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Guia do Carro

Fiat Toro Ranch 2.0 Turbo, o veículo certo na hora errada

Com tração 4x4, motor a diesel e espaço de sobra, a picape Toro era ideal para explorar algumas praias do Nordeste. Mas veio o coronanívus

24 mar 2020 - 17h05
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Fiat Toro em frente ao Mosteiro de São Bento, em Olinda: viagem interrompida.
Fiat Toro em frente ao Mosteiro de São Bento, em Olinda: viagem interrompida.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

Era para ser um roteiro de Recife a Porto de Galinhas e de lá para João Pessoa. No meio do caminho fica Goiana, a cidade pernambucana que abriga a fábrica da FCA na qual é produzida a Fiat Toro. A picape Toro, como já escrevi em outro texto, foi a melhor ideia da década passada. Afinal, trata-se de uma picape espaçosa, cabine dupla, 4x4, com motor a diesel, com a dirigibilidade de um carro. Retirei a Toro Ranch (versão que estreou em 2018) na concessionária Fiat Italiana, no Recife. Apesar do avanço do coronavírus na Europa, a situação no Brasil estava calma. 

Todas as Toro 2.0 4x4 são automáticas de nove marchas. Essa versão é meio cara. A Ranch custa R$ 165.990. Acima dela só tem a nova Toro Ultra, por R$ 167.990. Mas existem outras três versões a diesel mais baratas. A Endurance sai por R$ 134.990, a Freedom custa R$ 146.990 e a Volcano (presente desde o lançamento da picape) tem preço sugerido de R$ 158.990. Só essa enorme variedade de versões a diesel 4x4 já explica o sucesso da Toro.

Apesar de não ser mais novidade, a Toro ainda chama atenção por seu design. Ela inovou ao trazer um conjunto ótico duplo. As luzes diurnas formam um filete na linha do capô junto com o friso cromado. Na versão Ranch, cujo conceito remete à fazenda, os faróis de neblina têm função cornering, ou seja, iluminam o lado das curvas. Isso é útil em estradinhas de terra à noite. Mas já no Recife e em Olinda a Toro Ranch fez sucesso por onde passou, disputando os olhares com as belezas das duas cidades pernambucanas.

As caixas de rodas têm molduras de plástico e as rodas são muito bonitas em todas as versões. Na Ranch elas são de 18” e trazem a cor prata lunar. Essa cor também está presente na barra do teto e na parte inferior do para-choque dianteiro. Os pneus têm medida 225/60, portanto garantem bom desempenho na estrada, mesmo com chuva, mas para trechos de terra um perfil mais alto seria mais adequado. Na lateral, o santantônio, os estribos e os retrovisores também são cromados. O santantônio traz o emblema da versão. A Toro Ranch também tem para-barros dianteiro e traseiro e protetor do vidro traseiro.

A Toro numa das ruas de Olinda: design chamou a atenção das pessoas.
A Toro numa das ruas de Olinda: design chamou a atenção das pessoas.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

Na traseira, a Toro Ranch vem com um gancho de reboque cromado. Um acessório interessante, mas que eu não pretendia usar. Ele é removível. A caçamba de 820 litros foi mais do que suficiente para abrigar duas malas médias. Em cada hotel que chegava, o acesso à bagagem era muito fácil, devido à abertura horizontal da tampa, que é dividida no meio. A capacidade de carga da picape é de 1.000 kg (com os passageiros).

Já em Porto de Galinhas as notícias sobre o coronavírus começaram a ficar preocupantes. A ordem passou a ser não sair muito, evitar aglomerações -- e aí praticamente acabou o planejamento que eu tinha para a Toro. Não deu, por exemplo, para explorar todo o potencial da suspensão multilink na traseira. Mas, como eu já havia rodado com a Toro Ranch (e com outras versões também), afirmo sem medo de errar que a Fiat fez um trabalho formidável com essa suspensão. Ela é oriunda do Jeep Renegade, mas tem dois braços diferentes por causa da carga necessária numa picape. O vão livre do solo tem bons 202 mm, que foram úteis em duas ou três ruas de Olinda. 

Por dentro, a Toro se diferencia primeiramente pelo espaço. Antes da Toro e da Renault Oroch, a única opção fora das picapes tradicionais eram as cabines duplas das picapinhas Fiat Strada e Volkswagen Saveiro. Agora, com a nova geração da Strada, a Toro finalmente vai ganhar uma concorrência dentro de casa. O interior traz couro marron. Os bancos exibem a marca Ranch no encosto. Eles têm ajustes milimétricos. De uma forma geral, a cabine é bem agradável, apesar dos plásticos duros em vários locais. O painel é muito bem desenhado. O volante tem ótima empunhadura, com ajuste de altura e profundidade. Para trocas manuais, tem borboleta. A tela multimídia fica na mesma altura do quadro de instrumentos. A conectividade tem Android e CarPlay. O ar é digital automático. Só o espaço para objetos é muito ruim, tanto no console central quanto nas portas.

Uma picape elegante e com boa altura do solo: essa é a Toro Ranch.
Uma picape elegante e com boa altura do solo: essa é a Toro Ranch.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

A estrada que leva de Recife a Porto de Galinhas é boa, de pista dupla, com pouco movimento. Portanto, sobrou potência no motor 2.0 turbo de 170 cavalos. Se num carro como o Caoa Chery Arrizo 5 o câmbio CVT de nove marchas faz diferença, numa picape como a Toro é ainda melhor. Só que a transmissão da Toro é automática convencional, com engrenagens e conversor de torque. A potência máxima é entregue a 3.750 rpm e, apesar do motor a diesel, o ruído não incomoda. Mas bom mesmo é o torque. São 350 Nm disponíveis a 1.750 rpm. Dá para fazer trocas manuais também na alavanca, mas o câmbio automático tem um ajuste tão bom que raramente precisei antecipar uma marcha. 

Outra vantagem do motor a diesel, principalmente com a economia do país e do planeta em frangalhos, é o baixo consumo de combustível. Na cidade, o consumo é de 10 litros a cada 100 km. Na estrada, usando a fórmula mais comum aos brasileiros, a autonomia é de 12,6 km/l. O consumo rodoviário é de 7,9 litros/100 km. Como rodei pouco, nem parei para abastecer, pois a Toro tem alcance de 756 km na estrada e de 600 km na cidade. Em algumas poucas ocasiões, acelerando mais forte, deu para sentir outra razão do sucesso comercial da Fiat Toro: o comportamento dinâmico de carro de passeio, pois, ao contrário das picapes tradicionais, ela usa carroceria monobloco e não fixada sobre um chassi. O diâmetro de giro, entretanto, é muito ruim -- por sorte, o espaço no litoral de Pernambuco era generoso.

Retorno antecipado para Recife: devido ao coronavírus, nossa viagem com a Toro Ranch foi abortada.
Retorno antecipado para Recife: devido ao coronavírus, nossa viagem com a Toro Ranch foi abortada.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

Mas não dava para estender a viagem. Foi preciso abortar o passeio da Toro Ranch, eliminar Goiana e João Pessoa do roteiro e antecipar a volta. Ficar isolado passou a ser a atitude mais recomendada para tentar segurar a curva de crescimendo da pandemia de coronavírus e dar chance aos serviços de saúde para prestar um bom atendimento. Por sorte, mesmo no aeroporto de Guararapes não houve necessidade de fazer manobras de 180 graus com a Toro (necessitaria dar marcha-à-ré, se fosse local estreiro). Nessa altura, eu já estava com máscara sanitária no rosto e a única coisa que pensava sobre o carro era que precisava devolvê-lo. Com a volta antecipada, entreguei a Toro na concessionária Italiana. A tensão já estava presente em todos os funcionários que ainda não haviam sido dispensados. Nas ruas do Recife, poucos automóveis circulavam e eram em número superior ao de pessoas. 

A convivência com a Toro Ranch 2.0 Turbo 4x4 foi breve e tenho certeza que resultaria em belas fotos e experiências no litoral de Pernambuco e da Paraíba. A Toro cumpriu sua parte ao mostrar que o automóvel ainda pode ser um símbolo de liberdade, para levar as pessoas a diferentes locais com rapidez, segurança, conforto, praticidade e conectividade. Estava feliz de saber que, além dos sistemas Android Auto e Apple CarPlay, a Fiat Toro Ranch também tem navegador por GPS, que funciona sem conexão com internet. Mas, para que o carro possa ser apreciado como aliado da liberdade humana, é preciso que o planeta esteja saudável. Infelizmente, nosso planeta não anda muito saudável, mas já respira melhor com os humanos confinados, enquanto nossa espécie luta desesperadamente contra um vírus que nos impede de respirar. A picape Toro era o carro certo na hora errada. Que a hora certa volte em breve e os carros possam sair das garagens para cumprir seu papel na sociedade.

FIAT TORO RANCH 2.0 4X4 AT9
Item Conceito

Nota

(0 a 5)

Desempenho Bom 3
Consumo Médio 2
Segurança Muito bom 4
Conectividade Muito bom 4
Conforto Ótimo 5
Pacote de Série Muito bom 4.5
Usabilidade Ótimo 5
Veredicto Muito bom 3,9

Os números

  • Preço: R$ 165.990
  • Motor: 2.0 turbo diesel
  • Potência: 170 cv a 3.750 rpm
  • Torque: 350 Nm a 1.750 rpm
  • Câmbio: 9 marchas AT
  • Comprimento: 4,944 m 
  • Largura: 1,844 m 
  • Altura: 1,743 m
  • Entre-eixos: 2,900 m
  • Vão livre: 202 mm
  • Peso: 1.871 kg
  • Pneus: 225/60 R18
  • Caçamba: 820 litros
  • Carga útil: 1.000 kg
  • Tanque: 60 litros
  • 0-100 km/h: 10s0
  • Velocidade máxima: 188 km/h
  • Consumo cidade: 9,9 km/l
  • Consumo estrada: 12,3 km/l
  • Emissão de CO2: 184 g/km
Saiba por que a picape Fiat Toro foi a melhor ideia da década:
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