Cibersegurança infantil vira tema nos presentes de Natal
Obra infantil criada por especialistas em tecnologia e gestão propõe educação digital preventiva e incentiva o diálogo entre pais e filhos
No Brasil, cerca de 93% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos já usam a internet. E por isso, a conversa sobre segurança digital deixou de ser tema exclusivo da escola e passou a disputar espaço na rotina familiar, inclusive nas férias e no Natal.
No mesmo período em que plataformas e governos tentam responder ao avanço de golpes, assédio e conteúdos impróprios, iniciativas educativas têm buscado traduzir esse universo para o público infantil, com linguagem acessível e foco na prevenção.
É nessa brecha que o livro infantil O Cibernauta em a Super Senha Secreta aparece como sugestão de presente com apelo prático, ao tratar de um assunto básico e recorrente na vida online: senhas, privacidade e cuidados ao navegar. O projeto foi criado pelos pais Daniel Meirelles e Eduardo Argollo e mira crianças de 6 a 10 anos, com proposta de leitura em família.
“O Cibernauta nasceu da necessidade de ensinar nossas crianças e também os adultos a navegarem com segurança. Hoje, tudo passa pelo digital: finanças, estudos, lazer. Por isso, entender o básico sobre proteção de dados e boas práticas online é uma questão de cidadania”, diz Daniel Meirelles, especialista em cibersegurança.
Segundo a minibio enviada pela equipe do projeto, Meirelles é gestor sênior de Tecnologia, com mais de 20 anos em Segurança da Informação, especialização em Transformação Digital e IA Generativa pelo MIT e certificação em Cybersecurity pela ISC2, além de atuar como CISO da Austral Seguradora e Austral Resseguradora.
Risco real e linguagem infantil no mesmo pacote
O pano de fundo é um ambiente digital que se tornou mais difícil de explicar e de monitorar. Em 2025, a SaferNet Brasil alertou que a maior parte das denúncias recebidas no ano estava ligada a abuso e exploração sexual online, com menções ao uso de ferramentas de inteligência artificial para manipular ou criar conteúdos. Em outra nota, a entidade informou alta de 114% nas denúncias de “pornografia infantil” em um recorte específico, após mobilização nas redes.
No cenário internacional, avaliações como a da WeProtect Global Alliance apontam que os registros de material de abuso sexual infantil analisados pelo NCMEC aumentaram 87% desde 2019, indicando crescimento e sofisticação das ameaças. Ao mesmo tempo, a ONU reporta que mais de um terço dos jovens, em 30 países, dizem já ter sofrido cyberbullying.
Na prática, o livro tenta ocupar um espaço onde muitos pais travam: como falar sobre proteção sem transformar a internet em “território proibido” e sem depender de jargões técnicos. “Queremos que as famílias aprendam juntas, de forma leve, sobre como se proteger. A ideia é transformar o aprendizado técnico em algo acessível, divertido e com propósito”, afirma Eduardo Argollo.
Argollo é economista, com mestrado em Administração de Empresas pela Université de Bordeaux, e tem carreira em gestão e projetos em empresas como PwC, Vale e Rede D’Or, entre outras, segundo a apresentação enviada pelo projeto.
Além da internet segura o que o livro treina fora da tela
A proposta do Cibernauta não se limita a alertas sobre senha forte ou cuidado com dados pessoais. O material também declara trabalhar competências socioemocionais e cognitivas que ajudam a criança a tomar decisões no ambiente digital, como pensamento crítico e diálogo com responsáveis.
Entre as habilidades citadas pelo projeto estão navegação segura, pensamento crítico, conexão familiar, criatividade e foco, além de comunicação clara, solução de problemas e capacidade de expressão.
Para pais e responsáveis, a utilidade prática costuma aparecer na conversa que vem depois da leitura. A mesma pesquisa TIC Kids Online Brasil mostra que o acesso é cada vez mais móvel, e o celular domina a porta de entrada das crianças para a internet, o que amplia a exposição a riscos em redes sociais, jogos e mensageria. Nesse contexto, especialistas em proteção infantil têm defendido abordagens que combinem orientação, supervisão e educação, em vez de apenas bloqueio.
Checklist de conversa para o Natal e as férias
Para aproveitar o período de mais tempo em casa, Daniel e Eduardo sugerem que a leitura vire gancho para combinados simples, revisados em família. Na prática, três ajustes costumam resolver parte do risco cotidiano:
Senhas e segredos: combinar que senhas não são compartilhadas com amigos e que a família usa frases longas, com mistura de letras e números, em vez de datas e nomes.
Dados pessoais: reforçar que endereço, escola, telefone e fotos com uniforme não devem ser enviados para desconhecidos nem publicados sem conversar com um adulto.
Pedido de ajuda: criar uma regra de ouro para a criança chamar um responsável ao ver mensagens estranhas, ameaças, pedidos de foto, promessas de brindes ou “desafios” que peçam sigilo.
O objetivo, defendem os autores, é transformar segurança digital em hábito e conversa recorrente, não em bronca isolada depois de um susto.