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Dia dos Namorados

Como a quarentena me fez rever o amor

Casais mais unidos, mais desunidos ou se descobrindo; a quarentena tem feito o amor ser diferente para muita gente

11 jun 2020 - 12h00
(atualizado em 30/5/2023 às 09h46)
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Passar a quarentena ao lado da pessoa amada tem sido uma experiência diferente para muitos casais, que estão aflorando ou até questionando o sentimento de amor pelo parceiro. Ficar separado também mexeu com o coração.

“O que aconteceu foi que as pessoas deixaram de se distrair com a ida à academia, com o passeio com os amigos e até o trabalho fora de casa. Essas atividades deixavam as pessoas longe desse sentimento de amor ou da consciência de sentimentos relacionados à ele. Antes a gente visitava o amor no problema. Hoje está na situação, no fato em si”, explica a neurocientista Anaclaudia Zani Ramos. 

Amanda e Gabriel estão passando a quarentena juntos. Eles aproveitam o isolamento para praticar o esporte que tanto os conecta, a corrida
Amanda e Gabriel estão passando a quarentena juntos. Eles aproveitam o isolamento para praticar o esporte que tanto os conecta, a corrida
Foto: Instagram / Reprodução

Segundo ela, o questionamento do amor também têm a ver com o estágio em que essa relação está. “Quem está no início de um namoro e passando a quarentena junto está fazendo um test-drive. Essas pessoas estão gostando e estão super animadas com a possibilidade de a experiência temporária virar definitiva. Também há casais que estão apimentando os relacionamentos, fazendo o início da relação ser online. Fizeram dates virtuais e se falam todos os dias, como se fosse um namoro. E há ainda aquele grupo que descobriu que não consegue mesmo ficar junto, mas tenta se reinventar pela necessidade de ficar debaixo do mesmo teto. Mas claro que cada caso é um caso”, detalha a especialista, que também é escritora e coach

No caso de Amanda Vieira, 22, e Gabriel Lobo, 25, a quarentena veio para unir ainda mais o casal de namorados e a paixão que eles carregam pela corrida de rua. Sim, em plena quarentena, a dupla reinventou o esporte que tanto gosta de praticar com a virtual run, corrida estacionária com destinos turísticos como Orlando, Itália e França em realidade virtual.

Essa união na corrida e no amor só foi possível graças à mudança temporária do rapaz para o apartamento onde a jornalista vive com a família. Assim, o casal de Fortaleza manteve a tradição de correr junto. “As corridas fazem a gente ficar mais tempo juntos. Desde os treinos até às provas de rua. A gente fica unido no esporte e na relação”, diz Gabriel.

Amanda afirma que a noite do dia dos namorados terá um jantar na varanda. Logo, a data não vai passar batida. “Será totalmente diferente, né? Mas não foi só o dia dos namorados que a pandemia nos tirou, acaba sendo até superficial diante de outras coisas, como o sonho de correr a nossa primeira maratona”, lamenta. Enquanto o coronavírus não é controlado, o casal pretende seguir junto, treinando de casa e compartilhando as experiências das corridas, no momento as estacionárias, no Instagram que administram, o @casal.corredor.

A tal da "carentena"

E quando bate aquela solidão e o amor é revisto como algo necessário? Bom, o jeito é recorrer à tecnologia. O aplicativo de relacionamentos Tinder revelou que o dia 29 de março, quando já estávamos em quarentena, foi o auge de seu uso na história. Na data, o app contabilizou em todo o mundo 3 bilhões de swipes, movimento que o usuário faz para selecionar ou descartar um candidato.

Outro número que chamou a atenção foi o de pessoas que puderam ter acesso a usuários de países diversos, com a função Passaporte, ferramenta que só ficou gratuita por causa da pandemia. O uso cresceu 15%. 

Entre as pessoas que engrossam o porcentual está o estudante de Educação Física Leanderson Lopes, de 20 anos, morador do Rio de Janeiro. “Eu já usei o Tinder algumas vezes antes da quarentena, mas resolvi voltar a usar pra conversar com pessoas diferentes e também porque vi que eles tinham liberado a alteração da localização. Aproveitei para dizer que estava em NY e treinar meu inglês”, brinca. 

Léo, o solteiro da quarentena, vai aproveitar a noite do Dia dos Namorados com o combo cerveja gelada + live
Léo, o solteiro da quarentena, vai aproveitar a noite do Dia dos Namorados com o combo cerveja gelada + live
Foto: Reprodução

O uso do dispositivo rendeu assunto para o jovem, mas relacionamento sério… nada. “Eu usava muito o Tinder quando estava na faculdade. Por isso era até mais fácil de virar um encontro presencial, mas nunca deu um relacionamento mais sério. A quarentena ou 'carentena', na verdade, serviu pra eu voltar a conversar com a minha ex”, conta. Solteiro, ele passará o dia dos namorados em grande estilo: sozinho, em casa, vendo live do Pericles e bebendo cerveja.

A especialista afirma que essa carência por amor não é restrita ou preponderante a um gênero específico ou orientação sexual. Mas, se pudesse fazer um recorte, seria geracional. “A gente tem que olhar o que é o amor. Ele, conforme as fases que a gente vai vivendo, tem uma simbologia. São várias facetas. O amor no jovem é sexual. Quanto mais liga sexual, mas ele quer ficar junto. Quando vai passando o tempo, as motivações são outras, como a companhia um do outro”, explica Anaclaudia.

Jussara Quintela, 68, e Armando Mendes, 73, estão casados há 48 anos. Já viveram de tudo juntos: mudanças de cidades, nascimento de filhas, de netos, alegrias, tristezas, doenças e agora uma pandemia. A quarentena, contudo, veio como uma sacudida na relação do casal. Sem visitas da família, idas ao pilates ou passeios em shoppings, precisam tolerar as diferenças que, depois de tantos anos, ainda aparecem.

Jussara e Armando são casados há 48 anos e enfrentaram alguns "perrengues" na quarentena.
Jussara e Armando são casados há 48 anos e enfrentaram alguns "perrengues" na quarentena.
Foto: Reprodução

“Na quarentena tudo fica difícil, né? E ele é muito pirracento. Tem horas que eu acho que vou endoidar”, diz Jussara. A última “traquinagem” do marido foi levar uma galinha viva para dentro do apartamento onde moram em Salvador. Segundo Armando, o animal estava sendo alvo de maus tratos na frente de um supermercado, onde um lojista tentava espantar a entrada dela com uma vassoura. 

A galinha "Rafinha" foi resgatada por Armando e deixou a esposa dele, Jussara, de cabelo em pé
A galinha "Rafinha" foi resgatada por Armando e deixou a esposa dele, Jussara, de cabelo em pé
Foto: Reprodução

“Eu perguntei se tinha dono e como todo mundo disse que o bicho apareceu do nada eu resolvi levar para casa. A mulher endoidou quando eu cheguei em casa com Rafinha”, diz o arquiteto. Menos de 24 horas depois, a galinha Rafinha saiu do apartamento e foi morar em um sítio, na região metropolitana de Salvador. Apesar dos conflitos, Jussara diz que não pensa em se separar. “A gente está junto há tanto tempo, vou me separar pra quê em uma altura dessa da vida? Um tem que cuidar do outro, ficar junto. É amor”. 

Anaclaudia garante que o segredo para sentir o tal do amor no isolamento é se reiventar e entender o que é o valor real da vida. “Eu diria que a partir do ruim, o amor se transformou no bom nunca vivido. A felicidade realmente está na nossa condição humana. O resto é querer. Mas as pessoas estão tendo a oportunidade de olhar para aquilo que realmente vale a pena”.

Fonte: Redação Terra
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