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Melania Trump e suas fantasias durante viagem à África

Primeira-dama norte-americana disse que as pessoas deveriam focar no que ela faz, não no que ela usa; mas ela parece muito dedicada às suas vestimentas

16 out 2018 - 15h47
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No final, o momento mais viral da viagem de quatro países de Melania Trump teve tudo a ver com roupas - como normalmente o tem. Especificando, foi sua irritação com o interesse sobre seus looks.

O momento se deu após ela ter encontrato com outras primeiras-damas e chefes de estado do Quênia, Malawi, Gana e Egito, visitado hospitais, pegado bebês no colo, acarinhado elefantes e feito tudo o que podia fazer para oferecer uma nova e mais amigável face do governo Trump, não só para países africanos mas para todo o mundo. A importante fala dela aconteceu durante uma coletiva de imprensa aos pés de uma pirâmide.

"Queria que as pessoas prestassem atenção no que eu faço, não no que eu uso", disse. Dentro de minutos, sua imagem tomou conta das redes sociais com uma foto dela usando uma jaqueta cor de areia da Ralph Lauren, uma camisa branca com laço preto da chanel e um chapéu fedora. Ela parecia um personagem saído do filme "Entre Dois Amores" que cruzou com Belloq, o nefasto francês de "Os Caçadores da Arca Perdida".

É uma queixa familiar, principalmente vinda de Hillary Clinton. Chega a ser quase surpreendente que Melania não tenha continuando com o bordão: se eu fosse um homem, você não ligaria para as minhas roupas.

Mas o fato é que, para irritá-la, tudo o que ela faz está intrinsecamente ligado ao que usa enquanto o faz, e a mesma regra se aplica a qualquer um neste papel. Afinal, é o que vemos em fotos, e as fotos são o que costumamos ver primeiro. As roupas são simplesmente um símbolo das ações. É superficial? Não mais do que prestar atenção em qualquer tipo de simbolismo.

Além do que, está claro que Melania entende isso e, desta vez, pelo menos até onde podemos ver, ela o fez por um motivo: oferecer uma imagem diferente da de seu marido agressivo. Era de se esperar que suas roupas parecessem saídas do figurino de uma performance caricata. Estamos falando de uma estrela que reluta em permanecer no recorrente drama da Casa Branca, pelo menos esse é cada vez mais o papel que ela tenta encarnar. Se der errado... bem, ops.

Então, na viagem aos países da África, ao em vez de ser uma esposa-troféu bem engomada, vestida de grifes caras e sapatos Louboutin, como faz em Washington, vemos Melania com sapatos baixos e jaquetas safári, roupas em cores desérticas e preços acessíveis. Um cruzamento de princesa Diana com um filme da sessão da tarde.

E nada de Maria Antonieta-brincando-de-camponesa com uma camisa de 1,3 mil dólares da Balmain para cuidar do jardim. Ela até mesmo repetiu roupas, como as calças Ralph Lauren e jaquetas, especialmente uma Veronica Beard, que já vimos antes. Suas feições, como vimos nas redes sociais antes de nos distrairmos com os chapéus, estavam alegres e relaxadas.

E o ponto de maior controvérsia teve justamente a ver com os acessórios de cabeça: o chapéu estilo capacete, que ela usou durante um safári no Quênia, que fez as pessoas usarem as palavras "colonialismo" e "ignorância", e o fedora. (Vamos lembrar que o príncipe Charles já teve o mesmo problema.) Embora, sinceramente, o que o uso deles tenha revelado foi mais uma falta de pesquisa aprofundada sobre significados do que qualquer mensagem proposital.

Antes disso, todo mundo estava falando sobre os loafers de couro de crocodilo falso da Zara e as implicações de escolher um casaco de camurça e saltos de leopardo para embarcar no avião, um vestido de safári na chegada ao Malawi e uma camisa com estampa de emas e rinocerontes para deixar o Quênia.

Os que acompanham cada passo de Trump e que enxergam as escolhas fashion de Melania como uma extensão de seu relacionamento com o marido - aqueles que viram mensagens subliminares na blusa de laço rosa - provavelmente irão ver as malas levadas à África como uma declaração de independência: olha como ela é de verdade quando está sozinha!

Mas, na verdade, ela parece usar as roupas como disfarce. Elas são escolhidas para serem destaque, ocultando a própria Melania. E é difícil criar uma opinião sobre ela, porque a personagem que interpreta muda em cada ocasião.

Começou na posse, com o conjunto azul a la Jackie Kennedy, continuou com o longo rosa pálido da caça aos ovos de páscoa, a primeira tour internacional de seu marido (já esqueceu da fantasia de viúva siciliana para conhecer o papa?) e, talvez, tenha chegado no auge nesta viagem.

Historicamente, as primeiras-damas usam as roupas para representar diferentes aspectos de sua personalidade: Rosalynn Carter, simbolizava sua simplicidade; Barbara Bush refletia a acessibilidade maternal; Nancy Reagan sublinhava a crença do poder do glamour para reviver o orgulho nacional e Michelle Obama sugeria inclusividade e o começo de uma nova era. Mas as roupas de Melania parecer esconder quem ela é, mais do que elucidar.

É por isso que tanta atenção é dada e tantas interpretações se encaixam, e também porque a jaqueta "Eu realmente não ligo, e você?" foi um choque tão grande: pareceu um suspiro por trás da cortina de frustração em que ela se esconde. Por uma vez, não parecia que foi pensado. (Também porque, honestamente, quem iria sugerir isso?)

Se a primeira-dama norte-americana quer que as pessoas foquem no que ela faz mais do que no que ela usa, ela pode fazer como Hillary Clinton durante a corrida presidencial, que adotou um uniforme que entendiou as pessoas até ninguém falar sobre isso. Ou então, ela pode aceitar que o que as pessoas vêem é uma extensão do que ela é - relaxada ou racional ou alegre ou global - e abraçar isso. O papel que as pessoas esperam que ela interprete é ela mesma.

Estadão
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