O amor na terceira idade
Relacionamentos depois dos 60: mais amor, menos preconceito e atenção aos abusos invisíveis
Especialistas destacam, no Mês dos Namorados, os benefícios de se viver um novo amor na maturidade — e os cuidados com relações tóxicas
Amar não tem idade. Cada vez mais pessoas com 60 anos ou mais estão se permitindo viver novas histórias de amor, seja iniciando relacionamentos ou aprofundando laços afetivos já existentes. No entanto, apesar do crescimento da população idosa no Brasil, os relacionamentos nessa fase da vida ainda enfrentam preconceitos, desinformação e, em muitos casos, formas silenciosas de abuso que passam despercebidas.
Dados do IBGE mostram que o país tem mais de 32 milhões de pessoas acima dos 60 anos, e muitas delas seguem em busca de afeto, intimidade e companheirismo. Além do prazer da convivência e da troca emocional, os relacionamentos na terceira idade também impactam positivamente a saúde mental e física: promovem bem-estar, reduzem o risco de depressão, aumentam a autoestima e fortalecem o senso de pertencimento, favorecendo um envelhecimento mais ativo e feliz.
“Viver um relacionamento nessa fase pode ser transformador. O carinho, o toque, o diálogo e o sentimento de ser valorizado são fundamentais em todas as idades, mas ganham uma dimensão ainda mais profunda na maturidade. O amor pode renovar os sentidos, impulsionar o cuidado consigo mesmo e trazer mais propósito ao dia a dia”, afirma o psicólogo Francisco Carlos Gomes, especialista em envelhecimento.
Ele ressalta, porém, que é preciso estar atento a relações que não são saudáveis. “Infelizmente, muitos idosos vivenciam situações de abuso emocional, chantagem, controle financeiro, dependência afetiva e isolamento. Mesmo sem marcas visíveis, tudo isso também é uma forma de violência”, alerta.
O especialista comportamental Jotta Junior, cofundador do canal Longidade, destaca que ainda existe um forte tabu social em torno da afetividade na velhice. “É como se o idoso tivesse que abrir mão do amor e do desejo, como se sua função fosse apenas cuidar de netos ou esperar o tempo passar. Essa visão é excludente, preconceituosa e gera vergonha, culpa e solidão”, afirma.
Para ambos, é essencial que a sociedade reconheça o direito das pessoas idosas de viverem relações amorosas plenas e saudáveis — e também que se combata o preconceito que silencia histórias, desejos e vivências legítimas. O envelhecimento pode, sim, ser um momento de novas conexões, desde que com respeito, autonomia e cuidado mútuo.