TRG ganha espaço como abordagem complementar na saúde mental
Entenda o que é a Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG) e como ela atua no cuidado da saúde mental
Diante do avanço dos transtornos emocionais e dos limites observados nos tratamentos tradicionais, novas abordagens terapêuticas têm ganhado espaço no debate sobre saúde mental.
Entre elas está a Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG), metodologia desenvolvida para atuar no reprocessamento de registros emocionais associados a experiências adversas.
Segundo o psicólogo e pesquisador Jair Soares dos Santos, fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT), a proposta da TRG é ampliar o cuidado emocional para além do manejo pontual dos sintomas.
"A saúde psíquica não pode entrar na agenda apenas quando há colapso. Assim como exames de rotina ajudam a prevenir doenças físicas, a terapia precisa olhar para registros emocionais que vêm se acumulando em silêncio", afirma.
Como a TRG atua no sistema nervoso
A metodologia se baseia em princípios de neuroplasticidade e propõe acessar memórias associadas a experiências adversas que continuam ativando respostas automáticas de estresse no organismo.
Diferentemente de abordagens centradas apenas na ressignificação cognitiva, a TRG busca atuar diretamente na forma como o sistema nervoso reage a esses registros.
"A técnica é estruturada em cinco protocolos sequenciais, que percorrem desde eventos marcantes da infância até projeções de cenários futuros temidos, fortalecendo recursos internos", explica Soares.
O objetivo, segundo ele, é interromper respostas emocionais que mantêm quadros como ansiedade crônica, desesperança e dor persistente.
Evidências iniciais e responsabilidade científica
Uma revisão crítica publicada em 2024 na revista Mentalis descreve a TRG como uma abordagem natural e adaptativa, aplicada em quadros como depressão, ansiedade, fibromialgia, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático e ideação suicida, com redução consistente de sintomas em estudos iniciais e relatos clínicos.
Ainda assim, Soares ressalta a importância do rigor científico. "O objetivo não é substituir a medicina, mas complementar o cuidado, investigando a raiz emocional que mantém o quadro ativo. Quando o sistema nervoso deixa de reagir como se o perigo ainda estivesse presente, os sintomas perdem força", afirma.
Sintomas físicos e sofrimento emocional
Pesquisas também indicam relação entre sintomas físicos sem causa orgânica clara e registros emocionais não processados.
Em casos de dor crônica e fibromialgia, estudos de caso relatam melhora progressiva após ciclos de TRG, inclusive em pacientes que não haviam respondido a tratamentos convencionais.
"Quando exames não mostram alterações, o corpo pode estar funcionando como mensageiro de algo que não foi elaborado emocionalmente. Silenciar o sintoma sem investigar sua origem tende a fazer o problema retornar", explica o pesquisador.
Terapia como cuidado de rotina
Para especialistas ligados ao IBFT, o desafio é cultural e estrutural: inserir o cuidado emocional na rotina, antes que o sofrimento se transforme em crise.
"Se a terapia fizer parte do calendário de saúde, assim como consultas e exames, a tendência é reduzir agravamentos, afastamentos e o peso silencioso que hoje recai sobre indivíduos e sistemas de saúde", conclui Soares.