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Prefeito preso na Itália criou até 'moeda' para migrantes

Domenico Lucano foi detido sob acusação de favorecimento à imigração clandestina e irregularidades em licitações para coleta de lixo

2 out 2018 - 12h56
(atualizado às 13h16)
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O prefeito da cidade italiana de Riace, Domenico Lucano, foi preso nesta terça-feira (2) sob a acusação de favorecimento à imigração clandestina e de irregularidades em licitações para coleta de lixo.

A prisão foi efetuada pela Guarda de Finanças, a pedido do Ministério Público, e Lucano foi colocado em regime de detenção domiciliar. Segundo os investigadores, o prefeito facilitava casamentos forjados entre imigrantes e cidadãos italianos para garantir a permanência de estrangeiros em situação irregular no país.

Moeda criada por Domenico Lucano, prefeito de Riace, para migrantes
Moeda criada por Domenico Lucano, prefeito de Riace, para migrantes
Foto: ANSA / Ansa

Em uma interceptação telefônica, Lucano fala com uma nigeriana a quem havia sido negada a permissão de estadia na Itália em três ocasiões. "Você só tem a possibilidade de voltar à Nigéria, então o único caminho possível é que você se case. Eu sou responsável pelo escritório de registro civil, posso casá-la imediatamente com um italiano. Faça uma declaração na qual você diga ser livre. Como você é solicitante de refúgio, não vou examinar seus documentos, porque alguém que foge de guerras não tem documentos", disse.

Segundo o Ministério Público, o prefeito de Riace e sua esposa, Tesfahun Lemlem, também investigada, transgrediam normas civis, administrativas e penais com "desenvoltura". Além disso, Lucano teria agido de forma "fraudulenta" ao conceder o serviço de coleta de lixo a duas cooperativas, Ecoriace e L'Aquilone, sendo que esta última empregava imigrantes, entre 2012 e 2016.

"Eu vou contra a lei justamente para desrespeitar essas normas estúpidas", disse Lucano em uma conversa telefônica interceptada pelos investigadores.

Perfil

Riace é uma cidade de 2,3 mil habitantes situada na região da Calábria, o "bico da bota" que representa o mapa italiano. Ela é governada desde 2004 por Domenico Lucano, ativista conhecido internacionalmente por ajudar migrantes e refugiados.

Seu empenho em defesa do acolhimento o fez entrar, em 2016, na lista dos 50 maiores "líderes" do mundo da revista "Fortune". Em seus mandatos, ofereceu casas abandonadas - em um vilarejo que sofre com o esvaziamento demográfico - e treinamento profissional a migrantes, ajudando a recuperar a economia local.

Uma das iniciativas promovidas por Lucano é uma moeda voltada exclusivamente a migrantes. O projeto foi realizado alguns anos atrás e previa a emissão de bônus pela Prefeitura para que estrangeiros comprassem itens de primeira necessidade em lojas conveniadas.

Os donos dos negócios depois eram reembolsados pelo poder municipal, com fundos enviados pela União Europeia para políticas de acolhimento. Nas cédulas, o prefeito mandou estampar ícones como Che Guevara e Martin Luther King.

"Quero ver o que dirão Saviano e os bonzinhos que querem encher a Itália de imigrantes", ironizou o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, artífice do endurecimento das políticas migratórias do país.

O escritor Roberto Saviano, que é processado por Salvini por tê-lo chamado de "ministro do submundo", não demorou a responder. "Esse governo, por meio de uma investigação da qual Mimmo [apelido de Lucano] saberá se defender, cumpre o primeiro ato rumo à transformação definitiva da Itália em um Estado autoritário", acusou o autor de "Gomorra".

De acordo com Saviano, as ações do prefeito de Riace tinham como objetivo a "desobediência civil", e não o lucro.

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