Federação se manifesta sobre fim da 1ª praia de naturismo do Brasil
A praia fica a cerca de 80 km de Florianópolis [...]
Na última quarta-feira, 17 de dezembro, a Prefeitura de Balneário Camboriú, a 80 km de Florianópolis (SC), decretou a proibição do naturismo ou qualquer outra prática semelhante nas faixas de areia da cidade, como a Praia do Pinho, considerada a primeira do gênero em todo o Brasil.
Em vigor desde 2006, o Plano Diretor previa a reserva de praias do município para o naturismo, porém a prefeitura alega em nota que, "ao longo dos anos, a Praia do Pinho perdeu o verdadeiro sentido de uma praia de naturismo e passou a ser utilizada para atos ilícitos e crimes sexuais."
Assim como informou a prefeita Juliana, a decisão é resultado da escuta e do diálogo com forças de segurança, moradores e com quem vive a realidade dessas praias no dia a dia, garantindo a "segurança, ordem e respeito aos moradores, visitantes e ao meio ambiente."
Em nota enviada ao Viagem em Pauta, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifestou sua preocupação e pesar diante do encerramento da prática no local, em decorrência da aprovação da PL 10/2022 e das alterações introduzidas pelo novo Plano Diretor do município.
"A Federação Brasileira de Naturismo entende que o fim da Praia do Pinho como área naturista representa uma perda histórica, cultural e social, fruto de omissões, desinformação, interesses paralelos e intolerância", diz a nota.
No texto, a Federação lembra que a maioria das pessoas que hoje pedem o fim da prática escolheu morar ali quando o local já era oficialmente naturista e tinha conhecimento da vocação da praia. "Optar por mudar a lei, em vez de respeitar o ambiente escolhido, revela um comportamento egoísta e excludente", analisa.
A FBrN também questiona se, no lugar de abolir o naturismo, não seria o caso de "fortalecer a segurança, a fiscalização e a aplicação da lei", uma vez que "práticas criminosas, inclusive de natureza sexual e relacionadas ao uso de drogas, ocorrem em diversos espaços públicos de Balneário Camboriú, e não exclusivamente na Praia do Pinho."
"Infelizmente, a falta de ação do poder público e a desenfreada ação imobiliária induzidos pela política, jogam a culpa no naturismo. Não foi falta de solicitações de segurança, pois essas ações criminosas, tanto sociais como ambientais, não ocorrem na faixa de areia e sim na trilha que é uma área pública. Nos solidarizamos com todos os naturistas e continuaremos a nossa luta e busca por mais áreas naturistas pelo Brasil", diz Paula Silveira, presidente da FBrN, em depoimento exclusivo para o Viagem em Pauta.
Parte dessa faixa de areia de 500 metros de extensão, rodeada por costões e montanhas, entre as praias do Estaleirinho e de Laranjeiras, é dedicada à pratica de naturismo desde o início da década de 1980.
Naturismo não é nudismo desordenado
A prática do naturismo (equivocadamente, chamada de 'nudismo') é muito mais do que ficar nu em público.
Embora ainda seja associado à equivocada ideia de exibicionismo ou de sexo fácil, o naturismo é uma filosofia que propõe, entre outras práticas, a medicina natural, o ecoturismo, a educação ambiental e o esporte como agente agregador.
"Seguiremos defendendo o naturismo como prática legítima, ética e respeitosa, bem como o direito à diversidade, ao diálogo e à convivência democrática", defende a Federação Brasileira de Naturismo, que alerta também para os efeitos benéficos, tanto física como psicologicamente, da nudez social.
Para a presidente da FBrN, o Brasil ainda é um país muito sexualizado e "a curiosidade está no que fica escondido". Por isso, costuma-se ver aquilo tudo apenas como corpos.
A própria Federação recomenda consultar as áreas delimitadas e regras de locais para a prática do naturismo, como a proibição de fotografar, gravar, filmar ou fazer qualquer tipo de registro de imagens de outros naturistas.
Assim como é proibido permanecer com roupa em locais exclusivos ao naturismo, considera-se também uma infração de natureza grave "portar-se de forma desrespeitosa ou discriminatória em relação a outros naturistas ou visitantes".
Atualmente, a FBrN reconhece sete praias do gênero no Brasil: Massarandupió (BA), Tambaba (PB), Barra Seca (ES), Olho de Boi (Búzios, RJ), Abricó (Grumari, RJ), Pedras Altas (PR) e Pinho (SC).