Vodka elaborada à base de uvas é destaque em evento
A vodka Cîroc é uma das raras no mundo produzida a partir de uvas e foi destaque de uma degustação especial dirigida pelo seu criador, o enólogo e mestre destiller Jean-Sébastien Robicquet, que esteve em São Paulo especialmente para o evento.
» Chat: tecle sobre bebidasAs cepas utilizadas para fazer o vinho base que será destilado para compor a Cîroc incluem a Ugni Blanc, principal uva da região de Cognac, e a Mauzac, uma casta menos conhecida que está presente em alguns espumantes como Blanquette de Limoux e Crémant de Limoux. O fato de ser um destilado de uvas dá a essa vodka uma textura mais aveludada na boca se comparada a outras tantas. A uva Mauzac confere ainda uma discreta nota aromática cítrica e de frutas brancas.
Embora a vodka tenha sido lançada no país há menos de quatro anos, o Brasil já representa hoje o terceiro mercado mundial da marca, tendo dobrado seu volume de venda no último ano. Pelo visto a crise mundial não afetou o consumidor mais sofisticado. Ao menos não no Brasil.
Vodka é um destilado que tem como principais características a ausência de cor e aromas, diferentemente de outros destilados que primam pela permanência desses elementos. Também a difere de outros tantos destilados o fato de não ter sua produção restrita a delimitações geográficas, ou seja, ela pode ser produzida em qualquer parte do planeta, diferentemente de um cognac, champagne ou tequila, por exemplo, que têm seus nomes ligados à regiões demarcadas. Além disso, Bob Emmons, autor do The book of gin and vodka (Open Court, 2000), lembra que a vodka não tem restrições quanto à matéria prima utilizada na sua elaboração. Ela pode ser produzida a partir dos mais variados grãos, tubérculos, frutas, etc.
Todavia, para Robicquet a principal característica da vodka é seu elevado grau alcoólico. Ela deve ter pelo menos 96º ao final de sua última destilação. Isso a evidencia como vodka. Após essa última destilação a bebida é diluída com água a fim de baixar sua potência alcoólica, quando então será engarrafada. Os 96º de álcool, associados a processos de filtragens, garantem seu aspecto brilhante e transparente, bem como certa neutralidade aromática, deixando ainda espaço para que aromas sutis possam se incorporar à bebida.
Embora exista certo apelo contemporâneo na flavorização das vodkas, a diversidade aromática nesse destilado incolor não é recente. Na verdade, a flavorização faz parte da história da bebida, como indicam Nicholas Faith e Ian Wisniewski, no livro Classic Vodka (Prion, 1997). Infusões de ervas estão presentes na sua origem, quando então um de seus usos era medicinal. Os autores lembram ainda que séculos atrás, quando as primeiras vodkas foram destiladas, não havia tecnologia disponível para um alto grau de retificação e filtragem que livrassem o destilado de impurezas e aromas indesejáveis. Eles contam que nos séculos XVIII e XIX existiam vodkas com sabores em número superior às disponíveis hoje no mercado. Outro exemplo é a vodka Zubrowka, que tem como traço marcante aromas vegetais extraídos da relva das florestas de Bialowieza, no leste da Polônia. Os primeiros registros dessa vodka são do século XVI.
Mais que uma moda, os cuidados no cultivo de aromas sutis nas vodkas podem também ser vistos como uma retomada de suas origens. Algumas vodkas despontam como sendo o resultado da destilação e do blend da tradição e da criação. Esse pode ser um dos traços da criatividade que Robicquet deixa transparecer em suas obras etílicas. Um enólogo de uma família com séculos de tradição no trato do vinho, cuja essência pode ainda ser respirada em um destilado límpido e cristalino.