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Crescente demanda por cirurgia genital feminina gera debate no Brasil

1 fev 2018 - 19h29
(atualizado às 19h37)
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As brasileiras estão optando cada vez mais por cirurgias com objetivo de melhorar a aparência de suas genitálias, gerando um debate sobre empoderamento sexual e sobre a pressão da perfeição física.

Cirurgiões plásticos brasileiros, conhecidos pelo pioneiro "Brazilian Butt Lift", que transfere gordura de outras áreas do corpo para as nádegas, presenciam um grande aumento na demanda pela labioplastia, uma cirurgia que diminui ou aumenta os lábios vaginais.

Críticos dizem que a tendência é um sinal preocupante de como a pornografia está deformando o senso feminino de seus corpos
Críticos dizem que a tendência é um sinal preocupante de como a pornografia está deformando o senso feminino de seus corpos
Foto: Shutterstock

O número de mulheres no Brasil que fizeram a cirurgia cresceu 80 por cento, atingindo 23.155 em 2016, o número mais alto do mundo, de acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps).

Em comparação, os Estados Unidos registraram 13.266 procedimentos.

Mulheres estão optando pela cirurgia em números recordes apesar da mais profunda recessão brasileira, com a economia encolhendo mais de 7 por cento entre 2015 e 2016.

Críticos dizem que a tendência é um sinal preocupante de como a pornografia está deformando o senso feminino de seus corpos, enquanto uma preferência cultural para remoção de pelos pubianos pressiona as mulheres a se conformarem com as novas noções de perfeição genital, rotulada por alguns como "a vagina desenhada".

Cirurgiões plásticos, no entanto, argumentam que isto é uma forma de empoderamento feminino.

"Mulheres latinas vivem em uma cultura macho: ele é quem manda no escritório, em casa, na vida sexual. Ag

ora como mulheres ... nós estamos liderando em casa e em trabalhos e nós queremos comandar nossas vidas sexuais", disse Lina Triana, cirurgiã plástica colombiana que realiza o procedimento e que escreveu e ensinou sobre ele.

"Mesmo em uma economia ruim, isto é algo que nós precisamos".

A labioplastia foi criada na década de 1970 como cirurgia reconstrutiva para remover tecidos excedentes dos lábios menores, que podem causar dor durante o sexo e atividades físicas, disse Triana.

Mas técnicas foram apuradas e a demanda cresceu 45 por cento mundialmente de 2015 para 2016, tornando a labioplastia a cirurgia cosmética de crescimento mais rápido, de acordo com a Isaps.

A popularidade de procedimentos genitais foi impulsionada por celebridades, incluindo a personalidade da TV norte-americana Khloe Kardashian, que disse que a cirurgia para apertar a vagina foi um intenso tópico de conversas para suas irmãs Kim e Kourtney após terem filhos.

Darlane Andrade, professora de estudos de gênero na Universidade Federal da Bahia, disse que mulheres no Brasil enfrentam ideais de beleza cada vez mais sexualizados transmitidos através da pornografia, somados à pressão para serem fisicamente perfeitas.

"É a cultura de que a brasileira é sexualizada, que ela vai ter um corpo e uma genitália que são sexualmente atraentes", disse Andrade, expressando ceticismo de que a popularidade do procedimento é por conta de crescente liberação feminina.

Se uma mulher está buscando agradar um homem, Andrade pergunta: "Que empoderamento é esse?"

Sergio Almeida, professor de economia da Universidade de São Paulo, disse que o aumento na demanda apesar da recessão pode ser em parte porque brasileiras que fariam o procedimento nos Estados Unidos, um destino popular para cirurgias cosméticas, estão poupando dinheiro ao realizá-lo no Brasil.

Embora o procedimento - que alguns médicos alertam poder causar cicatrizes ou infecção - custe cerca de 6 mil a 12 mil reais no Brasil, preços nos EUA variam de 8 mil a 22 mil dólares.

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