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Bedroom pop ganha público brasileiro com Giulia Be; conheça o gênero

'A música faz uma volta de 360 graus. Veio do meu quarto e você ouve da sua cama', diz cantora do hit 'Menina Solta' que está entre os dez mais ouvidos no País

22 out 2020 - 08h10
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Apesar da pandemia do novo coronavírus prejudicar e, até mesmo tirar, a vida de muitas pessoas e impor o isolamento social, para o bedroom pop ela ainda tem um pouco de zona de conforto. Enquanto muitos artistas estavam encarando a mudança abrupta de realidade, os precursores desse gênero musical já estavam acostumados com a produção de clipes e canções dentro de suas próprias casas.

O editor de Pop da Deezer no Brasil, Romar Sattler, explica que o gênero é muito novo e é difícil precisar quando exatamente teve início, porém acredita que pode ter começado há três anos, em 2017, com o lançamento de Pretty Girl, da cantora estadunidense Clairo.

"No início, vi muitos artistas do mainstream falarem que a pandemia foi desafiadora por ter que fazer um álbum remoto, ligar para produtores, compor e fazer call. Enquanto os do bedroom pop já estão em um cenário conhecido, por possuírem essa familiaridade de produzir em casa", explica ele.

O que é bedroom pop?

O processo de produção e composição é o diferencial do bedroom pop. Segundo Romar, os artistas trazem letras de experiências pessoais com ritmos e batidas feitas por eles mesmos, seja somente com uma guitarra, mini teclado ou ainda através de beat box com a boca.

"O gênero foge do mainstream, com mais de cinco compositores numa faixa, mixagem de um que passa para outro, etc. Parece com o estilo Lo-Fi, você pode ouvir músicas e pensar que não tem uma boa qualidade, mas a proposta do artista é escapar da realidade e o bedroom abraça isso. Porque é uma coisa mais intimista, ele está no quarto, ou algum cômodo da casa deles, falando de experiências muito pessoais, e talvez assim consigam mais conexão com os fãs", afirma.

Um grande nome que deu mais força para esse tipo de pop é a Billie Elish, que ganhou cinco Grammys, no início deste ano, com o seu álbum When We all Fall Asleep, Where Do We Go e possui 400 mil fãs na Deezer, segundo o editor.

Ainda que tenha mais sucesso internacionalmente, no Brasil, alguns artistas já se destacam dentro desse gênero, como é o caso da cantora Giulia Be, que finalizou seu primeiro EP da sua casa, entre março e maio deste ano. Solta já possui mais 330 milhões de streams nas plataformas digitais e recebeu certificado de platina no país.

Giulia Be e o pop piscina em Saquarema

"Quando entrei nesse cenário, as três opções eram: um Pop mais Funk, mas eu não tenho essa bagagem cultural; um MPB, que não era o que eu queria expressar; ou mais Eletrônico, que não se cantava muito em português. Fui me encontrando em 'não sou isso, nem aquilo' e veio dessa coisa artesanal, do coração. Do meu quarto, na minha cama e agora você está ouvindo aí da sua cama. A música faz uma volta de 360 graus", disse ela.

Em entrevista ao Estadão, Giulia conta que foi inspirada em Billie Elish e outros artistas como Rex Orange County e Alaina Castillo que começou a estudar mais sobre produção musical e desenvolveu a prática de escrever uma música por dia. Mas, a sua relação com a composição veio muito antes, desde os oito anos.

A cantora começou fazendo covers aos 18 anos no Youtube e, com 19, já teve sua primeira música, Too Bad, estrelando na novela O Sétimo Guardião, em 2018. Porém, ela acredita que realmente começou a revelar a sua essência só em agosto do ano seguinte, com a música Menina Solta, que chegou ao top 10 das mais ouvidas do país no Spotify.

Com mais de 240 milhões de streams, Giulia explica que a canção foi escrita enquanto estava na piscina com as amigas, em Saquarema, no Rio. "Eu não tinha dinheiro para contratar atores então chamei meus amigos para um rolê na praia e filmei, hoje o clipe já tem mais de 127 milhões de visualizações. É só se desconstruir e mostrar você crua pras pessoas, porque elas querem te ver o mais crua possível".

No início deste mês, ela lançou um feat com Luan Santana, Inesquecível, junto com um single da versão original da composição, feita em espanhol, Inolvidable. Apesar do clipe contar com uma produção maior, a composição da música foi feita neste mesmo processo de imersão da cantora, a partir de um áudio que ela ouviu quando foi dormir e escreveu a canção do seu quarto.

"Eu acho que música, na sua essência, vem de momentos humanos, de felicidade, tristeza, sendo colaborativa, ou solitária. E, pode ter certeza, que pode ser a música mais produzida da história, ainda vai ter vindo de um lugar muito pessoal pra mim", afirmou.

Democratização da internet

Assim como o caso de Giulia, o bedroom pop abre portas para que novos artistas possam surgir no cenário musical, com produções de baixo custo. Romar Sattler explica que, com a democratização da internet, muitas pessoas criativas estão entrando no mercado. "Se tiver um aplicativo no computador para batidas e um microfone razoavelmente bom, é possível", diz ele.

Para esses novos artistas, Giulia te um conselho."Eu sinto que muitas pessoas que tem o sonho de entrar na música ainda buscam fazer um grande investimento em produção. E, na verdade, não precisam. Quanto menos apegado em 'tem que ser perfeito', mais fácil a sua verdade vai vir. Meu conselho é nunca fazer uma música querendo um hit, mas sim pensando 'eu vou contar uma história'".

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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