, e financiada por empresas como a B3.

Em seu programa, que recebe duas turmas diferentes por ano e faz aportes de R$ 170 mil, já passaram nomes como Meetime e Hórus. "Somos os Larri Passos das startups, tentando achar os Gugas do mercado", brinca Marcos Mueller, presidente executivo da Darwin, em referência ao técnico do famoso tenista catarinense.

Além de alterar um pouco a paisagem da cidade, com prédios coloridos e vidros espelhados ao lado de muito verde, as startups e empresas de TI mudam o movimento da cidade. Eventos como o Startup Summit SC, que reuniu 2,4 mil pessoas há duas semanas para discutir o ecossistema local ajudam a capital catarinense a ter nova vida durante o inverno, diminuindo a sazonalidade do turismo.

Hoje, o setor de tecnologia lidera a arrecadação de impostos em Floripa. No começo do século 21, não estava nem entre os cinco primeiros colocados, segundo a prefeitura local. De acordo com a Acate, as empresas de tecnologia da Grande Florianópolis (região que inclui municípios como São José e Palhoça) faturaram R$ 6,4 bilhões em 2017.

São números relevantes, mas ainda pouco conhecidos pelo Brasil - que ainda tende a lembrar da cidade por nomes enigmáticos e paradisíacos como Campeche ou Joaquina, e menos pelos apps e sistemas. "Somos meio 'alemães": trabalhamos o dia todo e voltamos para casa", diz José Eduardo Fiates, superintendente da Fundação Certi. "Não basta sermos bons: precisamos cacarejar por aí que somos bons."

*O repórter viajou a convite da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate)

Estadão
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