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Tecidos que imitam couro feitos com abacaxi, kombucha e folhas viram tendência no mundo da moda

Alternativas mais sustentáveis ao uso do couro animal são exploradas pela alta costura, mas ainda não são acessíveis aos consumidores

24 nov 2025 - 05h00
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A dra. Carmen Hijosa é a empresária criadora do Piñatex, na Espanha.
A dra. Carmen Hijosa é a empresária criadora do Piñatex, na Espanha.
Foto: Divulgação/Ananas Anam Ldt.

A busca por alternativas mais sustentáveis ao couro animal tem levado pesquisadores, marcas de moda e startups a desenvolverem novos materiais que imitam o couro, mas sem utilizar pele de origem animal. Esses materiais, que vêm sendo chamados informalmente de “couro vegetal” ou “couro ecológico”, podem ser produzidos a partir de fibras de abacaxi, folhas, látex, cogumelos, kombucha e até resíduos da indústria de frutas.

Apesar da semelhança no toque e na aparência com o couro tradicional, eles não podem legalmente ser chamados de “couro” no Brasil. Uma lei federal de 1965 determina que o termo somente pode ser usado para materiais feitos a partir de pele animal curtida. Assim, expressões como “couro ecológico” ou “couro vegano” podem render multa a fabricantes e lojas que utilizam o nome de forma comercial.

O Piñatex após a confecção do tecido pode ser usado em todo tipo de produto têxtil
O Piñatex após a confecção do tecido pode ser usado em todo tipo de produto têxtil
Foto: Divulgação/Ananas Anam Ldt.

“A gente tem que lembrar que não pode chamar de couro, existe a Lei nº 4.888/65, de 1965, é uma lei muito antiga, que diz que a gente não pode chamar nada que não seja pele de animal curtida de couro. Então é passível de multa”, explica Ana Laura Scalea, especialista em tecidos e pesquisadora de inovação têxtil.

Do abacaxi à passarela

Um dos materiais alternativos mais conhecidos é o Piñatex, criado a partir das fibras retiradas das folhas do abacaxi. Ele começou a ser desenvolvido nas Filipinas e hoje é processado na Espanha. Em 2019, o material ganhou visibilidade quando foi usado em um desfile da grife Hugo Boss.

Extração das folhas de abacaxi dá início ao processo do Piñatex
Extração das folhas de abacaxi dá início ao processo do Piñatex
Foto: Divulgação/Ananas Anam Ldt.

A proposta é reaproveitar resíduos agrícolas, reduzindo o descarte e oferecendo uma opção sem origem animal. Porém, segundo Scalea, o impacto ambiental não pode ser avaliado apenas pela matéria-prima.

Piñatex passa por fabricação que envolve muitas etapas até chegar no produto final
Piñatex passa por fabricação que envolve muitas etapas até chegar no produto final
Foto: Divulgação/Ananas Anam Ldt.

“Quando a gente fala de sustentabilidade, a gente também tem que pensar no caminho que esse material percorre. O Piñatex vem das Filipinas, as folhas. Só que ele é processado na Espanha. Então, quando a gente pensa no global que a gente faz esse transporte, a gente acaba perdendo tudo”, afirma, em relação à pegada de carbono.

Outras alternativas

Além do material à base de abacaxi, há outros compostos semelhantes ao couro sendo desenvolvidos no mundo --e no Brasil. Entre eles:

  • Mico-couro (feito de cogumelos);
  • Tecido de kombucha, produzido a partir de celulose bacteriana;
  • Revestimentos à base de látex, como os produzidos em cooperativas na Ilha de Marajó;
  • Folhas de “orelha-de-elefante” curtidas, usadas em acessórios da marca brasileira BeLeaf e em roupas da Misci.
O tecido de kombucha também é capaz de substituir o couro animal
O tecido de kombucha também é capaz de substituir o couro animal
Foto: Reprodução/Otimotex

As opções brasileiras são interessantes porque fortalecem comunidades, geram renda local e evitam o transporte internacional, que aumenta o impacto ambiental, conforme Scalea.

O tecido feito de cogumelos é um potencial substituto ao couro animal
O tecido feito de cogumelos é um potencial substituto ao couro animal
Foto: Reprodução/Fashion Network

A grife brasileira Misci usou as folhas da planta chamada orelha de elefante para criar um biotecido em um desfile em 2024. Veja abaixo.

Materiais ainda são caros

Mesmo com todo o potencial sustentável, esses materiais ainda são caros. O Piñatex, por exemplo, pode chegar ao Brasil custando entre R$ 600,00 e R$ 700,00 por metro --preço semelhante ou até superior ao couro animal.

A produção em pequena escala, a necessidade de pesquisa constante e os processos de conservação encarecem o material. Por isso, ele aparece com mais frequência em coleções de alta costura do que em peças vendidas no varejo. “Esses materiais ainda não são acessíveis”, avalia a especialista.

Melhor do que o plástico

Essas novas alternativas também surgem como resposta à popularização do poliuretano (PU), material sintético vendido como “couro fake”. Apesar da aparência semelhante ao couro animal, o PU é um plástico --e conhecido pela baixa durabilidade.

“É aquele material que descasca depois de um tempo. Ele tem vida curta e não há reciclagem. Então, acaba sempre no lixo. Entre todas as opções, o PU é a pior para o meio ambiente”, afirma Scalea.

Já materiais vegetais podem durar muito tempo, dependendo do cuidado e da forma de uso. Alguns podem ser hidratados, outros são resistentes à água, e muitos já passam pelos mesmos testes de resistência aplicados ao couro animal.

Para Ana Scalea, mais do que imitar o couro, a moda precisa abrir espaço para materiais que tenham identidade própria --e que não dependam do desejo de reproduzir o visual do couro animal.

“A gente tem que repensar essa cultura de que a gente ‘tem que ter’ uma coisa de couro. A gente pode pensar em outros tecidos, ou esses materiais ainda não são acessíveis. A população precisa entender o que acontece com esse lixo têxtil para aí se conscientizar e começar a ter uma produção maior e que acessibilize o valor", defende.

“Eu acho que é um caminho importante para a gente pensar em alternativas de menor impacto, e alternativas para as pessoas que optam por não consumir produtos de origem animal."

Fonte: Futuro Vivo
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