Trabalho de 'influencer mirim' gera prejuízo para crianças mesmo com monitoramento, diz pedagoga infantil
Ana Paula Yazbek é uma das convidadas do podcast 'Futuro Vivo', que já recebeu nomes como Gilberto Gil e Denise Fraga
A pedagoga Ana Paula Yazbek alerta sobre os prejuízos da exposição de crianças como influenciadores digitais, criticando a adultização e destacando a importância de limites, diálogo e educação apropriada para protegê-las no ambiente online.
"Nociva". Essa foi a palavra que a pedagoga Ana Paula Yazbek escolheu para definir um termo falado à exaustão em discussões na internet, programas de TV e até no Congresso: a adultização. Desde que o perigo da superexposição de crianças nas redes foi denunciado pelo youtuber Felipe Bressanim, o Felca, a preocupação de responsáveis e educadores aumentou sobre o tema. Ao podcast Futuro Vivo, a especialista criticou perfis de influenciadores mirins e falou em como criar um ambiente digital mais seguro para os pequenos.
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Conduzido pelo apresentador Victor Cremasco, o podcast Futuro Vivo conta com doze episódios e faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube). Já participaram Carlos Nobre, Kaká Werá, Gilberto Gil, Denise Fraga, Bia Saldanha e os curadores do Masp Isabella Rjeille e André Mesquita.
A internet foi tomada pelo 'efeito Felca' em agosto deste ano, quando o influenciador decidiu expor redes de exploração infantil em plataformas digitais. Passados dois meses, o vídeo acumula mais de 50 milhões de visualizações e sua repercussão até mesmo ajudou na aprovação do PL 2.628/2022 na Câmara e no Senado. O texto que prevê o endurecimento nas regras de proteção a crianças no ambiente digital foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em setembro.
A medida, que visa um maior monitoramento da atividade infantil nas redes, é importante para defender os menores do impacto nocivo da exposição. “[A adultização] é a antecipação de conteúdos que as crianças não têm condições de lidar", define Ana Paula em conversa com Victor Cremasco.
“Depositar nas crianças coisas que são angústias dos adultos não é algo positivo. Quando pensamos na adultização, pensamos em coisas que são patologias da nossa sociedade; vamos para lugares perversos. Podemos ir para pedofilia, para a excessiva sexualização, consumo desenfreado…”, continua.
Além de expostas a conteúdos inapropriados feitos por terceiros, algumas crianças passam também a produzir seus próprios vídeos para a internet. Em diversos perfis dos "influenciadores mirins", é comum ver o aviso na descrição: "conta monitorada pelos pais." Para Ana Paula, a supervisão não é suficiente.
“Acho extremamente sério [perfis infantis], inclusive quando famílias fazem isso. Mesmo quando há respeito à inteligência da criança, é grave. Porque essa exposição tira a fronteira entre o público e o privado." - Ana Paula Yazbek
Além de monitorar e impor limites, as melhores saídas são conversar com essas crianças de maneira apropriada e explicar os riscos. O melhor exemplo dado pela pedagoga vem na linguagem infantil: um conto de fadas.
"Na história da Bela Adormecida, optaram por tirar os fusos de roca da frente da princesa e ela só foi ter contato com o tal fuso da roca aos 16 anos. A primeira coisa que ela fez foi furar o dedo, porque ninguém nunca contou para ela que aquilo era algo perigoso", narra. "Se alguém tivesse contado, a chance dela não ter posto o dedo ali era maior. Talvez ela também pusesse, mas teria a chance, porque alguém teria contado. Então, a gente tem que saber que educação é uma boa aposta", completa.