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Como lidar com o medo irracional em crianças? Confira dicas

Medo do escuro, avião, elevador, palhaço ou Papai Noel: é comum ver crianças com pavores que podem parecer irracionais; veja como lidar com isso

31 jan 2020 - 18h52
(atualizado em 3/2/2020 às 15h16)
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Atualizada em 03/02/2020, às 15:00

Quem nunca viu uma criança chorando ao ver um palhaço? Ou teve que tranquilizar um jovem com medo do escuro? Esse tipo de medo irracional é comum, e praticamente todos possuem relatos sobre o tema. Mas, afinal, como ajudar crianças a lidar com ele?

Primeiro, é importante definir o que é um medo irracional. A professora Leila Salomão Tardivo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, destaca que, no geral, os medos irracionais são conhecidos como fobias. Segundo o psicólogo Pedro Zuccolo, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), um temor irracional preenche ao menos um entre dois critérios.

O primeiro está ligado ao perigo real que a situação ou coisa que gera o medo representa para a pessoa. "Ter medo de andar no lugar a noite em um lugar ermo e escuro é algo bom de se ter, já em uma rua segura e super movimentada, não", exemplifica Zuccolo. Ele também define esse critério com outra perspectiva: o quanto fugir da situação faz fugir de um perigo real.

Uma pessoa que está perseguindo alguém em uma rua representa um perigo real, já um palhaço, não. Fazer essa distinção é importante, já que os medos racionais são positivos pois evitam que as pessoas passem por situações perigosas, atuando como um "mecanismo de defesa", segundo o psicólogo.

Já o segundo critério está ligado à capacidade funcional, ou seja, "o quanto o comportamento de evitar algo ou uma situação impacta de forma negativa outras esferas da vida, como perder oportunidades ou não usar recursos para facilitar a vida", explica Zuccolo.

Um exemplo que o especialista dá é o de pessoas que não conseguem viajar de avião pois tem medo, mesmo com a segurança do transporte, o que traz várias limitações.

Nesse sentido, um problema que o medo irracional costuma trazer é que as pessoas passam a evitar situações que não seriam prejudiciais para elas, e assim evitam situações normais e que poderiam até ser benéficas, como deixar de frequentar um ambiente em que um cachorro está por ter medo do animal.

Leila Salomão destaca que, até os seis anos, é comum que crianças tenham os chamados medos evolutivos, que são irracionais. "O medo irracional tende a desaparecer com o tempo [por ser evolutivo], mas com uma presença efetiva, um apoio dos pais", destaca a professora. Caso o medo continue, fique mais intenso ou chegue a casos extremos, em especial após os seis anos, o ideal é procurar uma ajuda profissional.

Mas qual a melhor forma de lidar, e até superar, esses medos? Zuccolo aponta que, do ponto de vista terapêutico, um medo que traz mais prejuízo do benefício e parece irracional possui um tratamento que se baseia mais "no enfrentamento do que em evitá-lo, mas isso é feito dentro de certos limites".

Um dos tratamentos utilizados é o de exposição, que envolve um conjunto de intervenções que colocam o paciente em contato com algo que ele tem medo, mas não representam um perigo real. "Cada vez que vai expor ao medo há um desconforto, mas ele não pode ser grande a ponto de precisar interromper o tratamento", ressalta o psicólogo.

Além disso, existem riscos ligados a essa técnica: "quando você sente medo de algo, a tendência é se esquivar da situação que traz medo, quando faz isso, gera alívio, e o comportamento fica mais fortalecido", comenta Zuccolo. Se no processo de enfrentamento a criança fica desconfortável, há o risco de intensificar o comportamento de esquiva, e intensificar o medo.

Assim, é importante respeitar os limites da criança ao realizar essa exposição e respeitar o tempo dela. Em casos extremos e mais complexos, procurar a ajuda de um profissional para conduzir o processo de superação é importante. Outra coisa a se pesar é se vale a pena passar por esse processo, que demanda tempo, esforço e possui os riscos já citados.

"Se uma criança tem medo de barata, você não vai contar com ela para matar a barata, mas isso não afeta muito a sua vida e a dela. Não vale a pena gastar tempo e energia para superar esse medo, é diferente de uma criança que tem medo de andar de elevador e mora em um prédio. Deve-se pensar o quanto o medo atrapalha no dia a dia", exemplifica o psicólogo.

Um elemento que pode ajudar no tratamento, mas não é essencial, é entender a origem desse medo. Em alguns casos, porém, ele está ligado a algo já esquecido, que fica no inconsciente da pessoa e foi reforçado por outras situações semelhantes. O processo de entender o ponto de surgimento, porém, é importante, tanto para crianças quanto para adultos.

Deve-se pensar, também, nos efeitos que a manutenção desse medo terá em um adulto. Zuccolo comenta que, no geral, é mais difícil para os mais velhos superar seus pavores, pois eles tentam racionalizá-los e criar justificativas para mantê-los.

O mais importante, no fim, é ser compreensivo e receptivo com a criança.

"Tem que entender que, se a criança sente o medo, ele é real e causa um sofrimento. Não precisa levar isso a ferro e fogo, mas tem que acolher ela, validar que está tudo bem ela sentir isso, mas deixar claro que se ela quiser enfrentar o medo você farão isso juntos. Apoiar a criança é essencial", conclui Zuccolo.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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