Sono ruim no fim do ano afeta a saúde mental
Rotina acelerada, noites mal dormidas e impactos diretos no humor, na cognição e no equilíbrio emocional
A reta final do ano costuma ser marcada por prazos apertados, sobrecarga de tarefas e uma rotina mais intensa. Em meio à chamada "correria de final de ano", o sono acaba sendo um dos primeiros hábitos sacrificados.
Dormir mal não é apenas um incômodo passageiro: a privação de sono afeta diretamente a saúde mental, comprometendo o humor, a regulação emocional e funções cognitivas essenciais para o dia a dia.
Em parceria com a CiaDoSono, a psicóloga, psicanalista e palestrante Luciana Deretti faz um alerta claro: o sono não é um luxo, mas uma necessidade básica para o equilíbrio da mente, especialmente em períodos de maior exigência física e emocional. "Quando não dormimos bem, a nossa capacidade de regular emoções é afetada, nos deixando mais suscetíveis à irritabilidade e à ansiedade", explica.
Privação de sono e prejuízos emocionais
Quem já passou por uma noite mal dormida reconhece os sinais logo pela manhã. Pequenos contratempos ganham proporções maiores, conflitos surgem com mais facilidade e o estresse parece constante. Segundo Luciana, a privação de sono — seja causada por insônia ou pela redução voluntária do descanso devido ao trabalho ou estudos — impacta profundamente a saúde mental.
Além das alterações de humor, habilidades psíquicas e cognitivas também são comprometidas. "A falta de sono interfere em tarefas simples que exigem atenção, prejudica a criatividade, dificulta a tomada de decisões e reduz o foco", afirma a especialista. Quando esse padrão se prolonga, o risco é ainda maior: sintomas de ansiedade e depressão podem se intensificar, afetando o protagonismo das pessoas sobre a própria vida.
O que acontece no cérebro quando dormimos mal
Durante o sono, o cérebro realiza processos fundamentais para a saúde emocional e cognitiva. É nesse período que memórias e aprendizados são consolidados e que hormônios relacionados ao humor e ao estresse são regulados. Quando o descanso é insuficiente, esses processos não se completam.
Luciana explica que, nessas condições, a amígdala — região responsável pelas respostas emocionais — tende a ficar hiperativa, aumentando impulsividade e ansiedade. Ao mesmo tempo, o córtex pré-frontal, ligado ao autocontrole, ao planejamento e à tomada de decisões, passa a funcionar com menor eficiência. O resultado é um cérebro menos preparado para lidar com desafios cotidianos.
Ritmo acelerado e impactos no desempenho
Com a chegada de dezembro, é comum enfrentar semanas de excesso de demandas, seja no trabalho, nos estudos ou na organização da vida pessoal. "Quando o cérebro não consegue consolidar as vivências por falta de sono, a atenção diminui, o raciocínio fica mais lento e o acesso às memórias se torna menos eficiente", destaca Luciana.
Virar a noite estudando ou estender jornadas de trabalho acaba se tornando algo recorrente. Para a psicóloga, esse cenário reforça a necessidade de conscientização em escolas, lares e empresas. Estudos recentes indicam que melhorar a qualidade do sono reduz quadros de ansiedade e depressão e, no ambiente corporativo, resulta em maior presença, melhores decisões e menor risco de burnout.
"Uma cultura que prioriza a saúde emocional e o sono das pessoas potencializa produtividade, criatividade e bem-estar", conclui a especialista.