De onde vem o vira-lata caramelo? Pesquisa mapeia o DNA do animal
Estudo genético inédito revela a origem, a saúde e a identidade do vira-lata caramelo, o cão que virou símbolo do Brasil
Presente nas praças, nos portões de casa e no imaginário coletivo de todo brasileiro, o vira-lata caramelo é um dos maiores símbolos do país. Agora, pela primeira vez, a ciência realizou um retrato genético oficial do animal. O objetivo foi descobrir quem ele é, de onde veio e por que se parece tanto consigo mesmo em qualquer canto do Brasil.
O mapeamento faz parte da campanha "Caramelo: Patrimônio Cultural Brasileiro", conduzida pela PEDIGREE® em parceria com a DNA Pets. Ao todo, 305 cães identificados como caramelos tiveram o DNA analisado a partir de amostras de saliva, coletadas nas cinco regiões do país. O resultado vai além da curiosidade: revela padrões biológicos, comportamentais e de saúde interessantes.
Um cachorro moldado pela mistura
Muito antes de existirem raças reconhecidas, os cães moldaram-se pelas necessidades humanas - de proteção, trabalho e companhia. Com o passar do tempo, pequenas variações no DNA deram origem a centenas de raças. O caramelo, por sua vez, seguiu outro caminho: o da miscigenação contínua.
Por trás de sua aparência simples, há um quebra-cabeça genético complexo. A análise avaliou cerca de 65 mil marcadores genéticos e encontrou influências de 296 raças diferentes. As mais frequentes foram pastor alemão, american pit bull terrier, pequinês, spitz alemão e galgo espanhol. Uma mistura improvável que, curiosamente, resulta em um visual bastante reconhecível.
A "cara" do caramelo existe e se repete
Mesmo com tamanha diversidade genética, os pesquisadores observaram algo surpreendente: os caramelos brasileiros são muito parecidos entre si, independentemente da região onde vivem. Do Oiapoque ao Chuí, o perfil se repete. O chamado "kit básico" do caramelo inclui: porte médio, pelagem curta, cor fulva (o famoso caramelo), focinho médio a longo e orelhas eretas ou semi-eretas.
A pesquisa também identificou quatro tendências físicas mais comuns - do caramelo urbano ao sulista, passando por versões típicas do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Ainda assim, sem diferenças estatísticas significativas entre regiões. É como se o Brasil tivesse criado, espontaneamente, um mesmo cachorro em vários lugares ao mesmo tempo.
Genética diversa, saúde protegida
Um dos achados mais importantes do estudo está ligado à saúde. Foram analisadas 152 variantes genéticas associadas a doenças hereditárias. Apenas 21% dos cães apresentaram alguma dessas variantes - e, na maioria dos casos, eram apenas portadores, sem risco de desenvolver a condição.
Essa proteção vem da diversidade genética. Diferentemente de muitas raças puras, em que mutações recessivas se acumulam, os SRDs têm menor chance de herdar duas cópias alteradas do mesmo gene. A alteração mais frequente foi a da mielopatia degenerativa, condição neurológica rara e mais comum em raças de pastoreio. Apesar disso, o risco geral permanece baixo, e o acompanhamento veterinário pode ajudar a preservar a qualidade de vida dos animais afetados.
Temperamento que conquista
Quem convive com um caramelo reconhece facilmente o padrão: sociável, adaptável, energia equilibrada e uma impressionante facilidade de fazer amigos. A ciência ajuda a explicar. A mistura genética favorece temperamento estável e reduz extremos comportamentais, tornando o caramelo aquele cão "topo tudo" - companhia perfeita para diferentes estilos de vida.
Um símbolo que agora tem ciência
Ao revelar o DNA do caramelo, o estudo traduz em dados aquilo que o Brasil sempre soube por intuição: esse cachorro é diverso, resiliente e profundamente brasileiro. Um reflexo da própria miscigenação do país, que transformou a mistura em identidade. Talvez o maior mérito da pesquisa seja esse: lembrar que, por trás da simplicidade do vira-lata caramelo, existe ciência, história e uma riqueza genética que merece ser vista - e adotada.