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Opinião: Resolução da ONU fortalece urgente luta contra o antissemitismo

21 jan 2022 - 08h17
(atualizado às 08h20)
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Oitenta anos após a Conferência de Wannsee, resolução faz justiça à realidade atual, na qual a negação do Holocausto se espalha como erva daninha nas redes sociais, opina a jornalista Lisa Hänel.A resolução da ONU adotada nesta quinta-feira (20/01) em Nova York pode certamente ser considerada histórica: somente uma vez as Nações Unidas aprovaram uma resolução iniciada por Israel — em 2005, quando a ONU designou o 27 de janeiro, data da libertação do campo de concentração de Auschwitz, como o Dia Internacional da Memória do Holocausto.

Fotos de sobreviventes do Holocausto na sede da ONU em Nova York
Fotos de sobreviventes do Holocausto na sede da ONU em Nova York
Foto: DW / Deutsche Welle

Desde então, a ONU tem sido repetidamente criticada porque nenhum outro país-membro está sujeito a tantas resoluções condenatórias quanto Israel. Mais do que a Síria, a Coreia do Norte e o Irã juntos.

Tanto mais surpreendente, portanto, que a Assembleia Geral adote uma resolução, apresentada em conjunto por Israel e Alemanha — outro sinal histórico e simbólico —, que contenha palavras claras contra a negação e a relativização do Holocausto.

Logo não haverá mais sobreviventes

O ponto central é que a resolução e os oradores da Assembleia Geral não olham apenas para o passado, mas também para o presente e para o futuro. Uma das frases mais impactantes da resolução diz: "Ignorar os fatos históricos desses terríveis eventos aumenta o risco de que eles se repitam". Isso vai ao cerne do problema na era digital, em que prosperam notícias falsas, mentiras e relativização.

A resolução faz assim justiça à realidade do século 21. Uma realidade que previsivelmente terá que passar sem os sobreviventes do Holocausto; uma realidade na qual a negação da Shoah no Facebook cresce como uma erva daninha, e os jovens têm cada vez menos conhecimento sobre o genocídio dos judeus da Europa. Assim, a resolução convida os Estados-membros da ONU a desenvolverem programas educacionais e recomenda a definição de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA) para esse fim.

Isso também é surpreendente. A definição da IHRA tem sido criticada repetidas vezes, sobretudo por representantes da cultura e das artes, com o argumento de que ela permite muito poucas críticas a Israel. Isso fez com que a luta contra o antissemitismo — especialmente contra o que atinge diretamente Israel — fosse tornada quase impossível também por causa do uso de uma definição enfraquecida de antissemitismo. O compromisso de 114 Estados-membros da ONU com a IHRA deverá fortalecer a definição e, portanto, também a luta contra o antissemitismo.

Desafios do presente

A resolução chega num momento altamente simbólico: na data da Conferência de Wannsee, onde o caráter sistemático e deliberado do genocídio dos judeus europeus fica comprovado. É um sinal poderoso que, 80 anos após esse evento, nações de todo o mundo se comprometam não apenas a reconhecer esse crime e a respeitar os que foram assassinados, como também a enfrentar ativamente todos os desafios dos dias atuais para evitar que algo semelhante volte a acontecer.

Um desses desafios atuais se manifestou no próprio debate: o Irã foi o único país da comunidade internacional a explicitar por que não concorda com a iniciativa lançada por Israel e pela Alemanha. Assim, a resolução também deve ser um chamado às próprias Nações Unidas para que apontem os limites aos países-membros onde o antissemitismo é prescrito pelo Estado.

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Lisa Hänel é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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