SÃO PAULO - Nos últimos dez anos, o Estado de São Paulo registrou uma queda de 39% na mortalidade por aids e de 33% de novos casos da doença, mas o aumento da incidência, principalmente entre homens jovens, ainda é uma preocupação. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde nesta terça-feira, 1º, quando é celebrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids.
"A gente vê uma queda importante na mortalidade e a incidência de infecção vem declinando em um aspecto geral, mas ainda temos um aumento na população jovem. Não é um aumento estrondoso, mas vem ocorrendo. São pessoas que não viram os casos graves de infecção nos anos 1980 e que acham que o tratamento é a cura", diz Alexandre Gonçalves, coordenador do Programa Estadual de IST/Aids.
A secretaria informa que, em 2010, o Estado contabilizou 3.023 mortes, totalizando uma taxa de 7,3 óbitos por 100 mil habitantes. No ano de 2019, a taxa passou para 4,2 por 100 mil habitantes, com 1.840 mortes. A incidência de novos casos teve queda de 33,2%, de 20,5 casos por 100 mil habitantes por ano em 2010 para 13,7 no ano passado.
A pasta associa a queda de óbitos ao acesso ao tratamento antirretroviral, que está disponível de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS), e também à realização de medidas de testagem, para evitar o diagnóstico tardio, e ações informativas.
"O que ajudou foi o trabalho em conjunto, com medidas de educação e cidadania, para chegar às populações mais vulneráveis, porque não adianta ficar na unidade esperando que a população venha. Estamos fazendo ações extramuros para testagem, para já começar o tratamento com antirretroviral e evitar o diagnóstico tardio. Assim, a pessoa não desenvolve a aids", explica Gonçalves.
Segundo ele, o tratamento baixa a carga viral no organismo e, com a evolução das medicações, houve um aumento da gama de medicamentos disponíveis, que têm uma posologia mais fácil, permitindo uma adesão maior ao tratamento.
Ainda de acordo com o coordenador, ações combinadas de prevenção, com a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP), têm auxiliado no processo de redução das infecções.
"No passado, falávamos só em preservativo, que continua sendo muito importante. Agora, falamos em prevenção combinada, porque cada pessoa tem o seu modo de prevenção. Tem a PrEP, para as pessoas que não conseguem se adaptar a outros métodos, a PEP para quem teve uma exposição de risco, os preservativos."
Casos entre homens jovens preocupam
As estatísticas da secretaria apontam queda de casos positivos de HIV entre mulheres, com redução de 10,8%, mas um aumento de 58% entre os homens.
No ano passado, o sexo masculino teve a maior taxa de detecção de infecção pelo vírus. Foram 72,4 novas infecções por 100 mil habitantes na faixa entre 20 e 24 anos.
"Desde que começou a epidemia, o número de casos sempre foi maior entre homens do que em mulheres. Quando tem queda entre homem heterosexual, vai ter queda entre mulheres", explica o coordenador.
Renato Russo - Filho de uma professora de inglês, o cantor Renato Russo seguiu os passos da mãe e ensinou o idioma em um curso particular, antes de estourar no Brasil como vocalista da banda Legião Urbana.
Foto: Divulgação / Estadão
Tom Fogerty - Tom Fogerty era guitarrista do Creedence Clearwater Revival, banda norte-americana que fez bastante sucesso nos anos 1960. Irmão do vocalista e líder da banda John Fogerty, Tom deixou o grupo em 1971 por problemas de relacionamento. Ele morreu em setembro de 1990, vítima de tuberculose e insuficiência respiratória agravadas pelo vírus da aids.
Foto: Jan Persson/Divulgação / Estadão
Eric Lynn Wright - Eazy-E, nome artístico de Eric Lynn Wright, foi um rapper considerado padrinho do 'gangsta rap'. Descobriu que era HIV positivo em 1995, quando foi internado para tratar do que pensava ser asma. Na época, ele disse em comunicado que estava tornando público a situação para que milhares de jovens fãs aprendessem o que era real sobre a aids. Eazy-E morreu naquele mesmo ano.
Foto: Divulgação / Estadão
Rodolfo Bottino - Bastante famoso no Brasil por causa de seu papel na minissérie 'Anos Dourados', da TV Globo, Rodolfo Bottino morreu em dezembro de 2011, vítima de embolia pulmonar. Em 2009, ele revelou estar com o vírus HIV e que convivia com ele desde o início da década de 90.
Foto: João Caldas/Divulgação / Estadão
Wagner Bello - Wagner Bello ganhou fama no Brasil ao interpretar o personagem Etevaldo no 'Castelo Rá-Tim-Bum', sucesso entre as crianças no início da década de 1990. No auge da fama, porém, ele descobriu que tinha aids e morreu algumas semanas depois disso, em 12 de agosto de 1994.
Foto: Reprodução / Estadão
Cláudia Magno - A atriz e bailarina Cláudia Magno é mais uma que morreu de insuficiência respiratória acarretada pela aids. Sua obra mais marcante foi o filme 'Presença de Marina', em 1988. Quando morreu, em 1994, estava trabalhando na novela 'Sonho Meu', da TV Globo.
Foto: Reprodução / Estadão
Sandra Bréa - Considerada uma das mulheres mais bonitas do Brasil nas décadas de 1970 e 1980, Sandra Bréa participou de inúmeras novelas, além de estrelar shows e um programa de TV. Assumiu ter sido contaminada pelo vírus HIV em 1993 e passou a lutar contra a discriminação. Morreu em maio de 2000, depois de descobrir um tumor maligno no pulmão.
Foto: Divulgação / Estadão
Lauro Corona - Lauro Corona teve uma carreira meteórica como ator. Com 21 anos, foi par da atriz Glória Pires em 'Dancin' Days' e, em seu primeira novela, ganhou o prêmio APCA de melhor ator. Depois disso, fez diversas outra novelas e filmes. Seu último trabalho foi em 'Vida Nova', quando já sofria com dores. Morreu em julho de 1989, depois de algum tempo internado em uma clínica.
Foto: Divulgação / Estadão
Caio Fernando Abreu - Jornalista e escritor, Caio Fernando Abreu foi considerado um dos expoentes de sua geração pela forma de escrever principalmente sobre solidão. Ele descobriu o vírus HIV durante uma estadia na França, em 1994. Voltou ao Brasil e decidiu voltar para a casa dos pais, em Porto Alegre, onde morreu no início de 1996.
Foto: Divulgação / Estadão
Herbert José de Souza (Betinho) - O sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o Betinho, foi um dos grandes ativistas do combate ao HIV. Ele confirmou sua doença em 1986, contraída numa de suas inúmeras transfusões de sangue no tratamento da hemofilia. Depois disso, conduziu uma grande campanha nos meios de comunicação para esclarecer às pessoas sobre aids. Morreu em 1997.
Foto: Divulgação / Estadão
Henrique de Souza Filho (Henfil) - Irmão de Betinho, o cartunista e escritor Henfil também sofria com a hemofilia. Muito envolvido com a política do Brasil e radicamente contra a ditadura, ele foi um dos fundadores do PT. Morreu em 1988, vítima das complicações da aids, no auge de sua carreira, com seu trabalho aparecendo nas principais revistas do Brasil.
Foto: Wagner Avvancini/Divulgação / Estadão
Michel Foucault - Um dos grandes filósofos e historiadores de ideias, Michel Foucault fez sucesso também como crítico literário. O pensador, que passou grande parte da vida ao lado de Daniel Defort, morreu em junho de 1984. Após a sua morte, seu companheiro criou a fundação de caridade AIDES em sua memória.
Foto: Divulgação / Estadão
Rock Hudson - Um dos grandes galãs de Hollywood entre os anos 1950 e 1960, Rock Hudson estrelou diversos filmes, entre eles 'Assim Caminha a Humanidade' e 'Sublime Obsessão'. Ele morreu aos 59 anos, em 1985, sendo a primeira grande celebridade a morrer de uma doença surgida em decorrência da aids.
Foto: Divulgação / Estadão
Anthony Perkins - Imortalizado por sua performance como Norman Bates em 'Psicose', Anthony Perkins foi casado, mas nunca negou seus relacionamentos homossexuais. Nunca admitiu ter contraído a AIDS, mas morreu em setembro de 1992 em decorrências da doença.
Foto: Reprodução / Estadão
Compartilhar
Publicidade
De acordo com o levantamento da pasta, a taxa de incidência da aids é menor entre as mulheres e também caiu no período avaliado: de 13 para 6,2 por 100 mil. No caso dos homens, a redução foi de 28,5 para 21,7 por 100 mil.
O adoecimento pelo vírus é mais acentuado entre jovens gays.
"Desde 2010, 8.462 jovens de ambos os sexos adoeceram. Porém, entre o sexo masculino, na faixa etária de 15 a 19 anos, houve um aumento de 1,8 vezes na taxa de incidência da aids, que subiu de de 2,9 para 5,2 por 100 mil até 2019. Crescimento similar ocorreu na faixa de 20 a 24 anos: elevou-se 1,4 vezes, saltando de 25,4 para 34,9 por 100 mil homens no mesmo período", informa a pasta.
O primeiro caso da doença ocorreu em 1980 e, até junho de 2020, foram notificados 281.093 casos de aids e 120.371 mortes no Estado.