No Congresso, Doria pede que Bolsonaro respeite seu ministro da Saúde e posa com Coronavac
Governador pediu a Bolsonaro 'grandeza para liderar o País para a saúde'; mais cedo, presidente desautorizou Eduardo Pazuello, se referiu à Coronavac como 'a vacina chinesa de João Dória' e disse que o imunizante não será comprado
BRASÍLIA - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, e pediu a ele "grandeza para liderar o País para a saúde". O tucano pediu ainda que ele respeite seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. "Não é razoável que um presidente não respeite seu ministro da saúde", disse Doria.
"A vacina do Butantã é a vacina do Brasil, de todos os brasileiros", disse. O medicamento, em fase de testes contra a covid-19, é desenvolvido pela chinesa Sinovac e o Instituto Butantã. Após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciar nesta terça-feira a intenção de aquisição de 46 milhões de doses da vacina, o presidente Jair Bolsonaro publicou nesta quarta nas redes sociais que não iria comprar a "vacina chinesa".
Doria fez um discurso no Senado, acompanhado de alguns parlamentares, inclusive o deputado General Peternelli (PSL-SP), da base do governo federal. Antes das declarações, o grupo fez fotos com amostras da vacina Coronavac nas mãos. O diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, acompanhou a coletiva.
Nesta quarta-feira, 21, Doria está em Brasília para uma série de compromissos que envolvem discussões sobre a Coronavac. Doria tinha uma reunião às 10h com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mas, segundo a assessoria do governador, o encontro foi cancelado. A assessoria de Doria informou que recebeu a informação de que Maia estava indisposto e teria cancelado agendas do dia. Às 13h, ainda de acordo com agenda divulgada pela assessoria do governador, ele tem uma reunião com o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres.
"O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou ontem (terça-feira) que a vacina do Butantã e outras aprovadas dentro do protocolo da Anvisa seriam adquiridas", disse Doria.
Durante a coletiva, o Ministério da Saúde divulgou uma nota de esclarecimento e o secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, fez uma declaração dizendo que não houve qualquer compromisso entre a Pasta e o governo de São Paulo, ou com Doria, para aquisição da Coronavac.
Segundo Franco, houve interpretação equivocada da fala do ministro da Saúde. Doria mais uma vez rebateu o governo e questionou então se todos haviam entendido errado a mensagem e ressaltou que em nenhum momento foi dito que a vacina já estava aprovada. "Esperamos que a posição do ministro expressa ontem (terça-feira) seja a do governo Bolsonaro", disse.
O argumento de que houve má interpretação contraria documento assinado pelo próprio ministro Pazuello e enviado ao Instituto Butantã na segunda, 19, um dia antes do anúncio oficial da compra.
No ofício, endereçado ao diretor do Butantã, Dimas Covas, o ministro confirma a intenção de compra. "Nesta oportunidade, informo a intenção deste Ministério da Saúde em adquirir 46 milhões de doses da referida vacina (Vacina Butantan - Sinovac/Covid-19), em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, ao preço estimado de US$ 10,30 (dez dólares e trinta centavos) por dose", diz trecho do documento.
No ofício, Pazuello destaca que só "será possível prosseguir com o processo de aquisição após o regular registro da vacina na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme prevê o artigo 12 da Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, ou caso sobrevenha alguma alteração legislativa".
"Conforme vocês puderam acompanhar, aceitando o convite do ministro da Saúde, 24 governadores participaram de uma reunião histórica, acompanhada pelos líderes do governo no Congresso, promoveram essa reunião conciliatória, pacífica e construtiva e com base na ciência e com base na prioridade da saúde da população", afirmou Doria.
Para comprovar que Pazuello confirmou a intenção de compra, o governo de São Paulo disponibilizou um vídeo com a íntegra da reunião do ministro com os governadores, na qual ele anuncia o acordo com o Butantã para a aquisição dos 46 milhões de doses.
Doria disse que sempre defendeu o desenvolvimento de todos as vacinas e que o Brasil não pode estar numa corrida pelas vacinas e sim pela vida. "Como pai desejo que meus filhos tomem a vacina", disse. "Não é processo eleitoral que salva, é vacina", disse.
Depois do pronunciamento no Senado, Doria voltou a falar sobre o tema em suas redes sociais. Pediu ao presidente que "lidere o Brasil para a saúde, a vida e a retomada de empregos" e afirmou que a guerra "não é eleitoral, é contra a pandemia". "Não podemos ficar uns contra os outros. Vamos trabalhar unidos para vencer o vírus. E salvar os brasileiros", declarou o tucano.
Peço ao presidente Jair Bolsonaro que tenha grandeza. E lidere o Brasil para a saúde, a vida e a retomada de empregos. A nossa guerra não é eleitoral. É contra a pandemia. Não podemos ficar uns contra os outros. Vamos trabalhar unidos para vencer o vírus. E salvar os brasileiros.
— João Doria (@jdoriajr) October 21, 2020