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Tubarões e raias obtêm vitória para sua conservação com novos limites no comércio internacional

Os tubarões têm enfrentado momentos difíceis desde a década de 1970, com a sobrepesca, a perda de habitat e o crescente comércio de barbatanas reduzindo suas populações. O filme "Tubarão" não ajudou.

22 dez 2025 - 11h39
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Um tubarão-baleia nada no Georgia Aquarium (EUA): populações de várias espécies vêm caindo desde os anos 1970 devido à sobrepesca, perda de habitat e comércio de barbatanas Zac Wolf/Wikimedia Commons, CC BY-SA
Um tubarão-baleia nada no Georgia Aquarium (EUA): populações de várias espécies vêm caindo desde os anos 1970 devido à sobrepesca, perda de habitat e comércio de barbatanas Zac Wolf/Wikimedia Commons, CC BY-SA
Foto: The Conversation

Os oceanos do mundo abrigam uma variedade extraordinária de tubarões e raias, desde alguns dos maiores peixes do mar - como o majestoso tubarão-baleia e as raias-manta - até o luminescente, mas raramente visto, tubarão-lanterna-das-profundezas e os peixes-guitarra.

Os oceanos já foram repletos dessas espécies extraordinárias e antigas, que evoluíram há quase meio bilhão de anos. Mas o último meio século representou um dos maiores desafios à sua sobrevivência. A sobrepesca, a perda de habitat e o comércio internacional reduziram seus números, colocando muitas espécies em risco de extinção ainda em nossa geração.

Cientistas estimam que 100 milhões (sim, milhões) de tubarões e raias são mortos a cada ano para alimentação, óleo de fígado e outros fins comerciais.

O volume de perdas é devastadoramente insustentável. A pesca excessiva fez com que as populações oceânicas de tubarões e raias caíssem cerca de 70% globalmente desde a década de 1970.

Uma raia-manta deslizando com peixes.
Uma raia-manta deslizando com peixes.
Foto: The Conversation
A envergadura de uma raia-manta pode ser de 3,6 a 6,7 metros, e algumas raias oceânicas gigantes podem crescer ainda mais.Jon Hanson/Flickr, CC BY-SA

É por isso que países de todo o mundo concordaram em dezembro de 2025 em adicionar mais de 70 espécies de tubarões e raias à lista de um tratado internacional sobre comércio de animais selvagens para proteção total ou parcial.

É uma medida importante que, como biólogo que estuda tubarões e raias, acredito que já deveria ter sido tomada há muito tempo.

Humanos colocam espécies em risco de extinção

Os tubarões têm passado por momentos difíceis desde a década de 1970, quando a sobrepesca, a perda de habitat e o comércio internacional de barbatanas, óleo e outras partes do corpo desses enigmáticos habitantes do mar começaram a afetar suas sensíveis populações. O filme "Tubarão"", de 1975, e sua representação do grande tubarão branco como uma máquina de matar irracional não ajudou a melhorar sua percepção pelar pessoas.

Uma das razões pelas quais as populações de tubarões são tão vulneráveis à pesca excessiva e menos capazes de se recuperar é o atraso na maturidade sexual e o baixo número de descendentes. Se os tubarões e as raias não sobreviverem por tempo suficiente, a espécie não consegue reproduzir novos membros em número suficiente para permanecer estável.

A perda dessas espécies é um problema global porque elas são vitais para a saúde dos oceanos, em grande parte porque ajudam a controlar as populações de suas presas.

A raia-guitarra-de-boca-arqueada, mostrada aqui no Shedd Aquarium em Chicago, é considerada criticamente ameaçada de extinção.

Listas de espécies ameaçadas e em risco de extinção, como a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, podem ajudar a chamar a atenção para os tubarões e raias que estão em perigo. Mas, como suas populações atravessam fronteiras internacionais, com rotas migratórias ao redor do mundo, os tubarões e raias precisam de proteção internacional, não apenas de esforços locais.

É por isso que os acordos comerciais internacionais estabelecidos pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, ou CITES na sigla em inglês, são vitais. A convenção tenta criar restrições globais que impeçam o comércio de espécies protegidas para lhes dar uma chance de sobreviver.

Novas proteções para tubarões e raias

No início de dezembro de 2025, a Conferência das Partes da CITES, composta por representantes de 184 países, votou para iniciar ou expandir a proteção contra o comércio de muitas espécies. As votações incluíram acrescentar mais de 70 espécies de tubarões e raias às listas da CITES para proteção total ou restrita.

As espécies recém-listadas ou atualizadas incluem algumas das mais carismáticas de tubarões e raias.

O tubarão-baleia, um dos únicos três tubarões que se alimentam por filtragem e o maior peixe do oceano, e as mantas e raias-diabo foram incluídos na lista que oferece as restrições mais rigorosas ao comércio, chamada "Apêndice I". Os tubarões-baleia estão em risco devido à pesca excessiva e também por serem atingidos por navios. Como se alimentam na superfície, perseguindo a proliferação de zooplâncton, esses gigantes do oceano podem ser atingidos por navios, especialmente agora que esses animais são apontados como uma "atração turística imperdível".

Uma raia-manta nada com a boca aberta. É possível ver a estrutura das guelras no interior
Uma raia-manta nada com a boca aberta. É possível ver a estrutura das guelras no interior
Foto: The Conversation
As raias-manta são filtradoras. As suas guelras filtram pequenos organismos da água enquanto nadam.Gordon Flood/Flickr, CC BY

Os tubarões-baleia agora se juntam a esta lista mais restritiva com mamíferos mais conhecidos e fofinhos, como o panda gigante e a baleia azul, e receberão as mesmas proteções ao seu comércio internacional.

Os países membros da CITES concordam com os termos do tratado, portanto, são legalmente obrigados a implementar suas diretrizes para suspender o comércio. Para as restrições mais rígidas, de acordo com o Apêndice I, são necessárias licenças de importação e exportação, só concedidas em circunstâncias excepcionais. As espécies do Apêndice II, que ainda não estão ameaçadas, mas podem vir a estar sem proteções, exigem apenas as licenças de exportação. Mas os termos do tratado são essencialmente só uma estrutura para que cada governo membro implemente a legislação de acordo com suas leis nacionais.

Outro tubarão que se junta à lista do Apêndice I é o tubarão-de-ponta-branca, um elegante nômade oceânico de barbatanas longas que foi pescado até quase a extinção. As populações desse tubarão oceânico, outrora comum, diminuíram 80% a 95% no Pacífico desde meados da década de 1990, principalmente devido ao aumento da pesca comercial.

Um grande tubarão com vários peixes listrados nadando com ele.
Um grande tubarão com vários peixes listrados nadando com ele.
Foto: The Conversation
Um tubarão-de-pontas-brancas-oceânico (Carcharhinus longimanus) nada com peixes-piloto. Os tubarões-de-pontas-brancas estão ameaçados em parte pela demanda por suas barbatanas e pela captura pela pesca comercial.NOAA Fisheries

Anteriormente, os únicos tubarões ou raias listados no Apêndice I eram os peixes-serra, um grupo de raias com uma longa projeção semelhante a uma serra, rodeada por dentes afiados como punhais. Eles já estavam listados como criticamente ameaçados pela Lista Vermelha da IUCN, que avalia o status de espécies ameaçadas e em risco de extinção, mas cabia aos governos propor proteções por meio da CITES.

Outros tubarões que ganharam proteção parcial pela primeira vez incluem os tubarões-gulper de águas profundas, valorizados por seu óleo de fígado usado em cosméticos. As populações de tubarões-gulper foram dizimadas por práticas de pesca insustentáveis mas agora eles serão protegidos pelo Apêndice II.

Foto: The Conversation
Os tubarões-gulper são longos e magros, habitantes de águas profundas, com normalmente com cerca de 1 a 1,6 metro de comprimento.D Ross Robertson/Smithsonian via Wikimedia Commons

As proteções sob o Apêndice II, embora não sejam tão fortes quanto as do Apêndice I, podem ajudar na recuperação das populações. As populações de tubarões brancos, por exemplo, se recuperaram desde a década de 1990 nos Estados Unidos depois de a espécie ser adicionada à lista do Apêndice II em 2005, embora outras populações no noroeste do Atlântico e no Pacífico Sul ainda sejam consideradas localmente ameaçadas de extinção.

O tubarão-cão-cinzento e o tubarão-smooth-hound também foram adicionados à lista do Apêndice II em 2025 para proteção contra o comércio de sua carne e barbatanas.

Várias espécies de peixes-guitarra e peixes-cunha, raias de formato estranho que parecem ter uma mistura de características de tubarões e raias e que foram prejudicadas pela pesca local e comercial, pela caça às barbatanas e pelo comércio, receberam a designação "cota zero" da CITES para restringir temporariamente todo o comércio das espécies até que suas populações se recuperem.

Um peixe com cabeça triangular e corpo longo que parece uma mistura entre uma raia e um tubarão.
Um peixe com cabeça triangular e corpo longo que parece uma mistura entre uma raia e um tubarão.
Foto: The Conversation
Um peixe-guitarra do Atlântico (Rhinobatus lentiginosus) nada no Golfo do México.Laboratório SEFSC Pascagoula; Coleção de Brandi Noble/Flickr, CC BY

Essas proteções globais aumentam a conscientização sobre as espécies, impedem o comércio e a exploração excessiva e podem ajudar a evitar a extinção das espécies.

Espécies raramente vistas

Em todo mundo, existem hoje cerca de 550 espécies de tubarões e cerca de 600 espécies de raias (ou batoides), parentes dos tubarões com corpo achatado.

Muitas dessas espécies sofrem com o anonimato: a maioria das pessoas não está familiarizada com elas, e os esforços para proteger esses habitantes mais obscuros e menos fofinhos dos oceanos têm dificuldade em chamar a atenção.

Então, como convencer as pessoas a se importarem o suficiente para ajudar a proteger animais que elas nem sabem que existem? E podemos implementar proteções globais quando a maioria das interações entre tubarões e humanos é geograficamente limitada e muitas vezes sustenta a subsistência das comunidades locais?

Aumentar a conscientização sobre as espécies oceânicas em risco, incluindo o compartilhamento de conhecimento sobre por que seus números estão diminuindo e os papéis vitais que desempenham em seu ecossistema, pode ajudar.

As novas proteções para tubarões e raias sob a CITES também oferecem esperança de que mais regulamentações globais protegendo essas e outras espécies de tubarões e raias sejam implementadas.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Gareth J. Fraser é professor associado da University of Florida e recebe financiamento da National Science Foundation (NSF).

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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