Guterres cobra países, manda recado a Trump e diz que 'não é hora de falar sobre a COP30 ter falhado'
Secretário-geral da ONU reforçou compromissos do Acordo de Paris durante discurso na conferência em Belém (PA)
António Guterres, secretário-geral da ONU, chamou atenção para o aumento do aquecimento global, reforçou a urgência de compromissos climáticos e de financiamento para adaptação, e afirmou que não é momento de declarar a COP30 como um fracasso.
António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), cobrou mais financiamentos privados e apoio dos governos contra o aquecimento global durante discurso na 30ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) nesta quinta-feira, 20, antes de viajar para a África do Sul, onde ocorrerá o encontro do G20. Guterres também mandou um recado para Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e disse que não é hora de afirmar que a conferência em Belém (PA) "falhou".
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"Após décadas de negação e demora por muitos, a ciência nos diz que um excedente temporário acima de 1,5 grau – a partir, no mais tardar, do início da década de 2030 – tornou-se inevitável. Sabemos o que isso significa. Mais calor e fome, mais desastres e deslocamentos. Faço um forte apelo a todas as delegações para mostrarem disposição e flexibilidade para entregar resultados que protejam as pessoas e mantenham o limite de 1,5 grau vivo. Um resultado justo – concreto no financiamento da adaptação, credível nos cortes de emissões, bancável no financiamento", iniciou.
O secretário-geral enfatizou que nem todas as delegações deixarão a COP30 com os objetivos que querem, mas que cada país tem a missão de alcançar um acordo equilibrado. Segundo ele, é preciso proteger as pessoas e entender que a meta de adaptação não é um objetivo abstrato e, sim, uma prioridade mais prática.
"As necessidades de adaptação estão disparando – e o excedente as elevará ainda mais. Ainda assim, o compromisso dos países desenvolvidos de dobrar o financiamento para adaptação neste ano está se esvaindo. Triplicar o financiamento para adaptação até 2030 é essencial. Convido todos os financiadores – parceiros bilaterais, fundos climáticos e bancos multilaterais de desenvolvimento – a intensificarem esforços e evitarem mais tragédias", acrescentou.
Ele destacou que, dez anos após o Acordo de Paris, houve avanços nos compromissos climáticos, mas não o suficiente, e reforçou o pedido para uma transição energética justa com a adoção de energia limpa por parte das delegações.
"O Relatório de Lacunas de Emissões do PNUMA mostra que as Contribuições Nacionalmente Determinadas [NDCs] de hoje – mesmo se plenamente implementadas – nos colocariam em um caminho muito acima de 2 graus de aquecimento global. Isso é uma sentença de morte para muitos. Esses planos nacionais devem ser um piso, não um teto. A revolução das energias renováveis torna isso possível. A energia limpa nunca foi tão barata e abundante", afirmou.
Questionado sobre qual mensagem ele gostaria de deixar para o presidente Donald Trump, que não compareceu à COP30, ele evitou se estender na resposta e afirmou: "Estamos esperando por você".
Em discurso na noite de quarta-feira, 19, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que um dia "convencerá" o presidente dos Estados Unidos de que a questão climática é um assunto sério. Em agosto deste ano, Lula chegou a enviar uma carta para Trump, na tentativa de convencê-lo a vir ao evento na Amazônia, mas não obteve sucesso.
Em relação aos compromissos de adaptação e mitigação, que devem ser possivelmente firmados entre as delegações após o final da COP30, Guterres se manteve esperançoso.
"Acho que este não é o momento de falar sobre a possível falha da COP30. Este é o momento de garantir que esse fracasso não aconteça. Por isso, estou plenamente convencido de que um compromisso é possível, que leve em conta, como mencionei, as preocupações legítimas sobre adaptação e as preocupações legítimas sobre mitigação, que, é claro, incluem a necessidade de considerar a questão dos combustíveis fósseis, como foi feito na Cúpula de Dubai, a COP anterior", completou.
*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.
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