PUBLICIDADE

Opinião: A absurda represália de Trump contra as redes sociais

29 mai 2020 - 12h34
Compartilhar
Exibir comentários

Advertência contra tuítes mentirosos do presidente dos EUA desencadeou um decreto que ameaça o futuro das redes sociais - em nome da liberdade de expressão. Seria risível, se não fosse tão sério, opina Carla Bleiker.O presidente americano, Donald Trump, está envolvido em mais uma guerra mesquinha na internet. Desta vez, quem atraiu sua ira foi o Twitter, o veículo que ele mais usa para comunicar. No passado, já se queixara diversas vezes de que a plataforma cercearia a liberdade de usuários conservadores, e agora ela é alvo de sua agressão política mais recente. Na noite de quinta-feira (28/05), Trump assinou uma ordem executiva questionando direitos importantes das redes sociais.

Um dos pontos principais visa uma lei que protege Twitter, Facebook e companhia de ações jurídicas, ao eximi-las de responsabilidade por conteúdos postados pelos usuários. Agora Trump coloca em questão essa imunidade. Caso faça passar a nova norma, as redes terão que controlar com muito mais rigor o que é publicado em suas páginas, tornando praticamente inevitável uma censura de fato.

Ironicamente, isso poderia afetar precisamente tuítes, diga-se, "exaltados" como os do presidente. Porém ele parece não ter refletido sobre a questão. Seria risível, se não fosse tão sério.

"Um pequeno punhado de monopólios de mídia social controla uma vasta porção de toda a comunicação pública e privada nos Estados Unidos", alegou Trump ao apresentar o decreto na Casa Branca. "Elas têm tido poderes para censurar, restringir, editar, moldar, esconder e mudar virtualmente qualquer forma de comunicação entre cidadãos ou grandes audiências públicas."

Ele prometeu cuidar para que essas redes não recebam mais verbas dos contribuintes, e não permitir que elas continuem aterrorizando os cidadãos americanos.

O pavio da polêmica foi uma advertência anexada pelo Twitter a duas mensagens em que Trump esbravejava contra a votação pelo correio. Os usuários que clicassem no link recebiam a explicação de que o voto postal está longe de ser tão passível de fraude quanto o bilionário afirmava.

É claro que este não gostou nem um pouco de ter suas afirmações falsas expostas publicamente - ainda mais no veículo em que até agora tem podido difundir, livremente, ódio, meias verdades e inverdades.

Agora o presidente aproveita essa suposta ofensa pessoal como pretexto para investir contra as redes sociais, afirmando que elas sempre teriam tomado partido contra políticos conservadores! E isso vindo de um homem que, como nenhum outro político, utiliza o Twitter para suas tiradas de ódio contra quem pense diferente. O absurdo não tem limites.

Deixando de lado o alarde trumpista, contudo, está na hora de Twitter, Facebook e companhia se perguntarem como vão lidar com afirmativas políticas falsas de seus usuários, em especial às portas de um evento como a eleição presidencial americana. No último pleito, as mentiras propagadas no Facebook contribuíram para a derrota da democra Hillary Clinton.

Não foi surpresa a reação de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, à briga com o Twitter, dizendo não ver que seja responsabilidade das redes sociais verificar a veracidade de declarações políticas. No entanto, para ter eleições justas, advertências como as anexadas aos tuítes de Trump são de valor inestimável. O Twitter não deveria dar fim ao fact checking, mas sim ampliá-lo. A políticos de todas as facções.

Carla Bleiker é correspondente da DW em Washington.

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube

| App | Instagram | Newsletter

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade