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Alimentos que não nutrem: estudo revela o risco dos ultraprocessados na alimentação de crianças

Unicef alerta para elo entre consumo crescente das formulações industriais e o avanço da obesidade infantil

14 dez 2025 - 04h59
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Resumo
Estudo do Unicef alerta para o aumento da obesidade infantil, relacionada ao consumo de ultraprocessados, e destaca a necessidade de políticas públicas para promover alimentação saudável e combater desigualdades sociais.
Estudo revela o risco dos ultraprocessados na alimentação de crianças e adolescentes
Estudo revela o risco dos ultraprocessados na alimentação de crianças e adolescentes
Foto: Reprodução/unsplash

Um estudo publicado pelo Unicef em dezembro de 2025 acende um novo alerta para a alimentação infantil. A revisão, que segue a recente publicação da Lancet Series 2025, mostra que o número de crianças e adolescentes em idade escolar com sobrepeso ou obesidade infantil duplicou entre 2000 e 2022, passando de 194 milhões para 391 milhões.

A revisão vai ao encontro do Relatório Público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional de 2022, que também mostrou um aumento no número de crianças com obesidade no Brasil. Os dados, referentes a pessoas acompanhadas pela Atenção Primária à Saúde até meados de setembro daquele ano, revelaram que 340 mil crianças de 5 a 10 anos foram diagnosticadas com obesidade.

Mas o estudo do Unicef vai além do número de crianças e adolescentes doentes. Ele identifica a raiz do problema: o consumo de alimentos ultraprocessados. Segundo o documento, o aumento da obesidade está intrinsecamente ligado ao maior acesso a alimentos que saciam a fome, mas não nutrem.

“A gente entende que as crianças são especialmente vulneráveis a esses alimentos e a toda exposição porque, até uma certa idade, elas ainda não escolhem o que elas consomem. Elas vivem em um mundo em que o marketing dos ultraprocessados é muito agressivo. Ele está em todos os locais onde as crianças estão, o que torna impossível a não exposição a esses alimentos que são muito palatáveis, mas que fazem mal para a saúde a longo prazo”, explicou Stephanie Amaral, porta-voz especialista em saúde e nutrição do Unicef no Brasil.

tephanie Amaral, porta-voz especialista em saúde e nutrição do Unicef no Brasil
tephanie Amaral, porta-voz especialista em saúde e nutrição do Unicef no Brasil
Foto: Unicef

Muitos alimentos com “cara de saudáveis” são, na verdade, uma bomba com teor elevado de açúcares, gordura, sódio e aditivos químicos, como corantes e aromatizantes. Em contrapartida, têm baixo teor de fibras, vitaminas e minerais. Alguns exemplos são pães de forma, batatas fritas congeladas, barras de cereal, iogurtes aromatizados e sucos de caixinha.

Aqueles alimentos com embalagens bonitas, com imagens de frutas e cereais, são, na verdade, ultraprocessados, que favorecem o aumento do peso infantil e o surgimento da obesidade.

Alguns produtos possuem “alegações nutricionais” em sua embalagem, afirmando serem ricos em fibras ou algum tipo de vitamina. No entanto, Stephanie Amaral explica que a quantidade de vitaminas e minerais presentes nesse tipo de alimento é ínfima perto da necessidade nutricional real de uma criança, e alerta para a “rotulagem frontal” que mostra que aquele é um alimento ultraprocessado.

“A rotulagem frontal se refere aos alertas que vêm na frente do alimento. No Brasil, foi instituído como uma lupa, que informa se aquele alimento tem alto teor de sódio, gorduras e açúcares adicionados”, explicou a porta-voz, que aponta que a ideia desse tipo de rotulagem é auxiliar pais e adolescentes a entenderem que aquele alimento não é bom para a saúde, mesmo que tenha alguma alegação nutricional na embalagem.

A fome é a raiz da obesidade

Desde a Idade Média, o sobrepeso é frequentemente associado à fartura, pois representava um contraste com a escassez de alimentos. Entretanto, essa não é a realidade das sociedades pós-modernas.

Isso porque os alimentos ultraprocessados são mais baratos do que alimentos naturais. Basta comparar o preço de um macarrão instantâneo ao quilo do tomate. No entanto, esses alimentos, ricos em açúcares, gorduras e sódio, são responsáveis pelo sobrepeso.

O estudo revela um padrão no mundo inteiro. Enquanto em países desenvolvidos os ultraprocessados já são a base da alimentação infantil, em países emergentes, como o Brasil, a transição é acelerada. Já nos países subdesenvolvidos, o consumo é menor, mas cresce rapidamente. Em todos os casos, a desigualdade no acesso a alimentos frescos e o alto custo de comida saudável fazem com que a população de baixa renda dependa cada vez mais de produtos ultraprocessados.

No Brasil, onde o fantasma da fome espreita, a obesidade reforça a insegurança alimentar. Ela mostra que o acesso a comida de baixa qualidade é a única saída para quem não tem o que comer.

“O Brasil saiu do mapa da fome, isso é uma celebração enorme, mas a gente precisa sempre refletir: sair da fome para comer qualquer coisa? Não, a gente precisa sair da fome para garantir a segurança alimentar e nutricional, que é uma alimentação saudável em quantidade e qualidade suficientes para as necessidades daquela pessoa”, reforçou a porta-voz.

Ela ainda explica que a raiz da obesidade e da desnutrição é a mesma: “a pobreza e as desigualdades sociais levam tanto à fome extrema e à desnutrição quanto a outros níveis de insegurança alimentar que pode ser a obesidade associada a um outro tipo de desnutrição”.

Importância das escolas na qualidade nutricional das crianças 

Um brasileiro estuda, em média, 14,5 anos, desde o jardim de infância até o fim do ensino médio. Durante todo esse período, pode contar com a alimentação fornecida nas escolas brasileiras.

A alimentação é garantida pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), uma política pública brasileira que oferece refeições saudáveis e educação alimentar para estudantes da educação básica pública. Esse programa visa garantir 70% das calorias diárias necessárias aos alunos e é considerado um dos maiores programas de alimentação escolar do mundo.

A Lei nº 11.947, decretada em 16 de junho de 2009, transformou a alimentação escolar em um direito legal dos estudantes e um dever do Estado. Inicialmente, o objetivo era garantir comida na mesa de crianças e adolescentes que não tinham alimento em casa. Hoje, o PNAE tem um novo propósito: garantir alimentos que nutrem, além de saciar a fome.

“O PNAE traz a redução de ultraprocessados. Ele vem diminuindo gradualmente ao longo dos anos. Agora, está em 15% para diminuir para 10%. Ele traz a agricultura familiar, então não contém agrotóxicos, além de fortalecer a cultura local”, explicou Stephanie Amaral.

Entretanto, a porta-voz do Unicef alerta para outra questão: o PNAE só garante a alimentação em escolas públicas. Isso significa que, em escolas privadas, a alimentação fica por conta dos pais e das cantinas que vendem alimentos. E, nesse caso, o marketing ferrenho dos ultraprocessados leva a melhor.

“O Unicef vem com o argumento de que a gente precisa que a escola seja um local de proteção da criança e do adolescente em relação à publicidade agressiva desses alimentos e em relação à comercialização e doação também desses alimentos”, explicou.

Em 2023, o decreto presidencial 11.821 trouxe a premissa de que uma escola saudável deve ser livre de toda publicidade de ultraprocessados, bem como da venda deles. O objetivo é que o decreto se torne leis municipais, válidas não só para as escolas públicas, mas também para as privadas.

“Nas escolas livres de ultraprocessados, é possível proteger a criança, oferecer e educar para uma alimentação saudável. A escola é um ambiente controlado, ideal para que haja essa proteção”, contou a porta-voz.

Por que devemos cuidar da alimentação?

A obesidade é uma doença crônica, e pessoas com predisposição genética têm mais chances de desenvolvê-la. Entretanto, o ambiente em que a pessoa está inserida também influencia no desenvolvimento da doença.

Ou seja, dois indivíduos com predisposição genética à obesidade, vivendo em ambientes distintos - um com acesso a alimentos naturais e outro com acesso a alimentos ultraprocessados - vão responder de forma diferente à doença.

A obesidade é responsável por uma série de outras doenças, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, problemas nas articulações, dificuldades respiratórias e doenças do fígado. O estudo do Unicef reforça que a obesidade também causa o adoecimento de crianças e adolescentes.

“Existem fatores de risco cardiometabólicos, hipertensão, perfis lipídicos anormais, risco de desenvolver diabetes tipo 2, menor desempenho escolar, problema de saúde mental, ansiedade, depressão e hiperatividade. Então, tudo isso veio no estudo em termos de evidência que a gente já tem em criança e adolescente”, pontua a especialista.

Estudo do Unicef é um chamado para a ação

Stephanie Amaral explica que o estudo é um chamado para ação. O objetivo não é trazer dados alarmantes, mas mostrar como crianças e adolescentes estão mais vulneráveis a esse tipo de alimento e aos efeitos causados no corpo.

O estudo mostra que os sistemas alimentares estão falhando no mundo todo de duas formas: não estão fornecendo alimentos nutritivos, seguros, acessíveis e sustentáveis, e estão inundando os ambientes alimentares com alimentos ultraprocessados, pobres em nutrientes e pouco saudáveis.

O Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS) fazem recomendações conjuntas de medidas e políticas legais obrigatórias para criar ambientes alimentares saudáveis, incluindo:

Fonte: Portal Terra
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