Chacina de Osasco e Barueri, com 29 mortos, completa 10 anos
Assassinatos aconteceram entre 8 e 13 de agosto de 2015, após dois agentes de segurança serem mortos fazendo bico na região
Nenhum dos mortos tinha relação com o assassinato dos agentes de segurança, mas todas as vítimas eram da periferia. Matadores integravam a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana de Barueri. Quatro foram inocentados por falta de provas e outros quatro, condenados a penas centenárias.
A chacina de Osasco e Barueri, um dos maiores morticínios a céu aberto da história de São Paulo e do Brasil, completa 10 anos nesta quarta-feira (13). Foram pelo menos 29 vítimas fatais de um grupo de extermínio composto por agentes de segurança oriundos da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana da cidade de Barueri.
Encapuzados, fora de serviço e utilizando-se de equipamento e expertise adquiridos no serviço público, cerca de dez homens promoveram matanças em 8 e 13 de agosto de 2015. O motivo: vingança pelas mortes de um policial militar e um GCM enquanto faziam bicos em comércios locais.
Nenhuma das vítimas da chacina tinha relação com as mortes dos policiais nos dias anteriores. Eram pessoas que estavam tomando uma cerveja no bar ao lado de casa, se dirigindo a pé para a casa de algum parente, ou indo buscar comida em pizzarias e mercadinhos.
Vítimas foram surpreendidas do nada
Fernando Luís de Paula, à época com 35 anos, havia acabado de pintar a casa de sua mãe, Zilda Maria de Paula, quando saiu para cortar o cabelo. Parou no Bar do Juvenal, da esquina de sua casa no bairro Munhoz Júnior, para tomar uma cerveja com um conhecido. Levou um tiro na cara. Assim, sem mais nem menos.
Só nesse bar, dez pessoas foram baleadas, oito morreram no ato. Amauri Custódio, um dos sobreviventes, tomou um tiro no pescoço e ficou com sequelas no sistema respiratório. Morreu em 2024, em decorrência das sequelas, engasgado com um pedaço de carne num churrasco.
Letícia, uma adolescente atingida no meio da rua enquanto caminhava até a casa de uma amiga, morreria semanas depois, no hospital, em decorrência dos ferimentos. Devison Lopes Ferreira, cujo pai já havia sido morto numa chacina semelhante anos antes, foi morto com seis tiros no meio da rua. Seu corpo ficou mais de 12 horas no asfalto até ser removido pelas autoridades.
As avós que ficaram para criar os netos
Associações de mães e familiares de vítimas do Estado, como a Associação 13 de Agosto, liderada por dona Zilda Maria de Paula, realizam um trabalho hercúleo: além de organizarem protestos anuais e acompanharem julgamentos, promovem solidariedade e apoio mútuo.
Se uma família precisa de alimentação ou de remédios, dona Zilda e a Associação 13 de Agosto vão atrás, conseguem, e entregam para quem necessita. Há mães que perderam tudo, como Zilda. Outras ficaram responsáveis pela criação dos netos. Em idade avançada, têm sérios problemas de saúde.
E uma ajuda a outra. A Associação 13 de Agosto está em atividade cotidiana, geralmente longe dos holofotes. Apareceram na imprensa na primeira audiência, mas poucos souberam que as mães tiveram que dividir uma van com policiais militares arrolados como testemunhas dos réus.
O temor de que o ciclo se repita
A brutalidade fica ainda mais explícita por conta do medo eterno que essas famílias sentem. Seja por perseguição às próprias mães, ou por um possível envolvimento das novas gerações nesse tipo de conflito.
Uma das mães de Osasco, que obviamente não vamos identificar, contou em entrevista que teme pela vida dos netos. Sobretudo por ter ciência de que muitos dos autores da matança seguem soltos e sequer foram identificados.
Ao passo que a nova geração está crescendo, tornando-se adolescente e andando pelas ruas do bairro, como qualquer pessoa normal. Assim como seus pais andavam.