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"Conseguimos ver os cinco embriões e ouvir os batimentos dos corações"

Confessionário: conheça a história de Fernanda e Gustavo, que passaram pela perda de um embrião e, depois, de um dos quadrigêmeos, que não resistiu

4 ago 2022 - 14h09
(atualizado às 14h42)
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Fernanda Naiara Gans Kenski, de 36 anos, e o marido, Gustavo de Carvalho Neme Kenski, com quem está casada há 9 anos, desejavam ter filhos desde que se conheceram. Depois de descobrir a Síndrome de Ovário Policístico, passar por duas gestações anembrionárias e receber o diagnóstico de endometriose, Fernanda conseguiu engravidar após uma nova indução de ovulação. Mas qual não foi a surpresa quando ela e Gustavo souberam que havia cinco embriões dentro do útero? Infelizmente, na oitava semana de gravidez, um deles parou de se desenvolver, e a família passou, então, a esperar quatro bebês: Davi, Caio, Pedro e Luisa.

Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/ / Bebe.com

Os pequenos vieram ao mundo muito antes do planejado, e tiveram sérias complicações. Pedro não resistiu a uma hemorragia pulmonar e os irmãos ainda lidam com as consequências acarretadas pela prematuridade extrema. Leia, a seguir, o relato completo e emocionante sobre essa históra!

"Há 6 anos, demos início às tentativas de engravidar, mas logo no primeiro mês sem anticoncepcional recebi o diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Após isso, fui encaminhada pela minha obstetra da época a consulta com uma médica especialista em reprodução humana. Estava bastante assustada pela falta de conhecimento sobre a SOP (tudo o que lia na internet era desanimador), e também por não conhecer a função dessa médica especialista e as possibilidades de tratamento. Acreditava que era infértil e que jamais conseguiria engravidar. Fui muito bem acolhida por ela, que me orientou sobre a doença e me indicou a indução de ovulação. Após inúmeras tentativas, engravidei por duas vezes, em 2017 e em 2019, mas ambas foram gravidezes anembrionárias [em que o embrião não se desenvolveu].

Houve momentos em que acreditei que não conseguiria gerar um filho, mas nunca desisti do sonho de ser mãe, independentemente da forma. Eu e meu marido até chegamos a participar de uma reunião e começamos a juntar as documentações necessárias para dar entrada no processo de adoção.

Porém, após a insistência de um amigo, agendamos uma consulta com um novo médico especialista em reprodução humana. Fomos muito bem acolhidos por esse outro profissional, que nos orientou, sugeriu uma nova conduta - investigar o motivo para as duas primeiras gravidezes não terem evoluído - e reacendeu a esperança de termos um filho gerado por mim. Demos uma nova chance às tentativas de engravidar e pausamos o processo de adoção.

Passei por uma videolaparoscopia investigativa para endometriose, que constatou focos da doença. Foi uma surpresa para nós, pois fiz diversos exames de imagem e isso nunca foi observado, poderíamos ter encontrado o motivo  para ambas as gestações não terem evoluído. Após esse procedimento, iniciamos novamente a indução de ovulação, com a combinação de diversos medicamentos. Depois de 4 meses de tratamento, em junho de 2020, recebi o exame positivo para a gravidez. A notícia foi recebida por mim, por meu marido e por familiares próximos com muita alegria, mas também com receio, pois por duas vezes as gravidezes não tinham evoluído.

Depois do positivo: 5 coraçõezinhos batendo

A primeira ecografia foi realizada com muito medo. Tivemos a surpresa de visualizar dois sacos gestacionais. Ficamos muito felizes com a possibilidade de sermos pais de gêmeos, mas o medo ainda estava presente, porque era muito cedo para visualizar os embriões e o médico disse que havia a possibilidade de um ou de os dois embriões não se desenvolverem. Retornamos na semana seguinte para uma nova ecografia e, para nossa surpresa (e desespero, confesso), não observamos somente dois sacos gestacionais, mas cinco.

Para aumentar ainda mais nossa alegria, conseguimos ver os cinco embriões e ouvir os batimentos dos cinco corações. Esse foi um dos momentos mais maravilhosos de nossas vidas, difícil de ser descrito. Passamos por um misto de sentimentos, estávamos muito felizes - porque, sim, estávamos gerando nossos filhos -, mas com muito medo do que poderia vir a acontecer, já que teríamos uma gravidez de altíssimo risco. A ficha demorou bastante para cair e confesso que até hoje ainda não acredito que fomos agraciados com tamanha benção. Infelizmente, um dos embriões parou de se desenvolver na oitava semana de gestação e foi absorvido pelo meu corpo. Passamos, então, a gestar quadrigêmeos!

Com 16 para 17 semanas de gestação, através do chá de revelação, descobrimos que Davi, Caio, Pedro e Luisa estavam a caminho.

Quadrigêmeos Fernanda
Quadrigêmeos Fernanda
Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/Arquivo Pessoal / Bebe.com

A gravidez de quadrigêmeos

Durante a gestação, trabalhei em home office, devido à pandemia, o que deu ainda mais qualidade à minha gravidez. Tive ao meu lado ótimos profissionais: médico obstetra (nos acolheu, nos orientou e nos tranquilizou sempre), nutricionista (que ajudou a me alimentar bem, já que precisava me nutrir e nutrir 4 bebês), fisioterapeuta (a coluna da mamãe aqui não estava dando conta), angiologista (as pernocas estavam carregando bastante peso), além das minhas caminhadas na esteira.

A frequência de ultrassons era maior, quinzenal, para acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos bebês e também para avaliar o meu colo do útero. Cada bebê estava em sua bolsa e com sua placenta, e sabíamos exatamente o lugar deles: Davi estava bem embaixo da barriga da mamãe. Caio, do lado direito. Pedro, do lado esquerdo, e Luisa, bem embaixo das costelas.

Como minha gestação foi durante a pandemia, não pudemos ter contato com outras pessoas, mas mesmo assim recebemos muito amor e carinho de familiares e amigos. Conseguimos fazer uma charreata de fraldas junto com a minha irmã, que também estava grávida da Sofia, e pudemos eternizar esse momento mágico por meio de um ensaio de gestante.

fernanda-quadrigemeos
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Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/Arquivo Pessoal / Bebe.com

O primeiro susto

A gestação estava indo superbem, até que, na 22ª semana, foi constatado que meu colo do útero estava mais estreito, o que me obrigou a ficar em repouso mais cedo do que eu esperava. Mesmo com todos os acompanhamentos e cuidados, com 23 semanas de gestação a bolsa do Davi rompeu. Demorei para acreditar, queria crer que estava somente com incontinência urinária.

Fui, então, internada na maternidade para fazer repouso absoluto e para ser acompanhada e monitorada pelos médicos mais de perto. Foram 18 dias em que eu somente me levantava para ir ao banheiro e tomar banho sentada. Nossa meta era de que o parto acontecesse entre o Natal e o Ano Novo de 2020, mas, como não temos controle de nada, em 6 de dezembro acordei com cólicas, que depois descobri que eram contrações. Após ser medicada, consegui passar o dia todo sem novas dores. Porém, às 20 horas, as contrações voltaram e o médico obstetra nos levou ao centro cirúrgico para uma última tentativa de manter a gestação. No entanto, as contrações não cessaram, aumentaram.

Sendo assim, meu médico indicou uma cesárea de emergência. Então, na madrugada de 7 de dezembro, nasceram os quadrigêmeos para compor a família Gans Kenski. Davi nasceu às 3h14, pesando 790g. Às 3h15, nasceu Caio, com 900g. Às 3h16, nasceu Pedro, pesando 625g. E às 3h18, nasceu Luisa, com 500g. Gustavo, meu marido, não pôde participar do parto, pois teve contato com meu pai, que estava positivado para Covid. Ele foi proibido de entrar na maternidade, mesmo estando negativado, já que precisava completar os 7 dias de isolamento, que acabavam justamente no dia do parto.

Como os quadrigêmeos eram prematuros extremos (nasceram de 26 semanas e 4 dias de gestação) e com baixíssimo peso, eles seguiram direto para UTI neonatal da maternidade, onde foram intubados e receberam todos os cuidados iniciais. Tão pequenos e tão frágeis, mas ao mesmo tempo tão fortes, lutando para sobreviver!

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Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/Arquivo Pessoal / Bebe.com

Depois do nascimento

O início de vida dos nossos pequenos não foi nada fácil. Eles passavam diariamente por inúmeros procedimentos invasivos, como exames de sangue e de urina, incontáveis transfusões de sangue, vários protocolos de antibióticos, aspirações, avaliações nas mais diversas especialidades médicas, alimentavam-se através de uma sonda gástrica/enteral, entre outros. Ainda necessitavam de ventilação mecânica para respirar e tiveram hemorragia cerebral ao nascer. Luisa teve grau I, Caio e Pedro grau III e Davi grau IV, o grau mais extenso.

Davi precisou ser transferido para um hospital pediátrico com 5 dias de vida, pois teve uma perfuração espontânea no estômago e depois no intestino, que resultou em três cirurgias. No oitavo dia de vida, em 15 de dezembro, Pedro teve uma hemorragia pulmonar, não resistiu e virou um anjo que cuidará para sempre dos papais e dos irmãozinhos. Com quase 2 meses de nascida, Luisa também precisou ser transferida para o hospital pediátrico para fazer uma cirurgia cardíaca. Graças a Deus, era um procedimento simples e correu tudo bem.

Os primeiros e intermináveis 45 dias de vida dos nossos filhos foram os piores, vivíamos minuto a minuto, pois tudo podia mudar de uma hora para outra. Falávamos que vivíamos em uma montanha-russa de emoções. Uma não, três, pois cada bebê evoluía de uma forma. Mas, com o passar do tempo, eles começaram a se desenvolver melhor, ganhando peso e ficando mais fortes. Passamos a ter mais notícias boas do que ruins.

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Foto: Instagram @derepente.quadrigemeos/Reprodução / Bebe.com

A vida com os trigêmeos

Tínhamos uma rotina bastante agitada, nos dividíamos entre a maternidade para visitar o Caio, e o hospital, para visitar Davi e Luisa. Íamos de manhã, de tarde e à noite. Mamãe esgotava leite nos dois locais e, como não tinha leite suficiente, o que era esgotado era dividido entre os três bebês. Por mínimo que seja, eles puderam usufruir dos benefícios do leite materno.

A primeira ótima notícia que recebemos foi a alta do Caio, em 10 de março de 2021, após 91 dias de nascimento/internação. Ele veio ensinar o papai e a mamãe a cuidarem de um bebê. Nossa rotina precisou ser alterada, pois, além dos cuidados com o Caio em casa, nos dividimos para acompanhar Davi e Luisa no hospital. E, claro, papai trabalhou durante todo esse período.

Após 158 dias, em 14 de maio, Davi e Luisa receberam alta juntos, para completar a nossa grande família. Ambos saíram do hospital com necessidade de atendimentos especiais através do home care. Os dois se alimentavam via sonda enteral, pois ainda não sabiam mamar na mamadeira. Além disso, Davi ainda precisava de suporte de oxigênio para respirar.

Passamos por diversas mudanças na nossa rotina, e com os três bebês em casa não foi diferente. Como papai também precisava trabalhar, tivemos ao nosso lado uma rede de apoio superespecial (avós, titias e titios), pois sozinhos não daríamos conta.

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Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/Arquivo Pessoal / Bebe.com

A necessidade dos tratamentos

Além da rotina básica de cuidados de qualquer bebê, devido à prematuridade, no início eles eram atendidos por diversos médicos especialistas (pediatra, pneumologista, neurologista, oftalmologista, ortopedista). Com o passar do tempo, esses atendimentos passaram a ser menos frequentes.

Por serem prematuros extremos e também terem apresentado hemorragia cerebral ao nascer, era possível que os bebês tivessem atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, por isso, foram encaminhados para realizar atendimentos para estimulação do desenvolvimento com fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Davi e Luisa também eram atendidos por fonoaudióloga para estimular a alimentação via oral.

Davi fez o desmame do oxigênio no final de 2021 e, com isso, ele e Luisa receberam alta do home care. Foram encaminhados, então, para continuidade de atendimentos em uma clínica multiprofissional. Iniciaram esses atendimentos no início de 2022. Davi, Caio e Luisa eram atendidos por fisioterapeuta e terapeuta ocupacional com conceito Bobath. Davi e Luisa continuaram os atendimentos com a fonoaudióloga. Luisa também é atendida por terapeuta ocupacional com integração sensorial e Davi faz reabilitação visual.

Nesse meio tempo, os bebês passaram por nova ressonância magnética. As lesões neurológicas que Caio e Luisa tiveram devido à hemorragia cerebral ao nascer não afetaram o desenvolvimento motor deles. Eles continuarão sendo acompanhados pela neurologista, pois ainda não sabemos como será o desenvolvimento cognitivo e de linguagem. Já Davi, por ter uma lesão com maior extensão, recebeu o diagnóstico de Paralisia Cerebral e, mais do que nunca, tem a necessidade de realizar os atendimentos de estimulação/reabilitação.

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Foto: Fernanda Naiara Gans Kenski/Arquivo Pessoal / Bebe.com

Como os trigêmeos estão hoje em dia

Em junho de 2022, após andar e apresentar desenvolvimento neuropsicomotor adequado, Caio recebeu alta da clínica. Luisa continua em atendimento e está quase andando. E, mesmo com uma lesão neurológica mais extensa, Davi está apresentando um ótimo desenvolvimento neuropsicomotor, já senta sozinho, permanece mais tempo com a barriga para baixo, movimenta os dois braços, surpreendendo a todos com a sua vontade de viver e alegria; faz uso de órteses nos pés, preparando-se para fortalecer as pernas e ficar em pé.

Davi e Luisa ainda estão com a gastrotomia, mas já tivemos evolução com relação a alimentação via oral. Davi já se alimenta via oral, sendo estimulado pela fonoaudióloga somente para ingerir líquidos (água, sucos, fórmula). Já Luisa ainda se alimenta 100% via gastrostomia, mas apresentou evolução, aceitando mais alimentos via oral. Ainda não come a quantidade necessária para sobreviver, porém demonstra interesse e desejo e come pequenas quantidades.

Hoje, nós e os bebês, já estamos mais adaptados à rotina. Mas nem por isso ela é mais leve, pois cuidar de um bebê já dá trabalho, imagina de três?! Mesmo com a correria diária e nossa vida agitada, ao deitarmos para dormir, agradecemos por termos esses três anjos em nossas vidas! Anjos esses que vieram nos ensinar o significado do amor incondicional!

Desde o início de todo esse processo, foi difícil ter contato com outras pessoas que passaram por essas mesmas situações. Ao mesmo tempo em que a internet nos ajuda a ter acesso a informações, ela também nos desanima com dados muito negativos. Ao descobrirmos a gravidez, em junho de 2020, decidimos dividir com outras pessoas a nossa história. Durante todo esse tempo, aprendemos e crescemos muito, e gostaríamos de mostrar como superamos tudo e dar esperança a casais que se encontravam na mesma situação.

Assim surgiu o perfil no Instagram @derepente.quadrigemeos, em que compartilhamos com todos a nossa história, o período da gravidez e o nascimento dos bebês, nossas angústias e medos durante todo o tempo de internação, a vinda deles para casa, nosso processo de adaptação e, agora, nosso dia a dia. Convido vocês a fazer parte da nossa casa, acompanhar o nosso dia a dia e o crescimento do Davi, da Luisa e do Caio." ❤️

Bebe.com
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