Ocupação de várzeas pode aumentar enchentes nas cidades
- Sabrina Bevilacqua
- Direto de São Paulo
Para o professor e presidente do Instituto Internacional de Ecologia (IEE), José Galizia Tundisi, a questão das várzeas passou despercebida na discussão do Código Florestal, mas suas consequências poderão ser sentidas nas cidades. O Código Florestal vigente proíbe o cultivo ou a ocupação das áreas de várzea, considerando-as Áreas de Preservação Permanente (APPs). O novo texto reduz a proteção dessas zonas e ainda formaliza as áreas já desmatadas.
Tundisi ressalta que permitir a construção ou cultivo nas várzeas impermeabiliza as áreas. Assim, durante o período de cheia a água do rio não terá vazão, agravando o problema das enchentes.
As várzeas são terrenos inundáveis próximos de rios, lagos e igarapés. Elas ajudam no controle das enchentes, pois água que transborda tem para onde ir e, até mesmo, tempo para ser absorvida pelo solo. Quando a área próxima de rios, lagos é impermeabilizada, o escoamento natural deixa de ocorrer. Além disso, o emaranhado de raízes, algas e bactérias presentes nesses cursos de água funcionam como um filtro biológico. Retiram metais pesados e nitrogênio da água de maneira natural, melhorando a qualidade da água.
Segundo Tundisi, até 1980, não se dava muito valor para pântanos e brejos. Foi quando a Unesco fez um projeto para estudar o significado dessas áreas do ponto de vista ecológico, econômico e social no mundo todo. "A partir dos resultados, ficou claro que elas são extremamente importantes para o ecossistema e para as cidades", diz.