Além da tradição de fim de ano: conheça os benefícios da romã para a saúde
Romã vai além da tradição de Ano Novo e pode atuar como aliada da saúde cardiovascular, desde que inserida em uma alimentação equilibrada
Presente em simpatias de Ano Novo e rituais de abundância, a romã carrega um simbolismo antigo de vitalidade e renovação. Mas, para além da tradição, a fruta passou a despertar interesse da ciência - especialmente quando o assunto é saúde cardiovascular. A resposta, no entanto, não cabe em promessas milagrosas. Entre potenciais benefícios e limites claros, a romã ocupa hoje um lugar mais realista: o de aliada, não de solução.
Por que a romã entrou no radar da saúde do coração?
O interesse científico pela romã começa na sua composição. A fruta concentra grandes quantidades de polifenóis, compostos antioxidantes associados à redução da inflamação e do estresse oxidativo - dois processos diretamente envolvidos na formação de placas de gordura nas artérias. Entre esses polifenóis, as chamadas punicalaginas se destacam. Elas são consideradas a assinatura química da romã e, após a digestão, se transformam em substâncias capazes de modular inflamações no organismo.
O que as pesquisas já observaram - e o que ainda não sabem
Em entrevista ao g1, a nutricionista e pesquisadora Maria Fernanda Naufel, PhD pela Unifesp, destaca que boa parte das evidências vêm de estudos clínicos com suco concentrado da fruta. "Ensaios clínicos randomizados e meta-análises já observaram reduções de marcadores inflamatórios, queda do LDL oxidado e diminuição da pressão arterial após o consumo regular de suco de romã", explica. Segundo ela, os resultados costumam aparecer com doses em torno de 200 a 220 ml diários.
Uma meta-análise publicada no Journal of the American Heart Association analisou diversos estudos e identificou redução consistente da pressão arterial em curto prazo. Outras revisões, reunidas no PubMed Central, apontam menor oxidação do LDL - o colesterol que, quando danificado, se deposita com mais facilidade na parede dos vasos.
É justamente nesse estágio inicial do entupimento das artérias que a romã parece atuar. Alguns trabalhos também indicam melhora da função do endotélio, camada interna dos vasos sanguíneos, essencial para o controle da circulação. Ainda assim, Naufel reforça a lacuna central: "O que falta são grandes estudos de longo prazo para saber se esses efeitos intermediários realmente se traduzem em menos infartos, AVCs e mortes."
Muito além do coração
Além do possível impacto cardiovascular, a romã é fonte de vitaminas A, C e E, ácido fólico, potássio e compostos bioativos com ação antioxidante e anti-inflamatória. Seu consumo está associado ao fortalecimento do sistema imunológico, proteção celular, saúde da pele, equilíbrio intestinal e até benefícios cognitivos, ligados à melhora da circulação cerebral. Consumida ao longo do ano (e não apenas nas festas) a romã pode integrar uma rotina alimentar mais nutritiva e consciente.
Fruta fresca, suco ou suplemento?
Na prática, a dúvida mais comum surge no dia a dia.
- Romã in natura: oferece fibras, menos açúcar e uma quantidade equilibrada de antioxidantes. É a forma mais segura e indicada para consumo regular;
- Suco concentrado: concentra mais polifenóis, motivo pelo qual aparece com destaque nos estudos, mas também reúne mais açúcar e perde fibras. Deve ser consumido com moderação;
- Extratos e cápsulas: não têm recomendação médica formal. Esses produtos podem interagir com medicamentos e não reproduzem fielmente os efeitos da fruta.
Então, vale apostar?
A ciência aponta que a romã tem, sim, benefícios reais, porém modestos. Ela não cura, não previne sozinha eventos graves e não substitui tratamento médico. Mas, dentro de um estilo de vida saudável, pode contribuir para a proteção do coração e do organismo como um todo. Talvez o maior valor da romã esteja justamente nesse equilíbrio: menos promessa, mais constância. Um símbolo que, quando acompanhado de escolhas diárias, pode ir além do ritual e fazer sentido também na saúde.