Pedidos de demissão expõem crise de saúde emocional
Pedidos de demissão crescem após o recesso e revelam como a saúde emocional influencia decisões profissionais e resultados das empresas
Os pedidos de demissão costumam se intensificar logo após as festas de fim de ano e colocam a saúde emocional no centro das preocupações das empresas.
Dados do Global Talent Trends Report, do LinkedIn em parceria com a PwC, mostram que o Brasil lidera o ranking global de turnover voluntário: 56% dos desligamentos ocorrem por decisão do próprio trabalhador, percentual bem acima da média mundial, estimada em cerca de 38%.
O que acontece é que esse movimento é mais forte nas primeiras semanas de janeiro, após o recesso.
Para a psicóloga e advogada Jéssica Palin, especialista em saúde emocional corporativa, o período funciona como um momento de balanço pessoal e profissional.
"Janeiro é quando o colaborador toma decisões que vinha adiando. Se há desgaste emocional acumulado, desalinhamento de valores ou sensação de falta de escuta, o pedido de demissão aparece logo no início do ano", explica.
Por que a saúde emocional pesa tanto na decisão de sair?
Estudos indicam que fatores emocionais são determinantes para a permanência no trabalho. Levantamento da Gallup aponta que colaboradores emocionalmente engajados são 59% menos propensos a procurar outro emprego de forma ativa.
Em contrapartida, profissionais que relatam exaustão, conflitos recorrentes ou falta de reconhecimento tendem a repensar a carreira após períodos de pausa, como férias e recessos prolongados.
Esse afastamento temporário da rotina costuma ampliar a percepção de problemas que vinham sendo normalizados ao longo do ano.
Ao retornar, muitos profissionais concluem que o impacto do trabalho sobre a saúde emocional se tornou insustentável.
Rotatividade também gera prejuízos financeiros
O impacto da alta rotatividade vai além da reposição de vagas. Um estudo da Gallup estima que o custo de substituir um colaborador pode variar de 50% a 200% do salário anual, considerando perdas de produtividade, recrutamento, tempo de adaptação e impacto no clima organizacional.
Segundo Jéssica Palin, reagir apenas após o pedido de demissão costuma ser tarde demais:
"O emocional mal gerido custa caro em dinheiro, clima e reputação. Quando a empresa só reage depois que o colaborador pede demissão, o problema já deixou de ser individual e passou a ser estrutural", afirma.
Saúde emocional virou prioridade estratégica
Diante desse cenário, empresas passaram a adotar estratégias preventivas antes mesmo da virada do calendário, com foco no mapeamento de riscos emocionais.
Diagnósticos estruturados ajudam a identificar sinais de esgotamento, conflitos silenciosos e falhas de liderança que, se ignorados, costumam se transformar em desligamentos no início do ano.
O tema também ganhou peso legal. Em 2024, foi sancionada a Lei nº 14.831, que criou o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental. No mesmo ano, a Portaria nº 1.419 do Ministério do Trabalho atualizou a NR-1 e incluiu os fatores psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.
Para a especialista, o início do ano se tornou um termômetro da saúde emocional das equipes. "Janeiro revela o que foi negligenciado ao longo do ano anterior. Empresas que conseguem agir antes da ruptura reduzem perdas e preservam talentos", conclui.