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Olavo de Carvalho externou críticas a Bolsonaro antes de morrer

Apesar das homenagens póstumas do governo de Jair Bolsonaro, o filósofo vinha tornando públicas críticas ao presidente da República antes de pegar covid-19 e morrer nos Estados Unidos

26 jan 2022 - 11h55
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A morte do escritor Olavo de Carvalho nesta segunda-feira, 24, levou o presidente Jair Bolsonaro a decretar luto oficial de um dia em todo o País. O governo também emitiu nota oficial para lamentar o falecimento do ideólogo, que exerceu grande influência na formação da chamada "nova direita", que impulsionou a eleição do presidente. Contudo, a relação entre o escritor e o chefe do Executivo se deteriorou ao longo da gestão, após o pleito de 2018.

Em uma de suas últimas aparições, Olavo chamou o mandatário de "covarde" e apostou que "a briga está perdida" em 2022.

Extremista, Olavo inspirou o que se convencionou chamar de "bolsonarismo raiz" e tinha grande influencia sobre a ala ideológica do governo, que ganhou destaque nos ministérios da Educação e das Relações Exteriores, por exemplo. No início do mandato, Bolsonaro indicou dois ministros bastante próximos ao escritor — Ernesto Araújo, ex-titular das Relações Exteriores, e Ricardo Vélez, ex-chefe da Educação.

Olavo de Carvalho recebeu homenagens do governo, mas direcionou diversas críticas ao presidente Bolsonaro nos últimos anos.
Olavo de Carvalho recebeu homenagens do governo, mas direcionou diversas críticas ao presidente Bolsonaro nos últimos anos.
Foto: Reprodução/YouTube / Estadão

Poucos meses após a vitória de Bolsonaro, Olavo já citava críticas à gestão do presidente. Em março de 2019, o escritor compareceu a um evento organizado pelo ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon. Lá, afirmou que amava o chefe do Planalto, mas que o governo ia mal por estar cercado de militares "traidores" e chamou o vice-presidente Hamilton Mourão de "idiota".

Em maio de 2020, conforme o governo ia acumulando polêmicas, Olavo afirmou à BBC Brasil que era possível chamar Bolsonaro de "burro". Disse, porém, que ele não seria ladrão. Em junho daquele ano, acrescentou os adjetivos "fraco" e "covarde" ao se referir presidente.

"Quer levar um processo de prevaricação da minha parte? Se esse pessoal não consegue derrubar o governo, eu derrubo", escreveu no Twitter. Na mesma ocasião, disse que continuava ao lado do presidente, mas que não traria mais "palavras doces".

Já em outubro daquele ano, Olavo tornou-se alvo do perfil anti-fake news Sleeping Giants, que fez uma campanha contra o escritor e provocou 250 financiadores a dissociarem suas marcas dos conteúdos publicados por ele. No mês seguinte, voltou a atacar Bolsonaro: "Se você não é capaz nem de defender a liberdade dos seus mais fiéis amigos, renuncie e vá para casa", publicou. Em outra ocasião, defendeu que o presidente era um "fracasso" na luta contra o comunismo.

No ano passado, Olavo protagonizou vários embates com o governo e criticou Bolsonaro. Chegou a dizer a aliados, em mais de uma ocasião, que se sentia abandonado pelo presidente. O escritor dizia estar decepcionado com o mandatário por considerar ter sido usado por ele como uma espécie de "garoto propaganda" na campanha.

No mês passado, Olavo voltou a chamar o presidente da República de "covarde", "prefeito do interior" e apostou que ele não terá chances no pleito deste ano. Comentando a eleição deste ano, o escritor afirmou que a "briga já está perdida", mas que defendia voto em Bolsonaro por "falta de opção".

Diante do falecimento do escritor, esta foi a segunda vez que Bolsonaro decretou luto oficial desde o início do governo. A primeira foi em junho do ano passado, quando morreu o ex-vice-presidente Marco Maciel. Na ocasião, o luto foi de três dias. Na nota de pesar divulgada pelo Palácio do Planalto, o escritor é definido como "intransigente defensor da liberdade", que deixa como legado "um verdadeiro apostolado a respeito da vida intelectual".

Estadão
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