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Cooperativa de entregadoras lançará plataforma própria em SP

Tecnologia, que incluirá aplicativo, será lançada em maio. Outros serviços, como os de motoboys, poderão usar país afora

6 mar 2024 - 05h00
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Resumo
O coletivo de entregas Señoritas Courier, de São Paulo, está em fase final de desenvolvimento de uma plataforma para entregas. O lançamento está previsto para maio e pretende ser uma alternativa à tecnologia das grandes empresas. Entregadores do Distrito Federal, Santa Catarina e outros locais estão articulados em busca de uma solução viável para trabalhar com dignidade.
Coletivo Señoritas Courier, de São Paulo, trabalha na criação de uma plataforma como alternativa às grandes empresas do setor
Coletivo Señoritas Courier, de São Paulo, trabalha na criação de uma plataforma como alternativa às grandes empresas do setor
Foto: Gabriel Cicconi

Señoritas Courier, coletivo de entregas que usa bicicletas e emprega mulheres e trans em São Paulo, lançará em maio sua plataforma, que prevê aplicativo próprio. A solução tecnológica pretende ser uma alternativa às empresas que dominam o setor, como iFood, proporcionando melhores condições de trabalho.

Por enquanto, o coletivo surgido em 2018 utiliza WhatsApp para conectar clientes, entregas e entregadoras. A experiência de cinco anos levou ao dilema de continuar trabalhando para quem é dono das plataformas e aplicativos, ou desenvolver ferramentas próprias.

“A gente está sendo massacrado pela tecnologia, está na hora de resolver esse negócio”, diz Aline Os, fundadora da Señoritas Courier. “Quais plataformas você conhece que permitem saber exatamente quanto a entrega está custando para o cliente, quanto fica para o entregador, quanto é da empresa e quanto é tributo?”.

A plataforma e o futuro aplicativo desenvolvidos em parceria com o núcleo de tecnologia do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) pretende “revolucionar o modelo por dentro”, diz Aline Os.

Plataforma para trabalho digno

A principal preocupação da Señoritas Courier é ser transparente na relação com quem entregará as encomendas. Para isso, a tecnologia que está sendo desenvolvida trilha caminhos diferentes dos aplicativos que dominam o mercado.

Quando estiver chovendo, por exemplo, o cliente será avisado de que vai demorar e custar mais caro. Ao invés das punições por falta, o trabalhador poderá agendar seus horários.

Para que o acesso à plataforma e ao aplicativo sejam estendidos a outros serviços de entrega, no Brasil inteiro, será preciso criar uma federação.

Ela está sendo articulada e envolve de acadêmicos a motoboys de diversas regiões do país, como Santa Catarina e Distrito Federal.

 Rafael Grohmann, pesquisador e Coordenador do Observatório do Cooperativismo de Plataformas.
Rafael Grohmann, pesquisador e Coordenador do Observatório do Cooperativismo de Plataformas.
Foto: Marcelo Camargo/AB

Para o pesquisador Rafael Grohmann, da Universidade de Toronto, é fundamental que as cidades brasileiras pensem em alternativas fora das plataformas dominantes, como cooperativismo e economia solidária.

“A regulação é parte do processo, mas precisamos criar espaço para que alternativas existam. A gente tem visto ao redor do mundo exemplos de plataformas cooperativas, e um movimento forte na América Latina, com o Brasil sendo destaque. Precisamos criar políticas públicas para esse tipo de atividade”, diz Grohmann.

Em Florianópolis, motoboys querem autonomia

Em Florianópolis, nos últimos anos a articulação de entregadores levou à criação de um sindicato, uma associação, um coletivo, uma representação nacional dos motofretistas e o lançamento de um candidato a deputado estadual. Alexandre Santos participou disso tudo.

Ele explica que o ponto em comum dessas organizações é defender o trabalho autônomo, sem CLT, mas com dignidade. “Um aplicativo próprio facilitaria autonomia, trabalho digno e melhores pagamentos. Eliminaria o atravessador. Queremos uma plataforma que seja livre para todos os entregadores”, afirma Santos.

Seu grupo em Santa Catarina está contribuindo com o Señoritas Courier, em São Paulo, no desenvolvimento da plataforma e do aplicativo visando novas soluções e a resolução de problemas clássicos.

Entregadores enfrentam problemas que os aplicativos não resolvem, como o dilema entre deixar a comida na portaria ou levar até a porta do cliente
Entregadores enfrentam problemas que os aplicativos não resolvem, como o dilema entre deixar a comida na portaria ou levar até a porta do cliente
Foto: Rovena Rosa/AB

Um deles é a espera dos entregadores em restaurantes, até a comida ficar pronta. Isso acontece porque ambos são avisados do pedido ao mesmo tempo. O estabelecimento poderia acionar a entrega depois da encomenda. “É só colocar um botão pra isso”, explica a liderança dos motoboys catarinenses.

Outro problema, as confusões para entregar comida na portaria, poderia justificar taxa extra para levar a encomenda até a porta do apartamento.

Motoboys do DF querem alternativa aos aplicativos

A Associação dos Trabalhadores por Aplicativos e Motociclistas do Distrito Federal e Entorno (ATAM DF), surgiu da mobilização de motoboys durante a pandemia. Um dos puxadores dessas mobilizações, Abel Santos, 32 anos, é morador do Recanto das Emas, no Distrito Federal, distante 35 quilômetros do centro do poder em Brasília.

Sua trajetória é parecida com a de muitos motoboys: trabalhou para a Uber, fez entregas de moto, sofreu acidente e teve uma mão imobilizada. “Quando comecei, uma corrida da minha casa ao aeroporto rendia 76 reais; hoje, paga 35”, compara.

Abel Santos, de camiseta branca, discutindo regulamentação e direitos dos entregadores em Brasília, com deputados federais
Abel Santos, de camiseta branca, discutindo regulamentação e direitos dos entregadores em Brasília, com deputados federais
Foto: Divulgação

Assim como Aline Os, que se aproximou de acadêmicos em São Paulo, Abel Santos estabeleceu relação com pesquisadores de Brasília, da Bahia e da capital paulista, através dos quais conheceu a fundadora do Señoritas Courier.

“Comecei a ter essa consciência de que o cooperativismo pode ser uma saída para os trabalhadores, para que não fiquem na dependência. Quanto ao aplicativo, não pode ser uma coisa de mercado, senão vai ser corrompido, vai explorar os manos”, alerta o ativista.

Fonte: Visão do Corre
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