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O que o Pacto de Concórdia representa para o futuro da F1

Novo acordo assinado pelas equipes passa a vigorar este ano e pretende garantir que a F1 seja mais equilibrada e sustentável por cinco anos

22 fev 2021 - 10h48
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Pacto da Concórdia foi assinado na sede da FIA, em Paris, na Praça da Concórdia.
Pacto da Concórdia foi assinado na sede da FIA, em Paris, na Praça da Concórdia.
Foto: Twitter

Quem acompanha a Fórmula 1 deve ter lido ou ouviu alguma vez sobre o Pacto de Concórdia, que é um acordo entre a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) com a empresa que detém os direitos comerciais da Fórmula 1 – no caso, o grupo Liberty Media – e as dez equipes que fazem parte da categoria. Ele ganhou esse nome porque a primeira versão foi assinada em 1981 na sede da FIA, na Praça da Concórdia, em Paris.

Esse acordo, de maneira geral, é um documento comercial que define, entre outros temas, os regulamentos técnicos, como questões de segurança e motores, além dos limites de orçamentos e distribuição das receitas sobre os direitos de transmissão e premiações entre as equipes. Em resumo: todos que querem seguir na categoria devem assinar o pacto e esse acordo é a base sobre a qual as equipes participam do campeonato e dividem seus lucros.

E se 2020 já seria um ano tão aguardado em questões de novos regulamentos e pela negociação deste novo acordo entre a FIA, Liberty Media e as equipes, a pandemia de Covid-19 mexeu ainda mais com as estruturas da categoria. Depois de meses de discussões, o novo pacto foi assinado em agosto do ano passado e tem validade de cinco anos, de 2021 a 2025. O que estava valendo até o final de 2020 tinha sido acordado em julho de 2013, ainda na gestão de Bernie Ecclestone, pela Formula One Management (FOM).

Bernie Ecclestone: ficou no passado.
Bernie Ecclestone: ficou no passado.
Foto: Twitter

Vale lembrar que a Mercedes chegou a ameaçar não assinar o acordo. Os alemães mostraram insatisfação com o pacto e não o assinariam antes do prazo estabelecido pelo Liberty Media porque acreditavam que a equipe não teria sido contemplada de forma justa na divisão das premiações. Para eles, Ferrari e Red Bull receberiam mais contrapartidas, mesmo a Mercedes tendo contribuído mais para a categoria, como a conquista dos sete mundiais de construtores entre 2014 e 2020.

E como manter uma F1 mais equilibrada dentro de uma herança do instinto de ganhar cada vez mais dinheiro pregado em décadas por Bernie Ecclestone? O que seria da categoria a partir de agora se somente a Ferrari recebesse pagamento extra apenas por ser a única equipe a competir desde a primeira etapa em 1950? Ou se apenas as equipes tradicionais que estão há mais tempo e se destacaram na categoria recebessem um bônus, como Ferrari, Mercedes, Red Bull, McLaren e Williams? E as equipes menores, como ficariam nesse cenário?

Fórmula 1 mais equilibrada é um objetivo do Pacto da Concórdia.
Fórmula 1 mais equilibrada é um objetivo do Pacto da Concórdia.
Foto: Twitter

Desde que o grupo Liberty Media assumiu a Fórmula 1, a proposta era a de garantir um futuro sustentável a longo prazo na categoria. Mas, a pandemia do novo coronavírus mostrou que quem pagou os custos da temporada passada foram os patrocinadores, as empresas detentoras dos direitos de transmissão de TV e os parceiros que mantiveram seus compromissos comerciais, mesmo em um cenário incerto. Poucos espectadores conseguiram entrar nos autódromos, pois apenas algumas etapas tiveram público e de forma muito reduzida – e, por isso, a venda de ingressos e os convites do paddock-club, que também fazem parte da receita, foram muito limitados.

Com os valores abaixo do que se esperava para uma temporada em que havia expectativa de recorde de etapas, a Fórmula 1 viu-se obrigada a rever suas contas o mais rápido possível: durante a paralisação da temporada, fábricas foram fechadas por dois meses, houve restrição ao desenvolvimento dos carros para o ano seguinte, no caso, que seriam para esta temporada, passou-se de 23 para 17 etapas no calendário e houve redução no teto orçamentário.

Assim, a assinatura do novo Pacto de Concórdia ofereceu, acima de tudo, uma certa estabilidade à Fórmula 1, principalmente diante do cenário da pandemia de Covid-19 e da expectativa do novo regulamento técnico, que entrará em vigor a partir do próximo ano. Mas, espera-se que 2021 seja o início das mudanças da Fórmula 1, principalmente se pensarmos na redução das diferenças financeiras com o teto de gastos. Inicialmente definido em US$ 175 milhões (R$ 941 milhões), o orçamento foi reduzido para 2021 em US$ 145 milhões (R$ 780 milhões), US$ 140 milhões em 2022 (R$ 753 milhões) e em US$ 135 milhões (R$ 725 milhões para 2023). Mas, como o universo da F1 permite exceções, existem outros itens que não estão dentro desse teto, entre eles, os salários dos pilotos, despesas de viagem, custos de marketing, além dos três funcionários mais bem pagos de cada equipe, que geralmente são o chefe e o diretor técnico.

Toto Wolf: salário dos chefes de equipe não estão limitados.
Toto Wolf: salário dos chefes de equipe não estão limitados.
Foto: Twitter

Com valores mais limitados e a divisão das premiações entre as equipes distribuídas de maneira mais justa, as equipes menores, do meio do grid para trás, poderão ser beneficiadas com a situação. Se o acordo vai garantir esse almejado futuro sustentável e reduzir as diferenças financeiras entre as equipes, só o tempo dirá. Mas, talvez esse seja o primeiro acordo em que a FIA realmente possa enxergar o Liberty Media como um parceiro em uma relação ganha-ganha: ambos precisam um do outro para fazer corridas mais atrativas, trazer mais anunciantes e parceiros comerciais, além de despertar cada vez mais o interesse dos fãs pelos eventos, com geração de receita para ambos. 

Esse é um passo para tornar a categoria menos desigual e afastar uma herança de Bernie Ecclestone, que deve ser lembrado como alguém que mudou a história da Fórmula 1 ao longo de sua gestão e pelo primeiro Pacto de Concórdia, mas que agora merece ser lembrado como passado. Pelo bem e pelo tão desejado futuro sustentável da categoria.

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