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Pediatra de Harvard defende educação e monitoramento em vez de proibição

Michael Rich critica a “ânsia irresistível” por regras rígidas e propõe a “maestria na internet” como chave para a saúde digital infantil

15 out 2025 - 06h09
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Resumo
Michael Rich, pediatra de Harvard, defende que, em vez de proibir telas, os pais devem educar e monitorar, promovendo pensamento crítico e "maestria na internet" para que crianças e adolescentes usem a tecnologia de forma responsável e saudável.
Foto: Divulgação

O debate sobre o impacto das telas na saúde de crianças e adolescentes frequentemente se concentra no medo e na busca por proibições totais. No entanto, Michael Rich, pediatra e pesquisador do Harvard Medical School Teaching Hospital, oferece uma abordagem radicalmente diferente em seu livro "O Guia do Midiatra — Como Criar Crianças Saudáveis, Inteligentes e Respeitosas em um Mundo Saturado de Telas". Em uma entrevista ao Terra, ele defendeu que os pais devem monitorar e orientar o uso, preparando os jovens para navegar o mundo digital com autonomia e responsabilidade, em vez de impor regras rígidas ou optar exclusivamente pela proibição das telas. Segundo ele, o pensamento crítico é a melhor ferramenta de proteção. O pesquisador alerta que a preocupação exagerada com a "segurança na internet" deve ser substituída pela busca pela "maestria na internet", já que este é o ambiente em que as crianças vivem e precisam ser competentes. Leia a seguir os principais trechos:

Qual é o foco principal do seu trabalho em relação a crianças, adolescentes e o ambiente digital?

Minha principal mensagem é que crianças e adolescentes têm muito a ganhar quando aprendem a lidar com os ambientes digitais de forma crítica e responsável. Precisamos de menos pânico e mais educação no debate sobre crianças e adolescentes na internet. Quando colocamos toda a nossa energia na discussão sobre segurança na internet, estamos dizendo aos filhos desde o início que a internet representa apenas perigo. Deveríamos nos concentrar em maestria na internet.

O seu livro, O Guia do Midiatra, propõe uma visão contrária à proibição total das telas. Por que a proibição não é o caminho ideal?

Bem, primeiro precisamos ter em mente claramente que as telas não vão desaparecer de nossa vida. Com base nisso, o livro pretende romper com o discurso alarmista, oferecendo caminhos equilibrados em vez de medo. Ir na direção oposta à proibição nos ajuda a ensinar que também é possível usar a tecnologia de forma saudável e segura. Além disso, uma das preocupações com essa ânsia irresistível de proibir é que ela pode prejudicar grupos mais vulneráveis, por exemplo, os jovens LGBTQIA+, os de minorias étnicas ou linguísticas, que encontram em comunidades online pessoas que os ouvem, os veem e os acolhem.

Se a proibição não é a resposta, o que os pais devem fazer? Qual é a sua recomendação?

Defendo que, ao invés de impor regras rígidas, as famílias abracem um caminho de orientação, escuta ativa, coparticipação e empatia. Meu trabalho foca em preparar crianças e adolescentes para navegar o mundo digital com autonomia, responsabilidade e bem-estar. Esses fatores são fundamentais para a percepção dos responsáveis, sejam eles familiares ou profissionais, sobre o momento certo em que a tecnologia deve ser considerada um problema e está atrapalhando as coisas que são importantes para a saúde e o desenvolvimento das crianças. Traduzo essa abordagem em 3 Ms: modelo, mentoria e monitoramento.

Como funcionam, em termos práticos, esses 3 Ms?

A primeira meta é modelar, ou seja, ser a mudança que queremos ver. Educar bem no ecossistema digital é um processo de estabelecer expectativas, e não simplesmente impor regras. O segundo ponto é a mentoria, que envolve acompanhar de perto as crianças em sua jornada digital, não em uma única conversa, mas ao longo dos anos, trocando impressões sem julgamento. Por fim, os responsáveis devem monitorar a presença digital dos jovens, e para que isso funcione, é crucial conversar e explicar por que o monitoramento é importante. Vou fazer uma analogia: ter as senhas de redes sociais de uma adolescente dá o mesmo efeito que ter a chave da porta do quarto delas. Ele sabe que você pode entrar lá a qualquer momento, inclusive quando ele não está lá.

Muitas famílias se concentram na limitação do "tempo de tela". Essa é a métrica correta?

Não. Recomendo que o combinado da família vá além do "tempo de tela". O foco deve estar em considerar "para que a tela é usada e o que tem sido deixado de fazer por sua causa". A solução simplista da limitação de tempo de tela é pouco produtiva; é preciso jogar luz no vínculo, na presença e na educação ativa. Esse é um problema dos pais também. Eles não podem apenas dar um celular para uma criança sem orientar o que deve ser visto.

Foto: Reprodução

Pais viciados em telas conseguem impor algum tipo de limite aos filhos? Isso não soa hipócrita?

Absolutamente sim. Eu acredito que o primeiro objetivo para os responsáveis é "ser a mudança que queremos ver". Eles devem ser modelos de comportamentos que esperam ver nos filhos. Com 30 anos de clínica e de pesquisa, eu e todos aqueles que me auxiliaram a escrever esse livro sabemos que educar bem no universo das telas é um processo de estabelecer expectativas, e não apenas de impor regras.

Como o senhor vê, então, a lei brasileira que decretou a proibição dos celulares nas escolas? Foi um erro?

Não. Considerando que o papel da escola na vida de uma criança é duplo: aprender conteúdo e aprender a ser um cidadão independente de uma sociedade que ela mesma criou. Os smartphones servem como uma distração do primeiro e uma oportunidade para os pais tentarem resolver os desafios que fazem as crianças desenvolverem o segundo. Apoio os esforços legislativos no Brasil para remover os smartphones das escolas.

Qual é a melhor ferramenta de controle parental disponível para as famílias hoje?

Quando as famílias me perguntam sobre controle parental, costumo dizer que a melhor ferramenta é a que está entre as orelhas de seus filhos. Precisamos parar de ser polícia e começar a apoiar o sucesso deles. O processo de monitoramento já é algo que altera o comportamento das crianças e adolescentes nesses ambientes.

Quais são os tipos mais comuns de transtornos causados pelo vício em tecnologia?

Devo esclarecer que nossas observações clínicas ao longo de quase uma década de atendimento a jovens que foram prejudicados pelo uso de mídias interativas indicaram que o vício é um modelo clinicamente impreciso e terapeuticamente contraproducente para o uso problemático de mídias interativas (jogos, mídias sociais, pornografia, maratona de vídeos). O vício em nicotina, álcool ou opióides é o uso de uma substância prazerosa, mas desnecessária, impulsionado pelo desejo fisiológico de se sentir bem e não se sentir mal ao se abster. Os viciados são vistos como fracos de caráter, dignos de pena ou punição (ou ambos). Eles apontam para a substância que os afeta, em vez de assumir a responsabilidade por seus comportamentos. Nosso objetivo no tratamento da dependência é a abstinência/redução de danos.

A mídia interativa é agora um recurso necessário para educação, comunicação, conexão e comércio. O uso descontrolado não é motivado e não resulta em mudanças fisiológicas. É impulsionado por necessidades psicológicas, do TDAH à ansiedade, do autismo à depressão. Como a mídia interativa é necessária, nosso objetivo de tratamento não é a abstinência, mas a autorregulação. Vemos o transtorno da compulsão alimentar periódica como um modelo mais preciso e útil para o uso problemático de mídia interativa. Com o uso problemático de mídia interativa, os usuários devem ser responsabilizados pelo que fizeram online, em vez de alegar, de forma imprecisa, que o dispositivo ou a plataforma lhes causou algum dano.

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