Será que seu desejo de ser produtivo passou da conta? Veja sinais de alerta e o que fazer
A chamada produtividade tóxica pode surgir sutilmente e, com o tempo, causar profundos impactos no bem-estar mental e físico
Terri era uma executiva de alto escalão, mãe e esposa. Ela também parecia incapaz de esperar por qualquer coisa ou qualquer pessoa. Um atraso ou desvio a irritava visivelmente, e até mesmo alguns minutos na fila para buscar os filhos na escola podiam desestabilizá-la, levando-a a gritar com as crianças perplexas.
A terapia abriu os olhos de Terri, ajudando-a a perceber que suas reações faziam parte de um fenômeno chamado produtividade tóxica. Trata-se de uma obsessão por ser produtivo a qualquer custo — e nunca sentir que o que foi feito é "suficiente". Embora a produtividade tóxica não seja uma condição médica diagnosticável, ela pode ter um grande impacto no bem-estar, afirma a psicóloga clínica Natalie Dattilo, instrutora de psicologia da Harvard Medical School.
Um fenômeno oportuno
O esgotamento no trabalho — caracterizado por exaustão e cinismo em relação ao trabalho, prejudicando a produtividade — foi reconhecido como um "fenômeno ocupacional" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019. No entanto, a produtividade tóxica não é a mesma coisa, embora possa contribuir para o burnout, segundo Natalie.
"Com a produtividade tóxica, você sente cada vez menos satisfação com o trabalho, o que é uma característica fundamental do burnout", explica ela. "Você perde a alegria do trabalho e a capacidade de se envolver nele de maneira satisfatória."
O conceito de produtividade tóxica ganhou ainda mais relevância após a pandemia, quando o aumento do trabalho remoto e dos modelos híbridos intensificou a sensação de que deveríamos estar sempre "ligados". Fazer ligações e participar de reuniões pelo Zoom em nossos escritórios domésticos — enquanto, muitas vezes, ajudávamos os filhos com as aulas online — levou a uma pressão crescente para sermos tudo para todos.
Mas a produtividade tóxica não se limita ao ambiente profissional. Ela também invade nossas vidas pessoais. "Muitos de nós mantemos uma fusão entre trabalho e vida pessoal a ponto de ser difícil separá-los", diz Natalie.
Pesquisas ainda não investigaram se a produtividade tóxica afeta os sexos de maneira diferente, observa a psicóloga. "Mas pode ser ainda mais difícil reconhecer os sinais da produtividade tóxica em mulheres", afirma. "Isso simplesmente parece ser o que fazemos. Passamos de uma tarefa para outra, organizamos caronas, preparamos lanches, participamos de chamadas no Zoom. Estamos sempre muito ocupadas e provavelmente precisamos ser mais intencionais ao tirar um tempo para nós e não nos sentirmos culpadas por isso."
Sinais de alerta
Como saber se você pode estar caindo nesse padrão tóxico? Natalie aponta alguns sinais:
- Falsa sensação de urgência. Você está sempre correndo para a próxima tarefa e sente que só poderá desacelerar quando tudo estiver concluído.
- Incapacidade de relaxar. A ideia de descanso não combina com seu desejo constante de se manter ocupado. Cada momento livre "deveria" ser preenchido, e tirar uma pausa parece um desperdício colossal de tempo.
- Culpa ou vergonha por não realizar o suficiente. Deixar até mesmo um item da lista de tarefas incompleto parece desestabilizador. Para Natalie, esse é talvez o sinal mais destrutivo. "A culpa e a vergonha são um caminho direto para a ansiedade e a depressão", afirma.
Mesmo com esses sinais, reconhecer que há um problema pode ser difícil. Quando é o ponto de virada? "Nem sempre é óbvio — pode surgir de forma sorrateira", diz Natalie. "Pode acontecer quando você acorda um dia e percebe que está exausto e que o descanso já não parece mais restaurador. Você também sente que não consegue sair dessa roda-viva, porque, se o fizer, as pendências vão se acumular rapidamente e você nunca mais sentirá que está no controle."
Efeitos na saúde mental
Como era de se esperar, a sobrecarga mental e física decorrente da produtividade tóxica pode causar impactos prejudiciais à saúde. No topo da lista, segundo Natalie, estão insônia, ansiedade e depressão.
Uma consequência curiosa desses efeitos na saúde mental é que eles podem, eventualmente, corroer o impulso tóxico de ser produtivo. "A depressão que isso causa é intrigante, porque, de repente, a pessoa perde a motivação", explica Natalie. "Quando estamos ansiosos, ainda nos importamos muito com o trabalho — talvez até demais. Estamos sobreinvestidos, mas altamente motivados a concluir tudo."
"Se essa ansiedade se transforma em depressão, todo o trabalho ainda está lá, mas há muito menos motivação para realizá-lo", acrescenta. "A lacuna entre o que precisa ser feito e a energia disponível para fazê-lo se torna maior. Isso pode ser extremamente angustiante e debilitante."
Tire um tempo para si
Embora os dias de folga e férias sejam projetados para permitir que os trabalhadores recarreguem as energias, pesquisas recentes sugerem que quase metade das pessoas não aproveita esse benefício. Mas essa atitude é um erro, segundo especialistas de Harvard.
Uma pesquisa publicada em agosto de 2023 pelo Pew Research Center revelou que 46% dos trabalhadores americanos tiraram menos tempo de folga do que o permitido por seus empregadores, seja para férias, licença médica ou consultas médicas. Esse resultado não surpreende Natalie. "Na verdade, eu esperava que esse número fosse ainda maior", diz ela.
Os entrevistados apontaram os seguintes motivos para não usarem todo o tempo de folga disponível:
- 52% disseram que não sentiram necessidade de tirar mais tempo
- 49% temiam ficar sobrecarregados com trabalho acumulado
- 43% se sentiam mal por deixar colegas com mais tarefas na sua ausência
- 16% tinham medo de que usar todo o tempo de folga colocasse seu emprego em risco
A preocupação com o acúmulo de tarefas faz sentido, segundo a psicóloga. "Para muitas pessoas, tirar uma folga é um grande transtorno", diz. "Elas voltam para uma pilha de pendências. Então, com o tempo, será que a pausa realmente vale a pena? Será que é mesmo um descanso?"
Mas seguir trabalhando por meses sem parar pode prejudicar sua saúde mental e física, alerta Natalie. Isso pode enfraquecer seu sistema imunológico, deixando-o mais vulnerável a doenças e até problemas mais sérios.
"Estar constantemente 'ligado' aumenta nosso desgaste emocional e físico", afirma a especialista. "Se você não fizer pausas agora, seu corpo pode forçá-lo a fazer uma mais tarde."
Rompa o ciclo
Natalie sugere algumas estratégias para combater a produtividade tóxica e recuperar um equilíbrio saudável:
- Respiração profunda. Reserve alguns minutos por dia para respirar intencionalmente, inspirando por cinco segundos e expirando por outros cinco.
- Escrita terapêutica. Anotar pensamentos em um diário ou folha solta pode ajudar a organizar a mente.
- Reflexão sobre o ócio. Passe um tempo sozinho, sem distrações, e observe como se sente. Pratique isso diariamente para melhorar sua relação com o descanso.
Essas práticas são formas importantes de autocuidado, conclui Natalie. "Elas nos enviam a mensagem de que valemos o tempo e o esforço de cuidar de nós mesmos."
Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.
