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Negócio de mineiro é trocar óleo por produtos de limpeza

Empreendedor recolhe óleo usado de cozinha em troca de desinfetantes, sabão, detergente e panos na cidade de Santa Luzia

4 dez 2023 - 05h00
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Magaive Mendes coloca música e mensagens no carro para convencer a comunidade de Santa Luzia a trocar óleo de cozinha usado por produtos de limpeza
Magaive Mendes coloca música e mensagens no carro para convencer a comunidade de Santa Luzia a trocar óleo de cozinha usado por produtos de limpeza
Foto: Arquivo pessoal

Magaive Mendes, 33 anos, trabalha com coleta de óleo de cozinha há três anos. Ele encontrou nesse ofício um meio para sobreviver à crise no início da pandemia da Covid-19 e, ao mesmo tempo, uma contribuição para a preservação da natureza. Ele mora no Bairro Bonanza, em Santa Luzia, há 40 minutos de Belo Horizonte. Todo o produto coletado é guardado na Vila Íris, periferia da cidade em que nasceu e foi criado.

Antes de continuar a história, uma explicação importante sobre o nome do empreendedor: quem assistiu séries televisivas nos anos 80 e 90 deve estar pensando que o nome Magaive tem relação com o protagonista da série Profissão: Perigo. E tem. O mineiro deveria se chamar Fábio, mas seu pai decidiu, no cartório, homenagear o herói da ficção, aportuguesando o nome McGyver.

“A profissão dele era perigosa, mas a minha não tem perigo nenhum, na verdade, livra o planeta de um perigo”, brinca. Contudo, há uma semelhança entre ficção e realidade: o negócio chamado Coleta Consciente não foi planejado, mas improvisado, solução para um problema de sobrevivência, como era característico do personagem da série.

Buscando soluções para sobreviver

Magaive precisava ganhar dinheiro durante a pandemia, ainda mais quando sua pequena loja de roupas foi roubada no dia em que fez aniversário. “Nunca vou esquecer a data e nem que tive que me virar, pois estava difícil trabalhar. Aproveitei o fato de estarmos na pandemia e todo mundo ficar em casa, era mais fácil conseguir óleo”, conta Magaive, relembrando incrível ideia que teve em 2020.

Na Vila Íris, em Santa Luiza, o óleo recolhido é armazenado em tambores até alcançar a quantidade suficiente para a venda, mil litros
Na Vila Íris, em Santa Luiza, o óleo recolhido é armazenado em tambores até alcançar a quantidade suficiente para a venda, mil litros
Foto: Arquivo pessoal

Após recolher o óleo, ele usa uma peneira para descartar as impurezas e chama o caminhão para buscar a cada mil litros recolhidos, quantidade mínima que as cooperativas compram. Para alcançar essa quantidade, precisa convencer muitas pessoas a guardarem o produto usado e armazená-lo de forma correta.

Primeiro, tem que deixar o óleo esfriar, após usar para alguma fritura. Depois, é preciso despejar o conteúdo em uma garrafa pet limpa, geralmente com um funil, e esperar um minuto para o óleo abaixar e completar o recipiente. Depois de vender o óleo, o que Magaive faz com as embalagens vazias? Doa para quem quiser revender ou reaproveitar.

Óleo é trocado por produtos de limpeza

A rotina do empreendedor começa toda manhã. “Preparo o carro com os desinfetantes, sabão, detergente e os panos, e saio pelas ruas corneteando.” Ele coloca um som no veículo anunciando a troca de óleo por produtos de limpeza e panos de prato. No início do empreendimento, três anos atrás, era mais fácil conseguir uma quantidade maior, as pessoas ficavam mais em casa. Agora, demora para juntarem uma garrafa de óleo. Por isso, Magaive precisa rodar por mais vilas.

Nilton Cunha, comerciante, enxerga um futuro melhor ao trocar óleo usado com Magaive Mendes em Santa Luiza, Minas Gerais
Nilton Cunha, comerciante, enxerga um futuro melhor ao trocar óleo usado com Magaive Mendes em Santa Luiza, Minas Gerais
Foto: Arquivo pessoal

Mas ele tem colaboradores fiéis. Além de residências, restaurantes, lanchonetes, padarias e pastelarias contribuem com a reciclagem. Érica Dias, comerciante, faz a troca do óleo que sobra das frituras da Lanchonete R Food. “Essa parceria é boa para o meio ambiente. A gente dá o óleo para ele e ele nos devolve com um brinde”. Como usa bastante óleo, a cada três dias junta uma boa quantidade para as barganhas com Magaive.

Nilton Cunha, dono de um restaurante em Santa Luzia, deixa o óleo separado em grandes tambores de plástico, as bombonas, e toda semana Magaive recolhe. “É bom porque todo mundo ganha. O óleo é caro e não dá pra ficar acumulando sem saber o que fazer”, diz o comerciante, reforçando a importância do reaproveitamento.

Negócio com consciência ambiental

O hábito de não desperdiçar é tradição em muitos lares de Minas Gerais. A dona de casa Aparecida das Graças Rodrigues, moradora do Bairro Frimisa, periferia de Santa Luzia, guarda o óleo para fazer sabão e, o que sobra, troca com Magaive por pano de prato e detergente. “Me preocupo também com a contaminação que o descarte errado causa nos rios”, ressalta, citando a poluição do Rio das Velhas, em Minas Gerais.

Magaive, claro, também sente que, além da oportunidade de empreendedorismo, está ajudando na preservação do planeta. “Antes eu não tinha esse pensamento e hoje em dia eu tenho. É gratificante o que a gente faz. De alguma forma, podemos conscientizar as pessoas de estar fazendo o certo.”

Aparecida das Graças Rodrigues, dona de casa, pensa na poluição do Rio das Velhas, em Minas Gerais, ao contribuir para reciclagem de óleo de cozinha
Aparecida das Graças Rodrigues, dona de casa, pensa na poluição do Rio das Velhas, em Minas Gerais, ao contribuir para reciclagem de óleo de cozinha
Foto: Arquivo pessoal

O descarte do óleo de cozinha pode mudar muitas vidas e ajudar a salvar o planeta, quando feito de forma correta. Ou pode se tornar um vilão. Quando é despejado na pia, vaso sanitário ou jogado no lixo, além de poluir a água, pode causar entupimento de canos e proliferar doenças. Mas na Vila Íris, Magaive e seus colaboradores estão revertendo esse processo.

ANF
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